José Barroso
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
sexta-feira, 12 de julho de 2013
quarta-feira, 10 de julho de 2013
A dança das bruxas
Das muitas tabernas que existiram na nossa terra, já
só resta a do Marcelino, no Casal da Fraga (hoje é da Amália, que a herdou do
pai). Gosto de lá ir à tardinha ou à noite, principalmente agora no verão,
porque é a hora em que param por lá bons contadores de histórias.
Quem contou esta foi a ti Trindade Marcelino que, diz,
ainda se lembra do homem a quem aconteceu o seguinte:
Há muitos anos, se calhar mais de cem, havia um rapaz
nos Pereiros que namorava uma rapariga das Rochas. Sempre que podia lá ia ele a
pé, por montes e vales, até chegar à terra da namorada que ainda ficava a umas
boas horas de caminho.
Uma vez, já a lua ia alta, ao chegar ao cimo da serra
do Açor vê aproximarem-se uns pássaros pretos que traziam uma luz no bico. Poisaram
todos num cruzamento que por ali havia e, ao tocarem no chão, transformaram-se
em belas raparigas. A seguir chegou um pássaro ainda maior que se transformou
num homem. As raparigas juntaram-se todas à volta dele, fizeram uma roda e
puseram-se a dançar e, de vez em quando, chegavam-se ao meio e beijavam-no.
Ao fim dum bom bocado chega mais um pássaro que também
se transformou em mulher e se juntou à roda, mas o homem, zangado,
perguntou-lhe porque é que estava a chegar tão atrasada. Ela respondeu-lhe o
seguinte:
“Quem tem filhos para dormir e homem para acalentar,
da Sertã aqui não tem que tardar?”
E lá continuaram a dança até que, de repente, se
transformaram de novo em pássaros e voaram cada um para seu lado.
O rapaz, que se tinha escondido atrás dumas giestas que
por ali havia, assistiu a tudo com muito medo e bastante zangado, porque tinha
reconhecido a namorada numa das raparigas. Apesar disso, resolveu continuar o
caminho até às Rochas e tirar tudo a limpo. Quando lá chegou, a namorada já
estava em casa. Ele contou-lhe o que tinha visto e quis que ela explicasse o
significado daquela cena. A rapariga confessou que era bruxa e disse-lhe o
seguinte:
“Agora que sabes a verdade, não és obrigado a casar
comigo, mas ai de ti que, enquanto eu for viva, contes a alguém o que viste
hoje! Se alguém souber, mato-te! Em paga do teu silêncio, vais receber todos os
anos uma camisa e umas ceroulas de linho.”
O rapaz voltou para os Pereiros, arranjou nova namorada
e passado pouco tempo estava casado. Todos os anos lhe aparecia em casa uma
camisa e umas ceroulas e a mulher, desconfiada, fazia sempre a mesma pergunta:
“Ó homem, mas que diabo é que te manda todos os anos
esta roupa tão fina?”
Ele respondia sempre o mesmo:
“Come e cala-te, mulher de Deus. Tu nem queiras saber…”
Foi assim durante muitos anos. Quando a encomenda
deixou de chegar, o homem contou finalmente à mulher o que tinha visto naquela
noite a caminho das Rochas e a história espalhou-se por toda a aldeia e
arredores. Ainda hoje a contam…
O homem morreu de velho, cego, a caminhar com uma bengala
pelas ruas.
M.L.Ferreira
José Teodoro Prata
segunda-feira, 8 de julho de 2013
sábado, 6 de julho de 2013
Mais biodiversidade da Gardunha
Lembram-se da praga de gafanhotos não autótenes que tivemos na Gardunha, há uns tempos?
Há dois anos apareciam às centenas e estavam a tornar-se um problema sério para a agricultura.
Entretanto, no ano passado só vi um e este é também o único deste ano.
O inverno de 2012 (assim como a primavera) foi extremamente seco e isso deve ter levado à sua extinção.
Desapareceram como apareceram: de repente e de forma misteriosa!
Os melros já enchem o ninho.
Qualquer dia já ouço os seus pios rápidos nos arbustos do ribeiro.
José Teodoro Prata
sexta-feira, 5 de julho de 2013
Biodiversidade da Gardunha
Sei um ninho de melros
Mas não o vou ensinar
Quero ter muitos amigos
Para o pomar partilhar
A menina rã camuflada num charco do ribeiro
Castanheiro em flor
O senhor javali é um brutamontes
Cheirou-lhe a castanhas antes do tempo
e desnocou uma grande pernada
José Teodoro Prata
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Festas de Verão
Circular
PRENDA PARA A QUERMESSE
Decerto que Você, Vicentino, já saberá que, neste ano de 2013, se vão
realizar, na Vila, as nossas Festas de Verão, nos dias 2 a 6 de Agosto próximo.
São Festas de tradição muito antiga que não queremos deixar acabar,
porque fazem parte da nossa história comum e dos nossos antepassados.
Apesar de ser um ano de dificuldades económicas, por todos sentidas, é convicção
da Comissão de Festas, 2013, que os nossos conterrâneos a residir cá ou fora,
em Portugal, ou no estrangeiro, vão participar com grande vontade e
entusiasmo.
Esta Circular tem por finalidade sensibilizá-lo a si, Vicentino, e a si,
que tem laços de família nesta Terra ou a si, Amigo de S. Vicente da Beira,
para a importância de oferecer uma PRENDA PARA A QUERMESSE.
Uma simples lembrança que poderá ter pouco significado para quem dá, mas
que, para nós, representa muito e cujo valor a Comissão de Festas procurará
potenciar com a sua venda na QUERMESSE.
Por isso, é tão importante para nós a sua oferta!
Não deixe de dar o seu contributo, fazendo o seu donativo e ajude um
evento único na Nossa Terra!
Adira à oferta para a QUERMESSE e torne possível o nosso e o seu sonho
de ver realizadas as Festas de Verão.
Pelo Senhor Santo Cristo!
Por S. Vicente da Beira!
A
Comissão de Festas,
zb
terça-feira, 2 de julho de 2013
Embruxada
Ainda
a propósito da Má Hora, contaram-me há muito tempo a seguinte história, passada
na minha família:
Uma
das minhas tias foi sempre enfezada e, como ela própria ainda diz, fraca da
cabeça. Uma altura, já mulherzinha, andava mesmo muito doente: amarelenta, com
fastio, sem vontade de trabalhar… Um tormento para ela e transtorno grande para
a família!
Um
dia passou por um homem que havia cá na terra e sabia muito destas coisas de
Deus e do demónio e até tinha um livro sobre o diabo (seria o Livro de São Cipriano?).
Só de olhar para ela, o dito homem fez logo o diagnóstico “Tu andas é
embruxada, cachopa!”. E recomendou: “Olha, logo à meia-noite, pões uma panela
ao lume, metes lá dentro uma peça de roupa tua e, quando começar a ferver,
picas a roupa com um espeto com toda a força. Fazes isto até à uma. Vais ver
que quem quer que seja que te anda a fazer mal vai entrar pela fechadura da
porta toda encarrapata e, com a vergonha, vai deixar de te apoquentar”.
A
minha tia que para além de enfezada e “fraca da cabeça” era muito medrosa, foi
ter com a minha mãe e contou-lhe o que o tal homem lhe tinha dito. A minha mãe,
mais velha e afoita, mas também muito crente nestas coisas do outro mundo,
prontificou-se logo para ajudar.
Então,
ainda nessa noite, quando todos já tinham ido para a cama, puseram a panela a
ferver ao lume, meteram lá dentro uma combinação e, com toda a força que
tinham, espicaçaram-na com o espeto de virar as filhoses durante bastante
tempo. Já era quase uma da manhã quando, cansadas e desiludidas, mas se calhar
também com medo, desistiram…
No
dia seguinte, a minha tia voltou a encontrar o tal homem que lhe perguntou como
é que as coisas tinham corrido. Quando ela lhe disse que não tinha aparecido
ninguém, ele ficou admirado, mas disse que se calhar elas não tinham feito tudo
como devia ser. E se calhar não…
M.
L. Ferreira
Nota:
Acho muito interessantes estas histórias da Boa e Má Hora, até porque foram
delas que se alimentou o imaginário de muitos de nós durante a infância. Ainda
hoje gosto de as ouvir… Mas, como sugeriu o Ernesto há dias, acho que prefiro a
Hora das Loiras ou doutra coisa qualquer, principalmente se for em boa
companhia!
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