sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O nosso falar: gravanada

Ontem o dia esteve de gravanadas.
Fui a São Vicente. Sobre Almaceda e a Partida caía uma chuva forte, mas na Vila ainda brilhava o sol. A caminho do Ribeiro de Dom Bento, parei o carro para limpar a terra de uma valeta, pois a água abre sulcos no caminho. Mas caiu uma gravanada e tive de fugir para o carro. Depois estiou. Na descida do Carvalhal Redondo, nova paragem por causa de uma valeta cheia de caruma. Continuei caminho e outra gravanada obrigou-me a esperar, à chegada.
Parou de chover e fui colher alguns diospiros atrasados e depois apanhei as poucas castanhas que os esquilos deixaram para mim.
"Obrigado, esquilos. Para o ano, nem vale a pena tapar os ouriços com a rede. De uma forma ou de outra, são vossas. Sirvam-se à vontade!"
Enchi o peito do ar da serra, espraiei os olhos pelas minhas árvores e vim para a Vila. Almocei com a minha velhota e nova bátega forte, mas esta apanhou-me debaixo de tecto.
Regressei e fui dar aulas. Faltavam 15 minutos para o toque de saída e começou a ficar muito escuro. Depois um vento violento atirou gotas grossas contra as vidraças. Nenhum aluno trouxera proteção para a chuva e quase todos iam para casa a pé. Parecia que nunca tinham visto chover!
E eu a tentar acabar a matéria: "Estejam descansados. À hora de saída já passou. Hoje esteve assim todo o dia, as chuvadas não demoram mais de 10 minutos!"
"Se estiver a chover à saída e nos molharmos, a culpa é do stôr!"
Deixou de chover antes da saída e eu próprio vim a pé para casa.

Gravanada é uma chuvada curta e intensa. Se ainda houvesse gente como antigamente, diríamos gravaneda ou até graveneda. Mas agora andamos todos muito finos...

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá a todos…
Sem duvida que este “sitio” é uma lufada de ar fresco…
É muito bom ler expressões que são tão nossas, como se fosse uma expressão banal e corrente.
Prf. Ao ler os seus textos é como se regressasse ao passado, e ouvisse os meus avos a falar (que saudades).
Quando era mais “garoto” era normal ouvir essas palavras nas fases que genuinamente saiam da boca dos Vicentinos…
Agora com a influência dos meios de comunicação e o normal aumento da cultura do povo…
Essas frases que há 20 anos eram banais, vão desaparecendo com a chegada de “cenas novas”… e com ela a nossa identidade, o Dialecto Beirão, quilo que nos distingue dos “outros”…
Tal é esta confusão que qual o meu espanto que algum tempo a traz fui convidado para assistir a um espectáculo folclórico e etnográfico em Castelo Branco que consistia entre danças tradicionais também um teatro para demonstrar ao publico como se vivia uma romaria naquela época (gostei muito confesso) … mas nos diálogos qual o meu espanto que muitas das palavras e expressões utilizadas, não eram albicastrenses mas sim Alentejanas…
É por isso que lhe proponho um repto.
Na continuação do bom trabalho que o senhor tem feito em prol das raízes Vicentinas…
Porque não, a partir de hoje, sempre no final dos seus textos descodificar uma ou duas palavras do “dialecto”…
Sendo 2011 o ano do Voluntariado, e este Blog se não uma forma do mesmo…
Obrigado a todos por me ajudarem a “regressar ao Passado”…
Pedro G.

José Teodoro Prata disse...

1. Esta gente do campo albicastrense já é meio alentejana! O meio físico e a cultura são muito parecidos e a região de Castelo branco está cheio de gente que migrou do Alto Alentejo. Nós, os serranos da Gardunha, pertencemos a outra cultura, ainda com muitas influências do Norte. Aliás, segundo os estudiosos, é a nossa serra que divide em dois o país físico e cultural.
2. Não me é possível satisfazer-lhe o desejo de analisar, um ou dois termos locais, no final de cada artigo.
Frequentemente, estas publicações são feitas em pequenos intervalos da minha actividade docente e nem sempre tenho tempo para preparar material deste tipo. Além de não ser formado nesta área.
3. De facto, encaro este meu contributo como um serviço público que presto à nossa comunidade.
E os comentários aqui publicados também o são, pois completam ou mostram um aspeto novo das questões aqui aboradas.