Acabei ontem a azeitona. Foram dias de tal suadouro, que só
apetecia cantar Ó que calma vai caindo / sobre as gentes do campo… Mas,
como continuar Por cima ceifa-se o trigo / por baixo fica o restolho…, se
eu andava empoleirado nas oliveiras a ripar azeitona?!
A canção certa seria A azeitona já está preta / já se pode
armar aos tordos..., mas cantá-la naquele ritmo apressado e folgazão
debaixo de tal calmaria?! Nem poderia gritar Ó João, dá cá o podão! Para
quê? Pra malhar aqueles que além vão! Pois se não se avistava vivalma!
Verdade, verdadinha, a canção que andei sempre a cantar foi
mesmo Ó que calma vai caindo, mentalmente claro, não queria que
me chamassem maluco! Como escreveu Aquilino Ribeiro, na primeira página do
Malhadinhas, «…os dias de hoje não os conheço.»
Porque comecei tão cedo? Medo da gafa que aí vem e
indisponibilidade na próxima semana.
Nota: a gafa é uma doença que provoca o apodrecimento da azeitona, devido a um fungo que se desenvolve em ambientes quentes e húmidos.
José Teodoro Prata

2 comentários:
E parece que foi ontem que andávamos ao rebusco de mãos enregeladas!...
Tinha razão o Aquilino Ribeiro, e já o tinha Luís de Camões (Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades), cujas preocupações iam para além da mudança no tempo atmosférico. As nossas, acho que continuam a alargar-se numa dimensão que julgávamos improvável há alguns anos.
Andávamos ao rebusco com as mão engadanhadas (entorpecidas pelo frio)...
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