quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Os nossos avós eram cientistas


Andei a semear nabos e fi-lo à maneira antiga; empalhados com caruma (na minha infância também usávamos a palha das enxergas, pois havia muita, da mudança que tínhamos feito em agosto).
Esta maneira antiga de cultivar previne a erosão dos terrenos, pelo vento e pela águas das chuvadas torrenciais, e conserva a humidade da terra, necessária à germinação. E ainda protege dos pardais as plantinhas acabadas de nascer,
Este é um saber de experiência feito, pois, como escreveu Duarte Pacheco Pereira, um dos grandes navegadores das viagens marítimas dos portugueses no século XV e provável descobridor do Brasil, a experiência é a mãe de todas as coisas.
Por estes dias também se tem andado em volta dos mostos das uvas, a observar a sua fermentação, isto é, a transformação dos açúcares das uvas em álcool. E para alguns, a seguir virá a produção da aguardente, em que a parte líquida dos resíduos da produção do vinho passará do estado líquido ao gasoso, sofrendo de seguida uma condensação para voltar ao estado líquido.
Tudo isto é ciência. Estes primeiros dias mais frescos, depois de tantos dias quentes, inspiravam os nossos mais velhos,  preocupados em preparar-se convenientemente para a longa noite do inverno.

José Teodoro Prata

Um comentário:

José Barroso disse...

Não fui a tempo da atafona (post anterior); já vi algumas. Mas só queria dizer que existem várias pedras na Senhora da Orada parecidas com esta (mas muito maiores), onde assentavam as seiras no lagar de azeite de varas. O nome destas pedras, segundo a Net, vem do árabe 'al qirq' (e a partir daqui as corruptelas são mais que muitas): algarbe (que tem isto a ver com Al Garbe, o Ocidente, na mesma língua?), albergue, alvergue, algrabe, algrebe, alguebre, alguel, alguer, alguerbe, alguergue, alguermi, arguel. Nenhuma repetida.
Lá criativos somos nós!
Quanto ao post de hoje, sim, para semear cereais e leguminosas não é preciso lavrar a terra muito profundamente para evitar erosão de solos. Mas sempre será conveniente remexê-la para cobrir, ainda que de forma tênue, a semente, sob pena de esta não germinar.
Lembro-me de o meu avô semear centeio (cujo pão negro até amargava um pouco!) em certos bocados da Serra, mas fora das hortas que eram precisas para outras culturas. Bastava passar com a grade, a arranhar o solo, espalhar o grão e voltar a passar com a grade. Hoje isso não era possível sem arrotear de novo o terreno porque esses bocados estão todos cheios de mato!
Curioso, era dar-se ao centeio o nome genérico de "pão". E isto porque aos outros, que também davam para pão, dava-se-lhes os nomes respetivos: trigo, milho. Outras gramíneas, cevada, aveia, costumavam a ser usadas como alimento animal (em verde ou em grão).
Sim, à sua maneira, os nossos avós eram cientistas, mas apenas com o saber prático, quotidiano e popular. Por isso, às vezes, estavam errados. Daí que os gregos antigos tivessem distinguido entre opinião (doxa) e ciência (episteme).
Matéria a discutir.
Abraços, hã!
JB