quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A nossa banda

As notícias da nova sede têm-me trazido à memória os ensaios da nossa banda quando ainda se faziam numa sala ao lado da porta principal da Igreja da Misericórdia e o maestro era o primo Joaquim dos Santos, como lhe chamávamos em família.
Lembro-me bem dele, com a sua batuta cujo funcionamento me maravilhava, mas constituía um mistério para mim, quase como se fosse a varinha mágica dos contos de fadas.
Lembro-me bem dos acordes que saíam daquela sala de ensaios e que eram uma antecipação do calendário religioso ou das festas que iam acontecer a seguir: a Semana Santa, a Senhora da Orada, as Festa do Verão, um ou outro concerto na praça, e pouco mais.
De todo o reportório, a música que mais me impressionava, pelo peso dramático que tinha, era a da Procissão do Enterro. Através dela, nós fazíamos a penitência de todos os pecados que tínhamos (pelo que nos faziam crer, já eram muitos, mesmo quando ainda éramos crianças…).
Estive muito tempo sem assistir a alguma atuação da banda. Há três ou quatro anos, na festa do Casal, tive oportunidade de assistir a um concerto que me deixou maravilhada e emocionada por vários motivos: a maior parte dos elementos que constituíam a banda eram muito jovens, mas estavam perfeitamente integrados com outros um pouco mais velhos; o reportório era muito variado, abarcando temas de música popular, música moderna, adaptação de clássicos, etc; o maestro era um rapaz muito jovem, com aspecto muito moderno e que contagiava todos os outros elementos da banda e do público com a sua alegria. Mas o que mais me emocionou foi ver o Zé Taleta a tocar os pratos, num lugar que foi durante muitos anos do seu avô (que era também o meu) e que durante alguns segundos me fez imaginar que era ainda ele que ali estava, com o seu ar altivo, olhos lindos e marotos, mas sobretudo transmitindo através da expressão corporal, o enorme prazer que a música lhe dava.
Entretanto algumas coisas foram mudando: os maestros, os músicos, o reportório, mas tem-se mantido o grande mobilizador: o Comissário João Barroso. O seu trabalho não deve ser fácil, mas ele tem mantido com grande entusiasmo esta instituição que é um elemento importante do nosso património e faz parte do imaginário de todos nós.
Força e que a nova sede seja um incentivo para voos ainda mais altos!

M.L. Ferreira


Banda Filarmónica Vicentina, 2009

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Sede da banda


A estrutura do edifício está pronta. A telha é castanho escuro a intervalar com castanho avermelhado, a imitar o telhado das casas velhas que ali existiam. Em Julho, aquando da festa da banda, a sede estará concluída.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O nosso falar: acompanhar

Mandara lavrar a terra, no Ribeiro D. Bento, e hoje andei a acompanhar. Peguei tarde e larguei cedo, mas venho todo partido, cansado como uma raposa. Acompanhar é cavar. E, como se costuma dizer, cavar só à frente da polícia.
 Acompanhar é cavar, em volta das árvores, o pedacinho que fica por lavrar junto aos troncos. Diz-se acompanhar, porque o cavador acompanhava a lavra. Normalmente, no final do dia, estava tudo feito (lavra e cava) e por vezes até semeado.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Património religioso

José Teodoro Prata Nas Jornadas do Património, realizadas em S. Vicente da Beira, a 11 de novembro de 2012, esteve presente um técnico multimédia que filmou e depois colocou na internet. Este é um dos vídeos. Não está completo e faltam-lhe legendas de identificação e de localização, mas é bonito! O logotipo é das Aldeias Históricas de Portugal, a associação que promoveu as nossas jornadas.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

À nossa ribeira

A .   dos Santos

RIBEIRA DA MINHA TERRA

Ah! Ribeira de São Vicente,
Como te percorri o ventre,
Púbere,
Serrano,
Da nascente.
Era eu ainda uma criança!

Como te calcorreei as fráguas,
Da montanha escarpada,
Úbere,
De onde brotas todo o ano,
Na Senhora da Orada.
Era ainda a vida uma esperança!

Como sei dos sobressaltos,
Das tuas águas,
Que descem,
Por entre as rochas, ali,
No teu leito,
Beijando os salgueiros altos,  
Que crescem,
Nas orlas da tua amurada,
Debruçados sobre ti,
A espreitar-te o peito.
                                                                        
Quando te ouço e vejo,
                        Bruxuleando, reluzente,
Num saltitar de sonoridade,
A caminho do longínquo Tejo,
Como quem te contempla à distância,
À luz do sol poente,
De carmim,
Invejo-te a juventude e a idade,
Porque renasces incessantemente,
E és sempre nova.

Ao passo que, a mim,
Já se me foi a infância,      
E a vida não se me renova.

Brinquei no teu seio,
Descalço, calça arregaçada,
Na intimidade da tua frescura,
P’lo meio dos feixes
De juncos,
Procurando em ti, de uma assentada,
Inexoravelmente,
Entre os espinhos das silvas, como facas,
A tua ternura,
E os teus peixes,
Ambos escondidos, secretamente,
No secretismo das tuas lapas.

Carregado de candura,
Despreocupada, imensa,
Andei, na minha meninice,  
A apanhar-te as borboletas e as libelinhas,
Que ziguezagueavam, entre as tuas flores,
E verdura,
Asinhas,
Que vi, como se ainda agora as visse,
Em recortes de luz intensa,
De mil cores.

E também os gafanhotos, que punha, como isco,
No anzol de alfinete dobrado,
Atado na ponta da linha de coser branca,
Que, arisco,
Surripiava do açafate de costura de minha mãe.

Artimanha desusada,
(Que ninguém,
Com juízo, atamanca),
Procurando pescar-te o fruto prateado,
Nessa armadilha caseira, improvisada,

Ingeri-te o corpo e a alma,
Nas tuas correntes puras,
Bebendo-te, sôfrego,
Em dias de grande calma.

Feri nas arestas das tuas pedras duras,
A pele nua.

Por isso,
Parte da tua água, é também o meu sangue.
Sobre uma laje tua,
Cheia de limo e musgo, escorregadia,
Que a sombra de alguma figueira,
Às vezes já com um laivo outoniço,
Plantada na tua fímbria,
Protegia,
Me deitava, cansado de andar, exangue,
E adormecia.

Como vi e ouvi as bravas mulheres da Vila,
A vida cheia de fé, 
A lavar a roupa nos açudes das tuas claras águas,  
Que a areia térrea da tua profundeza filtrava,
A cantar, para sufocar as mágoas,
Ou para embalar,
O seu menino dentro da trouxa,
Na relva, ali ao pé.

E estendê-la, a corar,
Na erva, sempre verde, da tua margem,
Onde a água não chegava.

E ainda distingo, na memória,
As pequenas figuras,
Como quando de longe as avistava,
Na refração da luz,
Violeta de ametista,
A diluírem-se nas lonjuras,
Como num quadro, uma paisagem,
De um pintor impressionista.

Como me regalava, no verão,
Banhando-me na forte torrente, 
Das tuas cachoeiras refrescantes,
Em completa comunhão,
Contigo!

Ricos instantes,
Que guardo num registo antigo,
Quase da idade,
Do meu coração.
  
Como eu te amo, Ribeira de S. Vicente!
Mas dessa afetividade,
Desse amor,
Apenas me dei conta recentemente.
Amava-te sem saber,
Como quem possui um objeto e não lhe dá valor.

Mas, agora, vou amar-te,
Incondicionalmente,
Até morrer.

E tu, atraindo outros universos,
De outras gerações,
De vicentinos,
Como um feitiço,
Inspirando outros versos,
Outras canções,
Prosseguirás bela, impassivelmente,
Decerto, marcando os seus destinos,
Como musa, já se vê, não como enguiço, 
Até sempre, perenemente.

Amar-te,
Incondicionalmente,
Sim,
Até morrer.

Mas, eu morro,
E tu, Ribeira, 

Ah! Tu continuarás a correr!

sábado, 9 de fevereiro de 2013