Nos anos trinta deste século, um homem de nome António, do Juncal do Campo, encontrou-se surdo e pediu à Nossa Senhora da Orada para o curar.
Prometeu ir, a pé, do Juncal até à Senhora da Orada, durante nove domingos seguidos, uma novena aos domingos; ir de São Vicente e voltar, sem falar, somente, rezar; fazer o caminho, de joelhos, pelas pedras e pelo mato, desde a capela até à cruz, onde apareceu a Senhora, e da cruz até à fonte, onde acabava a reza e a penitência e se banhava.
No último domingo da novena, chegou à fonte e ficou de joelhos a rezar. Pôs a cabeça debaixo da bica, deixou correr sobre os ouvidos e começou a ouvir.
Todos os anos, até morrer, foi em romaria, no dia da festa, agradecer à Senhora da Orada que milagrosamente o curou.
Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999
José Teodoro Prata
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
quarta-feira, 15 de maio de 2013
terça-feira, 14 de maio de 2013
A água da Senhora da Orada 3
Nos anos vinte, uma rapariga do campo encontrava-se paralítica há sete anos. Todos os anos ia com a família à Senhora da Orada pedir a cura. De lá, levavam água da fonte para banhar as pernas. Já desanimados, num ano passava-se o dia da festa e não foram à Senhora. Na hora do almoço, uma filha disse à mãe:
- Comemos primeiro ou vou levar a comida à doente?
- Comemos primeiro e depois vamos fazer-lhe companhia, enquanto ela come! - respondeu a mãe.
Quando comiam, o homem disse para a mulher:
- Fizemos mal não irmos à Senhora da Orada! É que tenho cá uma fé!
Quando o pai acabou de falar, a rapariga apareceu, na cozinha, curada. O pai gritou:
- Milagre da Senhora da Orada!
Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999
José Teodoro Prata
- Comemos primeiro ou vou levar a comida à doente?
- Comemos primeiro e depois vamos fazer-lhe companhia, enquanto ela come! - respondeu a mãe.
Quando comiam, o homem disse para a mulher:
- Fizemos mal não irmos à Senhora da Orada! É que tenho cá uma fé!
Quando o pai acabou de falar, a rapariga apareceu, na cozinha, curada. O pai gritou:
- Milagre da Senhora da Orada!
Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999
José Teodoro Prata
segunda-feira, 13 de maio de 2013
A água da Senhora da Orada 2
Nos inícios do século (XX), um homem do Casal da Serra, trabalhador da Câmara de Castelo Branco, sentiu uma grande dor nos olhos. Foi para casa e quando ali chegou já via mal. Foi ao médico de São Vicente da Beira, que o mandou para o Fundão, a outro médico. A caminho do Fundão, passou pela Senhora da Orada, onde rezou, à porta da capela, para que a Senhora o curasse. Sempre acompanhado por um familiar, foi à fonte da Senhora da Orada, pôs a cabeça debaixo da bica, com a água a cair sobre a vista, durante um pedaço de tempo. A dor foi abrandando. Ao levantar a cabeça, limpou os olhos e recomeçou a ver e a dor desapareceu. Já não foi ao Fundão e contam o facto como um milagre da Nossa Senhora da Orada.
Informador: José de Matos (Casal da Serra)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina na Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999
José Teodoro Prata
domingo, 12 de maio de 2013
A água da Senhora da Orada 1
Inicio hoje uma série de publicações que contam histórias de curas alcançadas graças à água da fonte da Senhora da Orada. A recolha foi de Albano Mendes de Matos (Casal da Serra), que a apresentou em 1998, nas Jornadas de Medicina da Beira Interior. No ano seguinte, o seu estudo foi publicado na revista Cadernos de Cultura, n.º 13, novembro de 1999.
Um rapaz de Pera do Moço, em Escalos de Cima, nos finais do século passado [século XIX], não podia comer. Ao querer engolir, engasgava-se e o caldo saía-lhe até pelo nariz. Como a Nossa Senhora da Orada tinha sido muito nomeada por aqueles sítios, a mãe levou-o num burro até à capela da Senhora, onde rezaram. O rapaz banhou-se nas águas correntes da fonte, as "águas vivas", e bebeu água, de vez em quando. Passados uns dias, o rapaz começou a comer de tudo e bem.
Informadora: Etelvina Teodoro (A ti Etelvina do Casal da Fraga)
José Teodoro Prata
Um rapaz de Pera do Moço, em Escalos de Cima, nos finais do século passado [século XIX], não podia comer. Ao querer engolir, engasgava-se e o caldo saía-lhe até pelo nariz. Como a Nossa Senhora da Orada tinha sido muito nomeada por aqueles sítios, a mãe levou-o num burro até à capela da Senhora, onde rezaram. O rapaz banhou-se nas águas correntes da fonte, as "águas vivas", e bebeu água, de vez em quando. Passados uns dias, o rapaz começou a comer de tudo e bem.
Informadora: Etelvina Teodoro (A ti Etelvina do Casal da Fraga)
José Teodoro Prata
sábado, 11 de maio de 2013
quarta-feira, 8 de maio de 2013
A cabeça de porco
Há umas semanas contei-vos a minha participação na arranca das semilhas, na Madeira. Hoje deixo-vos a narração da viagem para lá.
Passara um verão abrasador a remendar estradas, à
manivela de uma caldeira de alcatrão a ferver. Naquela sexta-feira, dia 29 de setembro de 1979, pedi ao tio Chico Bernardino que me deixasse na Oriana, para despejar
a presa do Calmão. Desci da camioneta e tinha a minha irmã Luzita à espera.
“Chegou uma carta da Madeira, tens de te apresentar
na segunda-feira.”
Dei um grito do tamanho do mundo e atirei o saco da
merenda o mais alto que consegui. Reguei o milho e fui para casa. Disse aos
meus pais que tinha de partir no dia seguinte, na carreira da manhã. Tomei
banho, ceei, preparei as coisas e ainda fui telefonar à minha namorada e despedir-me
dos amigos.
Bem cedo, os meus pais deram-me o dinheiro que
tinham e parti. De mala às costas, desci a quelha e depois as ruas da Vila,
direito à paragem da camioneta. Em Castelo Branco, abracei a minha namorada,
beijei-a e apanhei o comboio. Cheguei a Lisboa e fui ver as minhas irmãs. Depois,
no aeroporto, tirei bilhete para o Funchal, com a mesma tranquilidade com que alguns
portugueses, no século XVI, apanhavam a nau da carreira da Índia apenas com uma
regueifa debaixo do braço, para uma viagem de seis meses.
O avião levantou voo. Vi Lisboa e depois o mar, cada
vez mais fundo e escuro. A hospedeira explicava como fazer em caso de acidente
e eu aflito, sem conseguir compreender tudo. Valeram-me as versões em inglês e
francês, não que eu percebesse o que dizia, mas por umas tirava outras e assim
esclareci as dúvidas que me tinham ficado. Ia junto à janela e olhei para fora.
O mar era já um buraco negro. Se o avião caísse, ficava tudo desfeito e de nada
valiam os coletes e o oxigénio. Como o que não tem remédio remediado está,
recostei-me no assento e descansei.
O meu lugar ficava no fundo da fila de bancos, um
espaço aberto, apenas com dois bancos, um de frente e outro de costas para a
janela. No outro lugar sentava-se uma senhora meio velhota, cheia de sacos de
plástico pelo chão. Contou-me que ia ver o filho, mecânico, a viver no Funchal.
Eu também lhe disse ao que ia. Ofereci-me
para a ajudar com os sacos, pois só tinha um, além da mala no porão. Ela
agradeceu, mal podia com eles. No mais pesado levava uma cabeça de porco, para
comer com o filho.
À chegada, era noite cerrada e o meu coração
inquietou-se. No desconhecido, ainda vá lá, mas de noite… Apanharia um táxi
para o Funchal e ele me arranjaria um hotel.
Aterrámos. Peguei nos sacos da senhora que no sítio
das malas me apresentou o filho, a quem contou a minha ajuda com a cabeça de
porco. Fez questão que ele me desse boleia para o Funchal e o meu coração, tão
apertadinho, ficou um pouco maior.
Seguimos
por uma estrada estreita e sinuosa. O filho tinha um bigode bem mais farto do
que o meu e cabelo negro encaracolado. Era baixo e um pouco entroncado. Quis
saber de onde era, eu próximo de Castelo Branco e ele o mesmo de Coimbra. No Funchal,
não me largou sem ter onde ficar. Mas os hotéis estavam todos cheios e andámos
mais de meia hora às voltas. Com pena dele, já me arrependia de ter aceite a
boleia. Finalmente encontrou um hotel com vaga, caro, mas era o que havia.
Chamava-se EL GRECO. Dormi inquieto, acordei bem
cedo e saí à procura do lugar de onde partiam as camionetas para a Serra
d´Água. Estavam ali bem perto, junto ao mar, mas chamavam-se horários. A
partida não tardou. Andei toda a manhã num sobe e desce, espantado com o
condutor que parecia bêbado, no falar e nas maneiras, mas conduzia o autocarro
com uma perícia que nunca antes vira.
As encostas eram verdes do mar aos cumes. Junto à
água cresciam bananeiras, a meio da encosta havia canas-de-açúcar, mais acima as
vinhas e no alto matagais. As casas salpicavam a paisagem e por elas parávamos
constantemente. Não existiam ruas, apenas veredas de subir e descer ladeadas de
vegetação.
Chegámos à Ribeira Brava e parámos quinze minutos:
cargas, descargas, copos e partida. Alguns rapazes vieram à porta da taberna
gritar ao motorista, voltaram para empinar o último copo e entraram com o
horário já em movimento. A meio da Serra d´Água tive ordem de descida.
Perguntei se era ali o Lombo do Moleiro, mas o lugar chamava-se Pomar e mandaram-me
seguir a estrada até ao fundo do vale.
O sítio era o paraíso. A aldeia situava-se num beco
sem saída, com encostas a pique em toda a volta, menos por onde eu entrara. No
alto, havia um penhasco enorme, onde constantemente nascia um rio de nevoeiro
que se derramava pela encosta e se sumia no manto verde. Passei a tarde a
arranjar casa, aflito sem ter onde pernoitar. Aceitei o que me apareceu e, no
dia seguinte, 1 de Outubro, segunda-feira, às 8 horas da manhã, estava à frente
de trinta e seis crianças pequeninas. Chegara ao meu futuro.
Lombo do Moleiro, na Serra d´Água, Madeira.
Na época, a povoação ficava num beco, mas hoje passa por lá a estrada que liga a Ribeira Brava a São Vicente (vertente sul e vertente norte), por um túnel que começa onde se veem as últimas casas.
A ribeira foi uma das que provocou as destruições e mortes de há anos. Um dia não parava de chover e ela começou a engrossar. Então as mães dos alunos foram à escola buscar os filhos, com medo que a ribeira transbordasse (a escola situava-se mesmo ao lado). Na altura achei um exagero, só aquando das últimas cheias é que compreendi.
Na época, a povoação ficava num beco, mas hoje passa por lá a estrada que liga a Ribeira Brava a São Vicente (vertente sul e vertente norte), por um túnel que começa onde se veem as últimas casas.
A ribeira foi uma das que provocou as destruições e mortes de há anos. Um dia não parava de chover e ela começou a engrossar. Então as mães dos alunos foram à escola buscar os filhos, com medo que a ribeira transbordasse (a escola situava-se mesmo ao lado). Na altura achei um exagero, só aquando das últimas cheias é que compreendi.
domingo, 5 de maio de 2013
Mãe
Mãe
Há tantos anos,
Mãe!
Por que nunca te cansaste de mim,
Apesar das imensas inquietações que te causei?
Por que me foste sempre tão fiel,
Com todos os desassossegos que te infligi?
Às vezes repreendias-me e gritavas comigo,
Porque eu não sabia usar, convenientemente, a razão.
Crianças!
Obrigado, pelas tuas correções.
Tu só me querias bem,
Mãe!
Sei o quanto me agasalhavas, se estava frio,
E me apertavas contra ti para me aquecer!
Se eu caía e me feria nas pedras da calçada,
Logo te afligias, assustada,
E corrias a buscar a tintura ou o mercurocromo,
Para me curar o axe,
Enquanto eu me debatia, para me libertar de ti!
‘Está quieto’, dizias!
Vês? Era a minha inconsciência,
Contra a qual tu procuravas proteger-me,
Mãe!
Fazias-me as papas de carolo,
Batias-me as gemadas de ovo com açúcar,
E adormecias-me, como só tu sabias, com um pequeno conto.
Olho a tua pele enrugada dos anos passados,
As mãos encarquilhadas e consumidas pelos trabalhos que te dei.
Fizeste tudo por amor!
Por isso eu te amo,
Mãe!
A. dos Santos
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