domingo, 2 de dezembro de 2012

Genealogia de um beirão restaurador

A existência de Portugal e a qualidade de ser português devem-se a homens e mulheres que, em vários momentos da nossa história, teimaram em manter uma individualidade própria neste nosso berço à beira mar plantado. São Vicente da Beira não se alheou deste esforço colectivo de afirmar a nossa identidade nacional.
Os moçárabes desta região lutaram ao lado dos guerreiros de D. Afonso Henriques, na batalha da Oles, ainda Portugal era pouco mais que um sonho. Em 1385, os castelhanos foram barrados em Aljubarrota pelo vicentino D. Fernando Rodrigues de Sequeira e um punhado (de poucos milhares) de heróis que desprezaram as suas vidas em troca do ser português. Em 1640, António de Azevedo Pimentel Galache, capitão-mor de São Vicente da Beira, levantou a bandeira real portuguesa por D. João IV, na vila e depois em Castelo Branco. Deu-nos tanto e a nós basta-nos conhecê-lo melhor.


1. António de Azevedo Pimentel, fidalgo, casou com Isabel Ferrão Galache, de Castelo Branco, senhora de Felices, em Espanha. Tiveram:

2. Fernão de Azevedo, moço fidalgo da Casa Real, por Alvará de 1551. Casou, em 1567, com Leonor da Costa, filha de Gaspar da Costa, de S. Vicente da Beira. Neste casamento, foi testemunha Jácome de Sousa e Refoios, também de São Vicente, cuja mãe pertencia igualmente aos Costa e que foram antepassados dos condes de São Vicente.
Fernão de Azevedo casou, em segundas núpcias, com Maria de Brito, filha de João Homem de Brito e Clara Tavares, neta paterna de Vasco Homem de Brito, comendador de S. Vicente da Beira. Deste casamento nasceram 3 filhos, o mais velho dos quais foi:

3. António de Azevedo Pimentel Galache que nasceu em S. Vicente, no dia 07-10-1567 e aqui faleceu em 21-01-1643. Foi moço fidalgo e senhor de um morgado de bens de raiz em São Felices dos Galegos, herdado da avó Isabel Ferrão Galache.

Em 29-10-1731, António de Azevedo Pimentel Galache foi testemunha, em Castelo Branco, do casamento de António Feio da Maia e Almeida, natural de Abrantes, e Oriana Maria Brígida de Brito e Fonseca, de Castelo Branco.

Um documento da mesa do Desembargo do Paço, de 24 de Julho de 1641, refere-se-lhe como sendo «Antonio de Azevedo Pimentel fidalgo da casa de V. Majestade morador na vila de sam Vicente da Beira…».
De seguida, informa que ele era possuidor de um morgado de bens de raiz na vila de São Felices dos Galegos, Reino de Castela, no valor de mais de vinte mil cruzados, confiscado pelos espanhóis logo após a Restauração da independência, em Portugal.
Por isso se queixava de não poder viver conforme a sua qualidade, apesar de ter sido o primeiro a aclamar D. João IV em S. Vicente da Beira, tomando a bandeira real nesta vila e depois em Castelo Branco.
E pedia que lhe fosse dado um morgado na cidade da Guarda, propriedade de um castelhano de Cidade Rodrigo, no mesmo valor do que perdera, oferecendo-se para servir na guerra (da Restauração) com dois sobrinhos e cunhados.
O Desembargo do Paço pediu informações ao Corregedor da comarca de Castelo Branco, o qual confirmou tudo o que o capitão-mor de S. Vicente da Beira tinha argumentado. Face a esta informação, a Mesa do Desembargo do Paço sugeriu a Sua Majestade que lhe fosse dado o morgado da Guarda, conforme requerera.

António de Azevedo Pimentel Galache casou com Maria de Lemos Pereira, natural de Almeida, e, em segundas núpcias, com a sobrinha Joana da Costa, filha de António de Brito Homem, natural de S. Vicente da Beira, e de Luísa da Costa, de Castelo Branco. Deste casamento nasceu:

4. Tomás Fernando de Azevedo Pimentel, nascido em S. Vicente da Beira, a 07-03-1642. Tornou-se moço por alvará de 1653. Foi padroeiro do Convento da Graça (atual Santa Casa da Misericórdia), em Castelo Branco. Casou com Josefa Micaela de Freire de Avis e tiveram:

5. António de Azevedo Pimentel Galache.

BIBLIOGRAFIA
Hipólito Raposo, Um Beirão Restaurador, "Oferenda", Lisboa, 1955
Manuel Estevam Martinho da Silva Rolão, “Famílias da Beira Baixa”, Lisboa, 2007
Manuel da Silva Castelo Branco, O Amor e a Morte… nos antigos registos paroquiais albicastrenses, Cadernos de Cultura “Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX”, N.º 7, Novembro de 1993
Eis os heróis do nosso tempo: equipados a rigor, sem temer o frio, depositaram um ramo de flores no nosso pelourinho, assinalando a Restauração da Independência de Portugal.

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