quinta-feira, 20 de julho de 2017

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Comentários novos

Há novidades em "O primeiro Moreira?".

José Teodoro Prata

A nossa vida

(…) Sendo assim, vou continuar com os meus escritos para ir enchendo papel, o papel só tem valor se tiver palavras, frases, desenhos, rabiscos…se não tiver nada, não passa de uma folha em branco ou de outra cor. Não é sobre este assunto que quero escrevinhar algumas palavras.
Vamos a isto.
  A vida de um ser humano tem uma duração limitadíssima, o máximo cem anos mais dez, menos dez. A maior parte das pessoas quando ultrapassam os noventa têm uma saúde muito frágil, estão limitadíssimos, os reflexos já não são o que eram, passam as horas à espera…
  É a regra, embora haja pessoas com uma memória invejável, ainda se movimentam razoavelmente bem; não é a regra.
  A qualidade de vida não acompanhou a longevidade, os lares são um bom exemplo daquilo que estou a dizer. As funcionárias de manhã levantam os velhinhos, muitos deles são transportados em cadeiras de rodas, entram na sala, sentam-nos no sofá e ali ficam até à hora do pequeno-almoço.
  Voltam novamente para o sofá até ao lanche e assim sucessivamente. Findo o jantar, cama.
  Quem se movimenta ainda se levanta e dá uma volta pelo corredor, quem não se mexe…
  Coitados deles, tanto lutaram, de repente ficam incapacitados, à merce dos semelhantes.
  O destino tem destas coisas, longevidade igual a limitação. As pessoas acomodam-se, não têm outro remédio, os filhos trabalham, vivem longe.
  Precisam de muito carinho, muita atenção e amor. Quantos há que foram “despejados” nos lares pelos familiares e nunca mais lhes ligam, não querem saber deles, esqueceram-se depressa dos trabalhos, das canseiras, dos sacrifícios que passaram para os criarem.
  Um dia terão a recompensa, alguém lhes fará o mesmo.
   A vida é feita de bons e maus momentos, é uma labuta diária e constante; impostos, obrigações, problemas de toda a ordem, de vez em quando surge um dia de alegria, de festa
  O nascimento de um filho, o baptizado, a licenciatura, uma promoção no trabalho, um aumentozito… coisa pouca em oposição aos maus momentos.
  Invejas, doenças, incompreensões, ódios, compromissos assumidos… A vida é uma chatice, mesmo assim, julgo que a maioria gosta de cá andar. De vez em quando há alguém…põe fim à vida, porquê? Só ele sabia. Um desgosto, uma dívida que não conseguiu controlar… Quem termina bruscamente com a existência lá terá as suas razões, não o podemos condenar, que tenha uma vida mais favorável na outra…
  Se houver alguém que consiga adivinhar através de sinais o pensamento da pessoa com pensamentos suicidas que o acompanhe e o demova a fazer tão tresloucado ato.
  Tudo se remedeia desde que haja compreensão entre os homens.
  Uma casa centenária, velhinha, pode ser reconstruida e durar outro tanto tempo, mas também pode ser destruída num instante e nunca mais ninguém a torna a ver.
  Com o suicida acontece a mesma coisa, se alguém o amparar, salva-se, se ninguém lhe deitar a mão, num instante termina…
  Todos sabemos que a vida são dois dias, é tão frágil a vida; vela acesa exposta numa corrente de ar, uma aragem... A vida começa num choro, tal como a fogueira começa por fumegar, depois vem o brasido, para finalmente terminar em cinza.
  Olhem: a vida, quanto mais estica, mais curta fica
  Fiquem bem!


J.M.S

domingo, 16 de julho de 2017

Luís e José



Nota: Ambos os poemas são de Luís de Camões.

José Teodoro Prata

sábado, 15 de julho de 2017

Balcaria


Olival com rega gota a gota, no Balcaria. 
Atrás da casa e na área que se vê acima da estrada já há medronheiros.
Ao fundo, na raiz da serra, a casa do ermitão, da Orada.

Os nossos mais velhos sempre disseram Balcaria.
O Zé Barroso escreve Vale de Caria, como seria originariamente.
Mas eu volto ao Balcaria, até porque nos documentos dos séculos XVIII e XIX aprendi que a nossa região é nortenha, neste aspeto (trocava o v pelo b em inúmeras palavras).

José Teodoro Prata

Nota: O texto foi alterado após o comentário do Zé Barroso.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

O primeiro Moreira?


O  Inácio (Ignacio), batizado a 30 de dezembro de 1824, era filho de José Moreira, da Aldeia das Dez, 
e Rosa Luísa, de São Vicente da Beira.
O avô paterno também se chamava José Moreira e era igualmente da Aldeia das Dez, Oliveira do Hospital.
É possível que os muitos Moreira de SVB sejam descendentes deste José Moreira da Aldeia das Dez.

Festa da castanha, Aldeia das Dez, 2011

Uma aldeia risonha e encantadora, sobranceira ao rio Alvôco. Toda ela parece um demorado miradouro, com vista privilegiada para as serras envolventes. 
(http://aldeiasdoxisto.pt/aldeia/aldeia-das-dez)

A lenda da Aldeia das Dez tem origem na Reconquista da península Ibérica e está ligada ao actual nome da aldeia. Segundo a lenda, durante a Reconquista cristã dez mulheres terão encontrado um tesouro numa caverna situada na encosta do Monte do Colcurinho. De acordo com a tradição oral e alguns documentos que sobreviveram, esse tesouro possuía um valor que ultrapassa o material. Estas mulheres ter-se-ão apercebido da sua importância e, num pacto que persiste até hoje, terão separado entre elas as peças que o compunham e passando-as de geração em geração, mantendo até hoje por desvendar o segredo que encerram. Quanto ao tesouro, crê-se que dele façam parte moedas Antonini com inscrições cifradas, sendo que uma destas encontrar-se-á cravada na moldura de um quadro que narra esta lenda. Deste quadro pouco mais se sabe, além de ter ressurgido em meados do século XX num antiquário de Oliveira do Hospital, para novamente desaparecer. Terá sido pintado por uma das descendentes das dez mulheres e crê-se que retratando a lenda poderá oferecer uma chave para o seu segredo.
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Aldeia_das_Dez)

José Teodoro Prata

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Vila-poema

VILA DA MEIA SERRA 

Vagas verde-escuras dos pinheirais,
Mar ameno de agulhas fremente,
Levantado pela aragem da Gardunha,
Meu olhar de menino,
Desfazendo-se a poente,
Onde, ao cair do dia,
O sol de ouro metálico se punha.

Vale das encostas da serra,
Em que fraldejam casas,
Assentes no granito rijo e puro,
Casario a estender-se pela terra,    
Telhados vermelhos,
Paredes brancas de cal e pedra alva,
Mescladas de sombras do xisto escuro.

Do ventre da guardiã granítica,
Nasceste quase na raia de Espanha, 
Montes por onde lutou o bravo lusitano,
Do primeiro e do segundo reis, vila mítica,     
Que os ares gelados da estremenha,
Fustigam, danados, no inverno,
Como nos agrediu o soberbo castelhano.

Os olivais também ondeiam pelas hortas,
Revirando as folhas no gris dos dias de novembro,
Em maio exibes o imenso amarelo das giestas,
Em janeiro, o branco da neve e o negro das azeitonas,
No verão, as cerejas rubras,
E os cachos de uvas roxas em setembro,
Como bandeirinhas na praça pelas festas.

Vila robusta, feita de pedra, até à alma,
A ribeira rega-te, no verão, os lameirais viçosos,
Enquanto no verde dos cômoros do caminho,
Esvoaçam folhas, ao de leve, em tarde calma,
Como o melro roça a asa nos olmos frondosos,
Onde, furtivo, vai dar de comer aos filhos,
No aconchego do arbusto em que fez o ninho.

Terra de séculos, dos tempos idos da história,
De muitíssimas gentes e grandes eventos de outrora,
Mas também de desgraças e de concelhos perdidos.    
Destes, quero esquecer-me e guardar, somente, na memória,
Os júbilos e contentamentos antigos, as festas e romarias,
Porque as coisas vis e a má fortuna, essas, lancei-as fora,
Como se tiram da lembrança os maus instantes e se deixam esquecidos. 

Joaquim Benedito