sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A menina vendedora de leite

(Continuação de “A menina e o poeta”, publicada a 28 de fevereiro de 2013) 

Na quinta grande do senhor José Lourenço, havia muitos animais, entre eles havia vacas leiteiras que eram ordenhadas todos os dias e o leite era vendido a quem precisasse.
Havia dias em que a Menina ia vender o leite de porta-a-porta.
A bilha grande cheia de leite numa mão e na outra as medidas, o litro, o meio litro e o meio quartilho.
Dizia o senhor José Lourenço:
- Ó Eulália, tu vais pela rua a vender o leite e cantas:

Venha à janela
Tia Maria José,
E compre do meu leite,
Que é bom pró café.

Mas a Menina envergonhava-se de cantar na rua e batia porta-a-porta.
Assim que vendia todo o leite, regressava rapidamente a casa, de bilha vazia e o dinheiro da venda no bolso do avental.
Na casa grande da quinta muitas outras tarefas a aguardavam e não podia perder tempo.

Luzita Candeias

2013/09/14



Muro exterior do cabanão da quinta da Casa Conde
José Teodoro Prata

2 comentários:

Anônimo disse...

Luzita: pelas palavras que escreves, dás-nos imagens tão simples e delicadas quanto bonitas! Gostei especialmente do teu texto anterior, a prosa
poética 'Pelas ruas'. Tens razão: quantos sonhos, quantas vidas, quantos segredos aquelas ruas guardam! Testemunhas das correrias e gritarias da mocidade vicentina que por ali brincou e folgou! Sobretudo na praça (cujo largo ainda não era calcetado)! Havia quedas, cabeças partidas, pés a sangrar dos tropeções e das topadas! Porque muitos se descalçavam para correr melhor ou para não estragar os sapatos! Outros nem sapatos tinham! As solas dos pés como se fossem casco! Por isso, aquelas pedras conhecem-nos! Estão tão perto de nós, da nossa vida, que nos pertencem! É como se fossem nossas!
Acho que se sentimos isso!

Zé Barroso

Anônimo disse...

Belo pregão para vender o leite de porta em porta! Mas só um poeta (não sei se lhe ponha aspas) poderia imaginar a Eulália, ainda menina, a cantá-lo pelas ruas…
Ainda se fosse a Maria Maiaca ou o Pinura a apregoar:

Sardinha fresquinha! É boa e barata!
Vinte e cinco tostões o quarteirão!

Que fartura! E era cada tora! Cada uma dava para dois ou três…

M. L. Ferreira