terça-feira, 12 de agosto de 2014

José Hipólito Jerónimo


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A ribeira de São Vicente
Uma das coisas boas do Casalito era a proximidade da ribeira, que lhe corria aos pés. O nosso terreno descia, aliás, mesmo até ao ribeiro do Casal da Fraga e à ribeira. Assim, pode-se dizer que nascemos e crescemos quase com os pés dentro de água, o que facilitou a nossa habituação à mesma e a aprendizagem da natação que a mim me serviu otimamente pela vida fora.
Claro que, como não podia deixar de ser, a ribeira também me valeu algumas arrelias e puxões de orelhas. Isso acontecia principalmente quando as minhas irmãs me escondiam a roupa – roubavam o fato – enquanto eu nadava. Nesses casos, tinha de ir em pelota, encostado aos muros dos leirões da barreira, até quase junto de casa. Só aí, finalmente, no último leirão, me diziam onde estava a roupa…

Pinhos mansos, pinhões e ninhos de corvos
O pomar era um vasto terreno que consistia de bons lameiros junto à ribeira, alqueives de centeio na encosta e uma faixa de pinhal ao cimo. Pegava com a nossa propriedade e praticamente com a nossa casa. O pomar era atravessado por uma levada de água, que provinha da ribeira e do ribeiro do Casal da Fraga, separava os lameiros das barreiras e, um pouco mais adiante, abastecia um lagar de azeite e, mais abaixo, ainda uma azenha ou moinho. 
No pomar, logo por cima da referida levada de água, erguiam-se dois enormes pinhos mansos que eram a nossa delícia. Eram enormes e muito copados, principalmente um deles. Forneciam-nos - davam-nos - pinhões que apanhávamos à vontade, principalmente a seguir a dias e noites de vento.
Estes pinhos tinham ainda um outro encanto. Todos os anos ali nidificavam corvos que constituíam uma ameaça para as nossas galinhas e respetivos pintos, mas também nos proporcionavam um passatempo muito divertido. Mal os filhotes deles começavam a ensaiar os primeiros voos, já nós estávamos à espreita para os apanhar, logo que poisavam. O que nós nos divertíamos com eles! Despontávamos-lhes as asas de modo que, durante alguns dias, não conseguiam levantar voo.
Era interessante assistir às suas infrutíferas tentativas para voar, mas também ao momento em que o conseguiam. Até lhes batíamos palmas!
(...)

Este trecho é só para abrir o apetite. O livro está à venda na Junta de Freguesia de São Vicente da Beira, a um preço quase simbólico.
Todos nós temos uma história. Esta é de um vicentino que nasceu em São Vicente, deu a volta ao mundo e está sempre de regresso a casa.

José Teodoro Prata

Um comentário:

Vitor B. disse...

Pelo "aperitivo", já não parava! Reconheço a prosa, estou curioso pela emoção!