quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O nosso falar: aluada e crostos

Estive a comer requeijão e apetece-me escrever sobre os crostos, mas antes é preciso levar a cabra ao chibo, quando estiver saída, isto é, aluada.
Aluada deriva de lua, este satélite incansável, sempre a dar voltas à nossa terra, originando as fases da lua. E são elas que regem a vida dos agricultores (Semear um canteiro de couves no quarto crescente ou minguante?), o corte de cabelo (No quarto minguante, cresce mais devagar!(?)), o ciclo reprodutor da mulher (28 dias, tal como o ciclo lunar) e talvez também o das cabras. Pelo menos, o nosso povo diz de uma cabra com cio que está aluada.
Logo que a cabra começava a berrar incessantemente, tínhamos de lhe arranjar um chibo. Mas uma cabra não é como uma porca, despachada, a cabra requer rituais mais demorados. Ela e o chibo tinham de viver juntos, por uns dias. O melhor era pedir o chibo a um vizinho ou levar a cabra para um rebanho. No caso dos meus pais, o habitual era pedir ao primo Miguel Jerónimo que aceitasse a nossa cabra no seu rebanho.
Mais tarde, tivemos três ou quatro cabras e já compensava criar um chibo para as cobrir. Ficou nos anais da família o recado que o primo Luís Teodoro nos deixou escrito a carvão, na porta do palheiro do Ribeiro de Dom Bento (Julgávamos que ele não sabia escrever!): Levara o nosso xibo para o Mato Branco e vinha trazê-lo quando cobrisse as cabras dele. Ok, primo Luís, disponha sempre!
Bom, a cabra ficava pranha e depois era só esperar uns meses até chegar a altura em que já mal conseguia andar. E é agora que entram os crostos. Íamos todos ver a cabra a parir e ajudávamos os cabritinhos a pôr-se de pé e a encontrar a teta da mãe cabra. Por vezes, era logo ali que perfilhávamos um cabritinho e lhe dávamos nome (Estrelinha, invariavelmente, para uma chibinha com uma mancha branca na testa, Malhada, se tinha manchas de diferentes cores...). Eles mamavam pouco e a minha mãe ordenhava o resto do leite, para os seus filhos. Entretanto, eu apanhava as páreas e ia a enterrá-las.
Esse primeiro leite era diferente. Ao cozer, cortava, ficava quase requeijão, mas mais aguado. Eram os crostos, uma festa para a pequenada! Ainda hoje me engano e só me sai crostos quando quero dizer requeijão. 

Nota:
Alguns de nós, como eu, dizemos/dizíamos crostos, mas o termo correto é colostros ou calostros, o primeiro leite das mães, humanas ou animais, após o parto. É um leite muito rico em nutrientes!
(Esta nota foi alterada a 03-01-21013)

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