sábado, 22 de janeiro de 2011

Mais do Pistotira

O tempo
Luís Rodrigues, o menino que correu atrás da mãe e viu o Pistotira ser preso em casa do irmão Zé Maria, fez 79 anos há poucos dias e disse-me que, naquela época, tinha 7 anos. Assim, esta história terá ocorrido cerca de 1939.

O espaço
A história desenrolou-se na Barroca, na Tapada de Dona Úrsula e na Praça: taberna do Arrebotes e antiga Câmara.
A Barroca situa-se acima da Lajes, junto à laje e presa do Paço. Nesse local, o vale afunila e existem muitas captações de águas, em minas e represas (presas), para regadia.
Na altura, só existia uma habitação, na Tapada da Dona Úrsula. A partir de meados do século, foram construídas mais três: uma de Manuel Candeias e Carlota Prata, outra de José Candeias e Estela Prata e uma terceira de António Teodoro e Maria da Luz Prata, os meus pais.
A taberna do Arrebotes situava-se na casa números 26 e 28 da Rua do Beco. Mas não era do João Jerónimo, por alcunha dos Arrebotes, mas sim dos pais da mulher dele, Maria de Deus. Como o João dos Arrebotes também lá vivia e trabalhava, o povo dizia que era a taberna do Arrebotes. Anos mais tarde, o João Jerónimo e a Maria de Deus viveram e exploraram uma taberna na Rua da Igreja, onde os conheci, nos anos 60.
A prisão do Pistotira na antiga Câmara terá sido uma das últimas utilidades do edifício, antes de ser adaptado a Escola Primária, obras que se realizaram pouco tempo depois. A lareira, numa sala ao fundo do corredor, já existia desde o tempo em que ali funcionava a Câmara. Havia uma latada encostada ao edifício, do lado do Largo Hipólito Raposo, onde hoje se situa a sede da Junta de Freguesia e na altura funcionava a Regedoria.


Legenda: 1 - Barroca; 2 - Tapada da Dona Úrsula; 3 - Praça (taberna do Arrebotes e Câmara).


A residência do José Maria e da Maria de Jesus, onde o Pistotira pediu para o deixarem aquecer-se. A presa foi, depois, substituída pelo tanque, mas situava-se mais perto da casa.


A entrada da casa, onde o Pistotira foi bater. Na época, tinha uma porta de madeira. A cozinha era à direita. O postigo, na imagem, era o do corredor para a sala, pois o postigo da cozinha fica à direita, do outro lado da casa. Não o fotografei, porque está tapado com silvas.


Esta quelha/vereda sobe na perpendicular à Rua da Cruz. Foi por ela que os homens desceram, com o Pistotira a arrastar. Não está traçada no mapa acima apresentado, do qual apenas consta a outra quelha.


Casa da Rua do Beco, ao lado da Praça, onde era a taberna do Arrebotes. Seria na porta da esquerda, pois a da direita tem a escadaria para o 1.º andar.

As pessoas
Miguel Rodrigues e Ana Prata viviam na Barroca. Ele era sapateiro e ela doméstica, além do cultivo dos leirões abaixo da casa. Tiveram 10 filhos.
O filho João Rodrigues, conhecido por João Coxo, era alfaiate e morava no Largo Francisco Caldeira, na casa e quintal mesmo junto à Fonte Velha. Teve uma taberna nesse local.
O filho José Maria Prata(ou Rodrigues?) casou com Maria de Jesus Carvalho e viviam na Tapada de Dona Úrsula. Na época desta história, tinham três filhos: o João, que veio à porta, o António e José, ainda muito pequeno, a viver atualmente em São Vicente e que me deu estas informações. Tiveram, depois, mais dois filhos, a Maria de Jesus e o Miguel. Cresci junto a eles. O José Maria ia aos quintos para o Alentejo e trazia muita semente como pagamento. Nós comprávamos-lhe trigo e centeio, para mandar moer ao moleiro da Torre.
O filho José Rodrigues namorava a Maria de Jesus Barroso, que vivia com os pais no Cimo de Vila, numa casa da Rua da Cruz, a fazer esquina, pela parte de cima, com a Rua Manuel Simões. Casaram e fixaram residência numa casa mesmo em frente, onde a Maria de Jesus ainda vive, pois o José faleceu muito jovem, deixando os filhos ainda pequenos.
A filha Palmira Rodrigues casou com Joaquim Craveiro. Este foi trabalhar para França, onde a mulher e os filhos se lhe juntaram. Faleceu há pouco tempo, mas a Palmira ainda é viva. O João Maria Rodrigues Craveiro, autor de um dos comentários ao conto "O Pistotira", é filho deste casal.
O filho Luís Rodrigues casou com Tomázia da Conceição e foi sempre lavrador, primeiro com bois e depois com trator e ovelhas. Acabou por comprar a casa do café da Tia Eulália, na Rua do Beco. Explorou o café por uns tempos, mas já o fechou há anos e adaptou o espaço a habitação.
A filha Cecília foi viver para a Covilhã e faleceu há cerca de 6 anos.
O José Pedro, conhecido por Zé Gato, morava ao Cimo de Vila, na casa da esquina da Rua Manuel Lopes com a Rua Manuel Simões. Nos anos 60, ainda ali conheci a sua esposa, já viúva, conhecida por Maria José Gata. Gata porque era a mulher do Gato.

6 comentários:

José Teodoro Prata disse...

Faço, habitualmente, as publicações, na sexta à tarde ou no sábado de manhã. Neste fim de semana, tive de ir primeiro a São Vicente tirar as fotografias. Por isso só publiquei no sábado à noite.
Revi agora o trabalho e estava cheia de gralhas.
As minhas desculpas aos leitores que assim o encontraram.
Sou da geração anterior à informática, por isso não a uso como peixe na água. Além do necessário pousio que os textos devem ter depois de escritos, pausa que eu nem sempre tenho condições de cumprir, existe para nós, os que aprendemos a escrever em papel, a dificuldade de detetar as gralhas. O texto está na nossa cabeça, certinho, por isso não vemos as gralhas no computador. Lemos o que temos na cabeça e não o que está escrito.
Vem isto também a propósito de outras gralhas. Há dias, reli os artigos sobre Robles Monteiro e encontrei gralhas esquecidas, eu que os relera tantas vezes, na altura da publicação.
Agradeço aos leitores que me avisem das gralhas, pelos comentários ou pelo e-mail acima apresentado.
Obrigado.

Anônimo disse...

Ola, sempre a espera de novidades da nossa terra e muito interessado na historia da minha familia,acho que fizeste duas confusoes: os meus avos Miguel RODRIGUES e Ana PRATA tiveram 10 filhos e o meu tio Joao COXO nunca foi para a França mas sim a mulher que depois de viuva foi para a casa da filha em LILLE.
Desculpa pelos erros mas nao tenho muitas ocasioes de escrever portugues e o meu computador nao tem corretor portugues porque estou em França.

Joao Maria CRAVEIRO

Paulo Duarte de Almeida disse...

A Mari'Zé Gata também merecia um post aqui no seu blog. Também ainda a conheci. Sempre à janela e a praguejar. A minha avó (Maria da Anunciação Moreira) fazia parte do grupo de pessoas que de tempos a tempos lhe iam dar banho e uma vez ela queria fugir de casa e a minha avó teve de descer a escada a correr à frente dela e acabou por partir um braço...

Paulo Nicolau

Anônimo disse...

Bem-haja José Prata pelos bocadinhos de historia do nosso Sao Vicente que são como docinhos. Gostei de ver a foto do caminho da tapada D Ursula que é actualmente dos meus pais. Valentina

Anônimo disse...

Desconhecia esta história. Fico é na dúvida. O termo "Pistotira" era atribuído a algum "bandido" famoso nessas alturas ou era uma expressão utilizada comummente para identificar ladrões?
Um abraço pelo excelente trabalho e blog.

José Teodoro Prata disse...

Anónimo:
De fato, este bandido era conhecido por Pistotira. Não era o nome dele, mas alcunha. Parece-me que existe uma canção popular com o termo Pistotira, pelo que este seria o nosso Pistotira, pois o termo era usado para designar outros bandidos.
Os acontecimentos relatados são reais. Como me disse o senhor Luís Rodrigues, "Sabemos o que se passou até à fuga dele, porque estávamos cá e vimos, o resto sabemos porque se contava."