sábado, 7 de agosto de 2010

Regresso ao Castelo Velho


O António é um apaixonado pelas coisas do passado dos homens. Por isso, não podia deixar que regressasse à selva urbana das Lisboas sem o levar ao Castelo Velho.
Fomos hoje, sábado, com uma previsão a ameaçar 38º graus.
Era ainda noite, quando parti de Castelo Branco. Da A23, à esquerda, estendia-se o breu da noite, salpicado de luzinhas distantes. Céu e terra, a mesma negrura, separados pela fila ondulada das luzes vermelhas dos aerogeradores.
Entre o nó da Lardosa e o Louriçal, à direita o horizonte clareava, mas à esquerda continuava negro. Um mocho atrasou-se a sair do alcatrão, foi por pouco. Logo depois, uma lebre saltou da berma, mesmo quando eu ia a passar, mas estancou a tempo.
Casal da Serra, 6.10h. Ponto de encontro e partida. Amanhece. Está abafado, a terra sente-se quente, nem uma brisa!
Passamos a casa alpina de Salles Viana e contornamos a serra, sempre a meia altitude, em direcção a Castelo Novo. Às sete horas, levanta-se finalmente o vento, no seu trabalho de misturar o ar frio dos altos com o ar quente dos baixos. Já não era sem tempo! Vai refrescar-nos até ao regresso, já perto do Cavaco.
Encontramos dezenas de gafanhotos no saibro do caminho, admiramos os bonsais nas rochas e encantam-nos a formas das pedras, cada um a ver nelas coisas diferentes. Paramos constantemente, para gozar cada pormenor. As crianças ajudam-nos a redescobrir o que já esquecemos.
A chegada ao talefe do Castelo Velho faz-se aos ziguezagues e a pulso. Transpomos as muralhas derramadas pelo declive, contornamos penedos, puxamos uns pelos outros. No alto, o fresco da ventania e a planície aos nossos pés!
Falamos dos castros do anel montanhoso que fecha o horizonte e relembramos a batalha da Oles, a ajuda dos nossos antepassados a D. Afonso Henriques, a fundação de São Vicente e a construção dos castelos preventivos no Louriçal e em Castelo Novo.
Lanchamos e regressamos. Já são dez horas!
A descida custa mais do que a subida. A brisa fresca ficou lá pelos altos e o areão do caminho ameaça-nos com uma escorregadela. Chegamos, vermelhos como tomates, o Augusto às costas do pai. Mas sem pressas, com medo de esquecer o gosto que nos ficou do sabor das coisas que valem a pena.


A razão desta aventura.


Um sobrevivente. Ao fundo, à esquerda, o Castelo Velho.


«- Encontrei um pedacito da muralha ainda intacto!»

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