Dário Inês
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
domingo, 14 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Num passeio à Orada
A caminho da ermida
Espelho de água
Recanto de paz e oração
No terreiro da Senhora
À fresca
Ribeiro de águas revoltas
No regresso
Luzita Candeias e M. F. Ferreira
sábado, 6 de abril de 2013
Primavera
Ontem fez um frio de rachar, mas a meteorologia previu uma vaga de frio para hoje e amanhã. Afinal esteve um dia primaveril. No Caldeira as cerejeiras já estão floridas, mas no Ribeiro Dom Bento só agora desabrocham os primeiros botões.
A Libânia mandou-me outra primavera, esta de Constância, mas igualmente bonita.
E uma olaia, para matar saudades da Praça da nossa meninice.
José Teodoro Prata e M. L. Ferreira
quinta-feira, 4 de abril de 2013
O nosso Fernando
Há dias, revisitando histórias mais antigas deste
blogue, vi uma referência ao Fernando a propósito do leite que (não) fugiu.
Trata-se de uma situação quase anedótica, mas que
revela bem do zelo que o Fernando, já na altura, punha nas coisas que fazia.
Nunca me esquecerei da surpresa que senti, há muito
anos, quando o vi com o seu ar compenetrado, óculos de sol e boné à maneira, ajudando
a regular o trânsito na saída da praia de Carcavelos. Quem não o conhecesse,
julgaria que se tratava de um profissional experiente e muito competente.
Passado muito tempo resolvi dar um passeio pelas
nossas charnecas das quais apenas guardava memórias muito distantes (só me
lembro de ir uma vez à Partida por altura do casamento de uma prima do meu pai,
e outra vez ao Violeiro com a minha mãe e as minhas tias para levarmos as fitas
com que mandavam tecer as mantas de trapos). A certa altura, na estrada entre
os Pereiros e a Partida, lá está novamente o Fernando, trajado a rigor, pronto para
orientar quem necessitasse de ajuda. O empenho e concentração que lhe adivinhei
naquele dia e num local onde só passava um carro, de tempos a tempos, eram os
mesmos que lhe vi, anos antes, no meio do trânsito intenso da marginal de
Cascais, numa tarde de Verão.
Mas foi há cerca de um ano, aquando da festa do São Tiago que o Fernando me deu a maior lição de civismo. Tinha ouvido dizer que o
nosso rancho ia atuar na Partida nesse dia e convenci o meu marido a irmos até
lá para assistir a essa atuação. Quando chegámos à entrada da aldeia não vimos
ninguém na estrada que nos pudesse indicar o local da festa e enquanto nos
decidíamos pelo caminho a tomar vimos aparecer, ao longe, vindo na nossa
direção, uma pessoa que nos pareceu ser um GNR. Ficámos mais tranquilos e fomos
caminhando ao seu encontro. Quando nos aproximámos um pouco mais, vimos que
era o Fernando. Caminhava em passo decidido, o olhar sempre em frente, e trazia
uma garrafa de cerveja vazia em cada mão. Ficámos um bocadinho à conversa com
ele e, às tantas, em tom de brincadeira perguntámos-lhe se duas cervejitas não
eram bebida a mais. Ele, com o seu ar calmo, respondeu-nos mais ou menos isto:
“Não senhor, eu não bebi nada. Vossemecês querem lá ver, foram uns homens que
estiveram a beber lá ao pé da capela e aventaram as garrafas e eu trouxe-as
para as botar no caixote do lixo”. Fiquei sem palavras!
A última vez que o vi foi em Junho ou Julho do ano
passado. Fui à Senhora da Orada ao final da tarde e lá estava o Fernando
sentado numa pedra junto à fonte. Para além de cansado, pareceu-me triste e
muito agitado. Estivemos um bocado à conversa e contou-me que tinha saído de
casa de manhã, atravessou a serra toda a pé e, pelo que percebi, durante o dia
todo só tinha comido uns abrunhos que uma mulher lhe deu pelo caminho. Contou-me
também que tinha vindo rezar porque a sobrinha andava muito triste, pois o
marido tinha-a deixado. Contava que a Nossa Senhora fizesse o milagre de o
trazer de volta…
Quando me vim embora, insisti para que viesse comigo,
comia qualquer coisa na minha casa e depois levava-o de carro à Partida. Ele
recusou. Disse que voltava outra vez pela serra e num instantinho se punha em
casa.
M. L. Ferreira
M. L. Ferreira
domingo, 31 de março de 2013
Entre iguais
E passou mais uma Páscoa! Este ano com alguma desilusão, pois a chuva não permitiu que as cerimónias tivessem o brilho de outros anos. Parabéns a todos os que trabalharam para isso. Mas o essencial não faltou: a espiritualidade religiosa e familiar. O resto é mesmo acessório, embora às vezes pareça o mais importante. E, nestes tempos em que sofremos devido à ganância e à incompetência de tantos, é bom saber que nem tudo está nas mãos dos poderosos. Páscoas chuvosas já tivemos tantas!
No início destas festividades, organizámos uma tertúlia na "Taberna do Raposo" e alguém comentou a minha história da sementeira das batatas na Quinta-Feira Santa com uma provocação: falta de jeito. Como terá sido a segunda pessoa a duvidar das minhas capacidades para os trabalhos agrícolas, deu-me o mote para escrever esta história em que, pela primeira vez, aos 22 anos, isso me aconteceu.
O meu primeiro ano de trabalho, como professor, foi no Lombo do Moleiro, freguesia da Serra d´Água, ilha da Madeira. Trabalhei muito e gozei pouco, quase sem sair do meu vale encantado. Às vezes o Daniel vinha ter comigo, a falar das coisas da vida. Eu era querido daquelas gentes, quase parecia um deles, e ofereciam-me copos, pêros e espigas de milho.
No início destas festividades, organizámos uma tertúlia na "Taberna do Raposo" e alguém comentou a minha história da sementeira das batatas na Quinta-Feira Santa com uma provocação: falta de jeito. Como terá sido a segunda pessoa a duvidar das minhas capacidades para os trabalhos agrícolas, deu-me o mote para escrever esta história em que, pela primeira vez, aos 22 anos, isso me aconteceu.
O meu primeiro ano de trabalho, como professor, foi no Lombo do Moleiro, freguesia da Serra d´Água, ilha da Madeira. Trabalhei muito e gozei pouco, quase sem sair do meu vale encantado. Às vezes o Daniel vinha ter comigo, a falar das coisas da vida. Eu era querido daquelas gentes, quase parecia um deles, e ofereciam-me copos, pêros e espigas de milho.
Na primavera
foram ao Pico Ruivo e levaram-me com eles, da Cumeada ao Pico, sempre pelos
picos das montanhas, a encher os olhos de paisagens deslumbrantes. A ida e o regresso
demorou o dia inteiro. Cheguei cansado e adormeci como uma pedra. No dia seguinte, só acordei com o barulho de pancadas por baixo do sobrado da minha casa. Era o
Daniel, com medo que me tivesse acontecido alguma coisa, pois já era meio dia e
eu não dava sinais de mim.
Foi ele que
semanas depois me lançou novo desafio: ir com a família dele a arrancar semilhas,
mas num sítio muito difícil de lá chegar, caminho mau, quase ao pé do penhasco
de onde saía nevoeiro. Partimos de manhã cedo, ele, a mãe, os irmãos mais novos e
tias e primas. Os homens estavam na Venezuela e o pai do Daniel morrera em
França pouco antes da minha chegada.
Seguimos por
veredas sempre a subir, às vezes era preciso agarrarmo-nos aos ramos das
árvores, para impulsionar o corpo para a frente. As semilhas estavam semeadas
em dois leirõezinhos, como degraus, escavados no meio da floresta verde. As
mulheres atacaram com as enxadas e eu a olhar. Ofereci-me para ajudar, mas
olharam-me surpreendidos, por entre risos, ninguém acreditava que um senhor professor
soubesse cavar.
Emprestaram-me
uma enxada, mas era em forma de cunha muito comprida e eu não conseguia que ela
me obedecesse, a fugir para um lado ou para o outro. Mas depressa lhe apanhei o
jeito e calei os risos, já impressionados com a perícia na arte da enxada
do senhor professor de Lisboa (para eles, Lisboa era Portugal continental inteiro).
Ao meio dia,
parámos para almoçar. Estenderam uma toalha por cima da terra cavada e
deborcaram-lhe em cima uma panela de batatas (semilhas) com bacalhau e rama de alho.
Sentaram-se ou ajoelharam-se todos em redor e eu também me ajeitei. Que não, o senhor professor não ia comer assim como eles! Deram-me um prato de cobulo de
batatas com bacalhau, bem regado de azeite, mais um tanoco de pão e um garfo (azeite, prato e garfo eram luxos que tinham levado só para mim). Limpei tudo: quem não é para
comer, não é para trabalhar. Desconheço se eles sabiam este provérbio, mas
ainda me esperava uma tarde de trabalho.
Ao largar,
havia sacas cheias de semilhas para todos os que já tinham corpo para carregar com elas. Eu,
desabituado daqueles caminhos tão difíceis, não tencionava levar nada,
nem eles contavam com isso. Mas a última saca sobrava para uma miúda de tenra
idade e eu tive de fazer o que tinha de ser feito.
Foi uma
descida muito dura e nunca pensei que uma saca de batatas acabasse por pesar
tanto. Em alguns locais, descíamos agachados, seguros nos ramos, quase a arrastar com o rabo no chão do carreiro. Cheguei com as pernas trémulas e zonzo de tanto esforço, já no escuro do anoitecer. Vida dura a daqueles camponeses.
José Teodoro Prata
José Teodoro Prata
quinta-feira, 28 de março de 2013
O nosso falar: pão seco
Pão seco é o antónimo de pão com conduto, mais duas expressões dos tempos da fome, que foram todos menos os últimos 30/40 anos.
O conduto era o que acompanhava o pão, sobretudo carne de porco, mas também azeitonas, queijo fresco para alguns, uma sardinha frita ocasionalmente e pouco mais, pois quase nada mais havia para comer.
Muitas vezes comia-se o pão sem nada, o pão seco. Uma cebola crua era um bom acompanhamento, mas nem estatuto de conduto alcançava!
Felizmente, a Páscoa está próxima: tempo de comemorar com manjares deliciosos a ressurreição de Cristo.
José Teodoro Prata
O conduto era o que acompanhava o pão, sobretudo carne de porco, mas também azeitonas, queijo fresco para alguns, uma sardinha frita ocasionalmente e pouco mais, pois quase nada mais havia para comer.
Muitas vezes comia-se o pão sem nada, o pão seco. Uma cebola crua era um bom acompanhamento, mas nem estatuto de conduto alcançava!
Felizmente, a Páscoa está próxima: tempo de comemorar com manjares deliciosos a ressurreição de Cristo.
José Teodoro Prata
segunda-feira, 25 de março de 2013
Bolos da Páscoa
Ingredientes:
farinha, 12 ovos, meio quartilho de azeite, canela em pó, 1 copo pequeno de
aguardente, 1 litro de soro de leite (pode ser substituído por água ou leite
magro) e fermento do padeiro.
Preparação: Batem-se
os ovos e junta-se o azeite, o soro, a aguardente e a canela. Vai-se
acrescentando a farinha com o fermento, amassando sempre, até a massa ficar boa
para fintar. Depois de finta, tendem-se os bolos e cozem-se no forno de lenha.
Consumo: Come-se com queijo fresco de cabra (de ovelha também serve), mas até sem conduto é bom!
José Teodoro Prata
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