sábado, 25 de julho de 2015

Dedeiras


Comentando o poema do Zé da Villa (publicação anterior) e o comentário da Maria Gramunha:
É verdade! Diziam-nos que era pecado deixar cair o pão e por isso tínhamos que o beijar. E como é que podia não ser assim, se as bocas eram muitas e o pão era pouco e tão difícil de ganhar?
Para os que nunca viram, estes objetos, um pouco estranhos e já peças de museu, são dedeiras que os ceifeiros usavam para proteger os dedos durante a ceifa.
                      
 Feitos de cana...

...ou de couro.

M. L. Ferreira

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Os Ceifadores



Ceifeiros da minha terra, foice em punho à torreira
Ceifavam por esses campos dilatados nosso pão
Partiam de São Vicente da Beira
E segavam, ceifavam, pelos começos do São João
Dormiam no restolho depois de um dia de canseira
O aguadeiro dava a beber água e eles de foice na mão
Ceifavam paveias e mais paveias; molhos e mais molhos
E o suor caia em bagadas pelo rosto e pelos olhos

Com os molhos na eira, ei-los de mangual na mão
Eram sete, oito, nove ou mais os malhadores
E batiam com jeito para a espiga deitar o grão
Desfeita a palha eis a semente loira ou de outras cores
Quinteiros juntamente com o patrão
Mediam; cinco para o lavrador, um para os malhadores.
Feita a malha, regressavam com seu quinhão
No moinho a semente era moída, da farinha se fazia o pão

Tempos difíceis, nunca se estragava nada, o pão era sagrado
Respeitado, quando caia um pedaço para o chão
Apanhava-se, e antes de se comer...era beijado

Zé da Villa

quinta-feira, 23 de julho de 2015

quarta-feira, 22 de julho de 2015

domingo, 19 de julho de 2015

Alcunhas: as alentejanas e as nossas




Há muito que o meu filho andava a namorar e a divertir-se com este livro e finalmente decidiu-se, sabendo-me nestes (gostosos) apertos.
É um calhamaço de 608 páginas, já na 4.ª edição, da autoria de dois professores da Universidade de Évora.
Além de maior erudição do que o livrinho da Soalheira, a grande diferença é que usa os nomes das pessoas. Mas abarcando todo o Alentejo, reflete uma realidade geográfica muito diferente da local, seja da Soalheira ou de São Vicente. Por isso acho que devemos seguir o modelo da Soalheira.
Exemplos, para me perceberem: escrevemos das Quintas, nas no livro do Alentejo seria Miguel das Quintas; usamos Ratão, mas para o livro acima apresentado seria João Ratão (com todo o respeito por este amigo). Mas talvez pudéssemos usar o nome próprio para suporte de alcunhas geográficas ou de família (Manuel das Rochas ou Aires da Tonha), mas omiti-las no caso de alcunhas propriamente ditas, isto é, genuínas ( só Machana, em vez de Manuel Machana, ou apenas Bravo, em vez de Zé Bravo).
Segue abaixo a listagem das nossas alcunhas, feita pelo José Barroso e completada pelas sugestões de muitos.

ALCUNHAS USADAS EM SÃO VICENTE DA BEIRA

Abiche
Aguier
Alemão
Alfaiate
Alice
Anhota
Aquefuma
Ar
Aranha
Arefa
Arranca-Badais
Arrebotes
As Três Pernas do Banco
Áugoa
Avozinho
da Azenha
do Aires

Bacolão
Bácoro
Baião
Balaia
Baloia
Barbinha
Barqueira
Barrilo
Batata
Bela
Berra
Bicharada
Bisnaga
Bispo
Boas noites  
Boche
Bode 
Bomba
Botelho
Braço de Trabalho
Bravo
Brito
Broa
Brocha 
Bruxo
Bujo
Burrecas
da Barroca
da Bolsa
da Burra

Cabanas
Cabeça de Peixe
Cabeças
Cabolino
Cabrita
Caçolada
Cagalhão
Cagalhão de Bácoro
Caga-Lume
Cagarola
Cagarrapo
Caldudo
Camadas
Cambão
Camões
Caneco
Canhoto
Canino (Pequenino)
Capa-Burros
Capador
Capitão
Carcavelos
Carolino
Carrolhas
Caruca
Catrino
Casca
Cesta
Ceveleum
Chá
Chabeta  
Chadão
Chalim-Chalota
Chamiço
Chefe
Cheira Mal
Chico da Áutua
Chilreia
Chiribique
Cifrones
Ciganito
Cireneu
Coelhito
Colhão de Almude
Colmeias
Coluna
Comboio
Companhia
Conde das Dornas
Coné
Cordel
Cornel
Corredoura
Coxo
Crescente
Cuco
da Cadeia
das Cabras
do Cabeço
do Café
do Caldeira
do Cão
do Carvão
do Casal (da Fraga)
do Casal (do Baraçal ou dos Ossos)
do Casalito
do Chofer

Dezoito
Doido

Eletricista
Enxofra
Escanta
Escavaterra
Espanhol
Estrelado
de Évora

Faminto
Fanhosa
Farinheiroa
Farrusco
Febra Russa
Feia
Feijão
Ferreiro
Fiambre
Flota
Formiga
Francesa
da Fonte
do Forno

Gabilês
Gago
Galgo
Garrancho
Gato
Gonzaga
Grancha
Grande
Grilo
Guarda-Rios
Guião

Histérico

Impisca
Inça
Incoreto
Inginho
Insonso
Inverno
Ítalo

Jabena
Jaia
Jareto
Jarmelas
Jeová

Lã Branca
Laparão
Latoeiro
Leca
Leijo
Lêra
Lérias
Litoardo
Lixa
Luís Gonzaga
da Loja
da Lusitana

Machana
Magrinho
Maiaca
Maleca
Malgadas
Manga
Manel Arca
Manha
Manhovas
Maria do Cu
Marau
Margarido
Marimilho
Marinheiro
Mata Nosso Senhor
Mata-Vida
Matrino
Médico
Mejedo (Mijado)
Menino Jesus
Mestre
Mestrão
Metro e Dez
Mexe
Miguelão
Miguelito
Mija Sem Bolas
Mintroso
Miúdo
Miró Olho
Mitra
Mocho
Mole
Moleira
Moleiro
Monaia
Mouca
Mosca
Mossolini
Mudatorre
Mudo
Mulher-Homem
das Mobílias

Nalguinhas
Negro
Nica
Nico
Nicho
Nita
Noco
Nonga
Número Um
da Nossa Senhora
do Ninho
do Posto Médico

Opa
da Oles
da Oriana (ou Oriena)
das Onze Horas

Pachanisca
Pacheco
Padeiro
Padre e Músico
Pai dos Pobres
Palacha
Palhas
Panjá
Papoila
Parrego
Parrita
Passaião
Passaraço
Pássena
Pasteleiro
Pata-Galhana
Patanucho
Pavic
Pêco
Peixe
Pelado
Penetra
Persianas
Pêto
Pica
Pidança
Pigenta
Pinura
Piorrinha
Pique
Piriquito
Pirisca
Pirrala
Pitocas
Poia
Polícia
Político
Pontífice

Potra
Preto
Pulha
Puro
Puto-Homem
do Padre
do Pinheiro

Queremos Deus
Quina
Quinhentos e oitenta
Quinquinhas
das Quintas

Rabo Doce Cu de Mel
Raça-Pura
Racha
Ranhoso
Ratão
Rato
Rebo
Rei Preto
Relojoeiro
Rente
Revelho
Richó
Rinoco
Roga-Pragas
Rolinha
Rolo
Russo
da Requerda
da Rosa
das Rochas

Sabino
Sacristoa
Safou-se
Sagorro
Saldanha
Saleiro
Sanotes
Sardinheira
Sargento
Sarna
Sarroadas
Sebastiena
Sefas
Serralheiro
Sifrones
Sopas de Vinho
Sorna
Sorte
Sovelo
Sou teu tio
Spínola
da Senhora da Orada
do Sacristão

Taladinho
Talanga
Taleta
Tanaz
Tatola
Téa
Técnico
Temó
Tenente
Terere
Terraupum
Terrorista
Tété
Tintelau
Tira
Tira-Ninhos
Tono
Torto
Torre de Belém
Tota
Trabuca
Trabuco
Travassos
Triste
da Tapada
da Tola
do Telhado

Ubre
Ui

Vaca
Valente
Vaqueiro
Varinhas
Vasilhas
Vermelho
Vicente
Vinte e Cinco
Vinte e Um
Virgem
Viúva
do Vale de Caria

Xemeco

Zangamulo
Zé Barbinhas
Zé Raimundo