José Teodoro Prata
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
domingo, 11 de agosto de 2013
Como novo
Já noticiámos, aquando do passeio pedestre, que a Junta de Freguesia desenvolveu um projeto de recuperação de algum do nosso património construído, em várias localidades da freguesia. Então, mostrámos a Fonte da Portela, e hoje, o Calvário, como novo, ambos na sede de freguesia.
sábado, 10 de agosto de 2013
O iníquo regime de castas
Ana Sá Lopes
Jornal i, 9 de agosto de
2013
O poder comporta-se como Maria Antonieta antes da Revolução Francesa
O poder comporta-se como Maria Antonieta antes da Revolução Francesa
Portugal tem duas classes sociais: o povo, que serve de carne para canhão
para cobrir o défice – através de aumentos de impostos, cortes salariais e
redução de prestações sociais –, e a nobreza, cujos benefícios serão protegidos
ad aeternum.
República há mais de um século, 40 anos depois de uma revolução que prometia “igualdade entre os cidadãos”, Portugal continua a funcionar como uma monarquia tradicional, em que, por lei, o povo tem a obrigação de sustentar uma família por um acaso de nascimento. Infelizmente, ao contrário da nossa monarquia travestida, as monarquias de facto têm a vantagem de ser claras e mais escrutinadas. Se os direitos aristocráticos desta república menor também se transmitem pelo nascimento, eles reproduzem-se nos clubes de negócios, no centrão político, nos grupos financeiros, nos grandes escritórios de advogados, no incrível carrossel dos amigos políticos e dos amigos financeiros, das ligações de famílias ou do que uma boa carreira dentro do PS ou do PSD pode dar. Tudo isto converge na divisão de um país em duas grandes classes sociais: a nobreza e o povo (o clero oscila entre as duas, conforme os protagonistas e os momentos).
A ideia de que existe um “nós” e um “eles” já foi totalmente apreendida pelo povo e está na origem do quase irremediável divórcio entre a população normal e as instituições políticas. Existimos “nós”, – os remediados a quem a crise rapa as poupanças e manda para o desemprego a família – e “eles”, os que nunca vão à falência, os que nunca irão perder o emprego, os que continuarão a almoçar no Gambrinus à conta de uma empresa pública falida, aqueles que o Estado ajudará sempre por razões equívocas. O poder comporta-se – e isso é particularmente doloroso de ver em momentos como este – como Maria Antonieta antes da Revolução Francesa: “Se não têm pão, comam brioches.” É esse estado mental que permite ao governo fazer uma lei para cortar reformas, excluindo magistrados, militares ou trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos. E, para escândalo geral, nem uma palavra diz sobre um corte proporcional nas famosas reformas dos políticos.
República há mais de um século, 40 anos depois de uma revolução que prometia “igualdade entre os cidadãos”, Portugal continua a funcionar como uma monarquia tradicional, em que, por lei, o povo tem a obrigação de sustentar uma família por um acaso de nascimento. Infelizmente, ao contrário da nossa monarquia travestida, as monarquias de facto têm a vantagem de ser claras e mais escrutinadas. Se os direitos aristocráticos desta república menor também se transmitem pelo nascimento, eles reproduzem-se nos clubes de negócios, no centrão político, nos grupos financeiros, nos grandes escritórios de advogados, no incrível carrossel dos amigos políticos e dos amigos financeiros, das ligações de famílias ou do que uma boa carreira dentro do PS ou do PSD pode dar. Tudo isto converge na divisão de um país em duas grandes classes sociais: a nobreza e o povo (o clero oscila entre as duas, conforme os protagonistas e os momentos).
A ideia de que existe um “nós” e um “eles” já foi totalmente apreendida pelo povo e está na origem do quase irremediável divórcio entre a população normal e as instituições políticas. Existimos “nós”, – os remediados a quem a crise rapa as poupanças e manda para o desemprego a família – e “eles”, os que nunca vão à falência, os que nunca irão perder o emprego, os que continuarão a almoçar no Gambrinus à conta de uma empresa pública falida, aqueles que o Estado ajudará sempre por razões equívocas. O poder comporta-se – e isso é particularmente doloroso de ver em momentos como este – como Maria Antonieta antes da Revolução Francesa: “Se não têm pão, comam brioches.” É esse estado mental que permite ao governo fazer uma lei para cortar reformas, excluindo magistrados, militares ou trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos. E, para escândalo geral, nem uma palavra diz sobre um corte proporcional nas famosas reformas dos políticos.
O comunicado da Secretaria de Estado é lapidar desta total incapacidade de
perceber que o fosso entre cidadãos e poder é dramático: o senhor secretário de
Estado Hélder Rosalino admite que, “caso se justifique”, o corte nas reformas
dos políticos “será tratado em sede própria”. Caso se justifique, ouviram bem?
Comam brioches.
José Teodoro Prata
José Teodoro Prata
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
Os leitões aprendem a caçar
A
Felpuda perfilhou dois bacorinhos de dois meses. Dá-lhes de mamar e toma conta
deles como faz com os seus filhos, três cachorrinhos muito vivos e engraçados.
E
os cinco miúdos brincam juntos como se fossem todos cachorrinhos ou como se fossem
todos leitões. São cinco bebés autênticos.
A
Felpuda tomou conta dos bacorinhos no dia em que ficaram órfãos e nunca mais
deixou que ninguém lhes tocasse. Arreganha os dentes e as pessoas recuam,
assustadas. Considera-os seus próprios filhos.
Felpuda,
antes de ter os três cachorrinhos e de ser mãe adotiva dos dois leitões, ia muito
à caça com o seu dono e tinha arte para apanhar o seu coelhito ou levantar uma
perdiz.
Agora,
com os pequenos já crescidos, começou a pensar nesses belos tempos em que
percorria os matos com o dono, a farejar a caça e, como boa mãe, entende que
nenhum cão da sua raça deve deixar de saber caçar. Um dia disse-lhes:
-
Bem, meus filhos, é a altura de começarem a aprender a caçar! Amanhã vamos para
o mato e vou dar-vos a primeira lição.
E
foram. Os três cachorrinhos, muito ágeis, compreenderam logo a lição. Nas lições
seguintes fizeram grandes progressos e mostraram que haviam de seguir as
pisadas da mãe: serem bons caçadores.
Quanto
aos leitões, Felpuda não compreendia nada do que se passava com eles. Só
pensavam em fossar a terra e nada de repetirem as lições que ela lhes dava:
-
Vamos, meus filhos, cabeça baixa, uma pata no ar, quietos, é assim que se
espera a caça.
E
eles nada. Nada de repetirem o que ela lhes ensinava.
Ou
então:
-
Vá, toca a farejar, busquem, busquem por entre as moitas…
E
os leitõezinhos, nada! Muito rosados, muito lindos, mas sem jeito nenhum para
cães de caça!
Felpuda
vive muito desgostosa. Como é que dois dos seus filhos puderam dar naquilo?
-
É uma vergonha, é uma vergonha!
Mas
não perdeu a esperança e lá vai com eles todos os dias para o mato para os
ensinar a caçar.
Esta história chegou-me às mãos sem indicação de autor, nem de título do livro de onde foi extraída. Quem a escreveu, fê-lo a partir de uma notícia publicada no Diário de Notícias de 17 de abril de 1956.
Informava que o sr. João Teodoro dos Santos, residente numa quinta dos arredores de S. Vicente da Beira, tinha uma cadela que tomou dois leitões à sua guarda, os amamentava como se fossem seus filhos e os levava para os matos, com intenção de os ensinar a caçar.
João Teodoro dos Santos (1909-1995) viveu na Serra, acima dos Ribeiro de Dom Bento, ao lado das Lameiras. Por isso lhe chamávamos o ti João da Serra (ou Baloia). Na altura desta história, estava casado com Alzira Casimiro de Oliveira. Mais tarde enviuvou e voltou a casar, com a ti Delfina, que ainda vive na casa do topo da Rua da Cruz. O filho deste casal, o João, vive mais abaixo, na Rua do Convento.
José Teodoro Prata
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
As maleitas da infância
Tu e as tuas irmãs tivestes sarampo ao mesmo tempo.
Metidos na cama, cheios de febre e eu sem saber para onde me virar, a levar-vos
o comer, a tentar baixar a febre aos mais abrasados e a lavar as roupas da cama.
Estáveis todos na cama do quarto escuro, com a porta para a sala, uns deitados
para a cabeça e outros para os pés.
Depois melhorastes, mas as tuas irmãs mais novas
apanharam logo tosse convulsa. Iam morrendo, sempre a tossir, com aqueles uivos
que faziam impressão. Tinha de levar as duas ao hospital, todos os dias, para
apanharem uma injeção de um remédio que era feito da resina.
Um dia vinha pela rua acima, com a mais pequena ao
colo e a outra a chorar atrás de mim. Ela era só a pelinha e o osso, com a cara
inchada e os olhos raiados de sangue, sem forças para andar. Quando passámos,
no Cimo de Vila, em frente à casa do tio Miguel Jerónimo, estava lá a ti Jú à
janela e perguntou-me porque é que a menina ia a chorar. Eu respondi que ela
queria colo. Então a ti Jú desceu as escadas, pegou-lhe ao colo e foi-me
levá-la à Tapada. Subimos pela quelha e, quando chegámos à casa velha, já lá
vinha a ti Stela que não tinha podido ir comigo, mas que me vinha ajudar.
Tirou-me a tua irmã do colo e levou-a o resto do caminho. “Agora a senhora vai
sem nada e nós aqui carregadas”, brincou a ti Jú, que era muito reinadia. Mas eu
pensei só para mim: “Estás enganada, eu já vou a carregar com outra.” Mas
calei-me, porque nesse tempo não se falava da gravidez e tínhamos vergonha,
pois as outras diziam logo que a gente é que tinha culpa de engravidar.
Lembras-te de ir casa do teu avô, na Oriana, a buscar
folhas da figueira dos figos de picos que havia junto à estrada? Cortámos as
folhas ao meio, metemos lá dentro açúcar e depois eu cosi as duas partes, com
agulha e linha. Corria delas um líquido pegajoso que dávamos a beber às tuas
irmãs. E foste aos pinheiros colher os rebentos da medrança. Depois eram
fervidos, para desinfetar a casa. E a mesma coisa com a rama de eucalipto.
Quando elas ficaram boas, a mais velha voltou à
escola, mas chegou a casa e deitou-se na cama, de barriga para baixo, sem
falar. Agarrei nela ao colo e fui a casa do médico. Ele receitou-lhe umas
injeções. Mas eu não tinha forças para andar com ela ao colo, para cima e para
baixo, e por isso pedi ao ti António que ma deixasse ficar na casa dele, para o
Zé Craveiro lá ir a dar-lhe as injeções. Mas arrependi-me, porque o teu tio
chegava a casa para almoçar e, ao vê-la naquele estado, só lhe dava para chorar
e não comia.
Só mais tarde é que tivemos papeira, contei eu. A
Celeste era a nossa enfermeira e um dia levou-nos às castanhas, nos Carqueijais.
Havia um castanheiro lá no alto, perto do caminho, que dava umas castanhas mais
grossas. Cortámos caminho por baixo da figueira pingo de mel e depois seguimos
a corta-mato até ao caminho. Lembro-me de ir nos eucaliptos do Padre Tomás e
sentir as minhas bochechas pesadas a abanar. Mais à frente, no pinhal, ouvimos
barulho de alguém e corremos a esconder-nos, deitados ao comprido, no rego da
regadia das Lameiras. Era o senhor Bernardino com o burro, que vinha da
Barroca. Debaixo do castanheiro achámos poucas castanhas, mas deu uma para cada
um e voltámos contentes para casa.
José Teodoro Prata
José Teodoro Prata
quarta-feira, 31 de julho de 2013
Pequeno Lugar
Povo da Beira, edição 1012, ano XIX, 30 de Julho de 2013
Pequeno Lugar era apenas o título de um poema de António Salvado, albicastrense de renome internacional, mas António Fernandes Andrade, amigo e admirador do poeta, tornou-o um amplo projeto com várias vertentes: ecológica, de preservação do património construído e do património imaterial, artístico e de divulgação da obra de António Salvado.
A sede é uma casa de xisto que António Fernandes Andrade reconstruiu e onde tem vindo a implementar o seu projeto. Abrirá portas ainda este ano.
José Teodoro Prata
terça-feira, 30 de julho de 2013
Gafanhotos na Orada
Voltei hoje à Senhora da Orada e vi que, felizmente, da praga de gafanhotos que por lá andava há pouco mais de uma semana, já restam muito poucos. Não sei se é milagre da Senhora, se houve alguma intervenção química ou se é resultado do ciclo de vida normal daquela espécie. Seja como for, é uma boa notícia para todos os que queiram ir até lá nesta altura, seja para beberem aquela água bem fresquinha ou, na quarta feira, comerem os restos da festa.
M. F. Ferreira
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