Alguns anos atrás, o Carnaval da Partida
era muito divertido!
Eu fiz muitas perguntas à minha avó e
ela contou-me muitas coisas engraçadas!
Contou-me que, antigamente, os rapazes
andavam quinze dias antes do Carnaval, a roubar os vasos das flores às
mulheres. Estes vasos eram metidos, na noite de Carnaval, nas escadas da capela
de São Sebastião. Também iam aos palheiros de algumas pessoas, tirar a palha
com que faziam os entrudos. Os entrudos eram uns bonecos, que enchiam de palha
e depois vestiam com roupas de pessoas. Logo a seguir dependuravam-nos no cimo
de um pau comprido.
Uma tradição muito gira que a minha avó
contou, era que, os rapazes durante o ano todo, escreviam num caderno as coisas
engraçadas que aconteciam. Na noite de Carnaval iam para o telhado da capela
gritá-las, com um funil, para se ouvir e toda a aldeia. No final acabavam
sempre da mesma forma:
- É verdade ou não é, camaradas?
E os outros rapazes respondiam:
E os outros rapazes respondiam:
- É verdade, é verdade, mais do que verdade!
Esta tradição chamava-se "chorar o
entrudo".
Durante a noite, os rapazes faziam
asneiras, tais como: metiam farinha nas motas, trancavam as portas das casas
com arames…
Os mais pequenos vestiam-se com roupas
engraçadas e iam de casa em casa, para lhes darem uma moeda ou uma guloseima.
Durante a manhã de Carnaval, as mulheres
lá iam buscar os seus vasos e olhavam para o entrudo. À tarde, os rapazes
levavam o entrudo numa carroça pelas ruas, e todos gritavam:
- Ai, amigo entrudo, que já morreste!
A seguir, faziam uma fogueira e queimavam-no. E as pessoas da Partida fingiam que choravam.
A seguir, faziam uma fogueira e queimavam-no. E as pessoas da Partida fingiam que choravam.
Filipa Nunes António
O texto do Ernesto já tinha
sido publicado (Caqueiras), mas é sempre bom recordar.
Em conversa com algumas
pessoas do Lar da Misericórdia sobre o Carnaval de outros tempos, a maior parte
lembra-se bem do jogo da caqueira e da “brincadeira” de atirar com coisas para
dentro das casas dos vizinhos e desatar a fugir.
Mas lembram-se também de como
gostavam de enfarruscar e enfarinhar os mais desprevenidos ou assustar a
cachopada com grandes dentes de cebola e uma chiba nas costas.
Alguns falam ainda dos bailes
e das rodas onde, coisa rara, podiam misturar-se e dar a mão, cachopas e
cachopos.
Mesmo os que não eram muito
de Entrudos dizem que iam ao Desagravo e depois espreitavam só um poucochinho
os tocadores de concertina ou harmónica que andavam pelas ruas seguidos pelo
povo.
Há ainda quem fale da
barrigada de cozido de espigos com batatas, toucinho, chouriça, farinheira e
morcela, para tirar a barriga de misérias antes do jejum, ainda mais severo, da
Quaresma.
Outros
tempos!
...e folias
Deixo-vos uma lista de partidas e brincadeiras de carnaval de
que os mais velhos ainda se lembram:
- Mascarava-me,
dançava e andava atrás das cachopas a deitar-lhes papelinhos ou farinha;
- Vestia-me de homem, fazia
uma chiba nas costas e enfarruscava a cara para meter medo aos cachopitos;
- Enchia uma lata com
laranjas e deitava-a para dentro da taberna, e depois fugia;
-Vestia-me de entrudo
e fazíamos comédias. Também gostava de contradanças e rodas com rapazes e
raparigas;
- Gostava de jogar à
caqueira;
- Na minha terra,
juntavam-se dois ou tês tocadores de concertina e andávamos pelas ruas a cantar
e a dançar;
- No Sobral, lembro-me
que arranjavam uma padiola com tábuas, metiam lá em cima um homem com dentes de
cebola a tocar harmónica, e conforme tocava mostrava os dentes. Toda a gente se
ria, mas os cachopitos fugiam com medo;
- A minha mãe não nos
deixava brincar ao carnaval, mas nós vínhamos à Vila ao Desagravo e sempre
espreitávamos os entrudos;
- Na minha casa
cozíamos uma panela de espigos com batatas, chouriça, morcela e farinheira. Às
vezes até fazia uma panela de arroz doce.
- Vinha gente de todo
o lado e era uma alegria!
M. L. Ferreira