quinta-feira, 30 de julho de 2015

A Guerra Colonial


"Memórias da Grande Guerra" que a Libânia explanou de uma forma magistral trouxe-me à memória outras guerras, outros combates nossos contemporâneos.

As guerras que se desenrolaram nas antigas províncias ultramarinas. Salazar foi um governante "teimoso", nunca se quis sentar a uma mesa frente a frente com os nacionalistas africanos, há muito que os locais ambicionavam pela independência, de vez em quando uma escaramuça, avisos...
No dia 4 de Fevereiro 1961, a "bernarda" deu-se. Militantes do MPLA assaltaram a esquadra da PSP de Luanda. Dessa refrega morreram 7 polícias. Joaquim Batista era um jovem polícia, cheio de ambições com certeza; 24 anos, na força da vida... O seu funeral mobilizou a população dos Pereiros, onde tinha nascido. A vila parou. A sua campa encontra-se à entrada do cemitério velho. Guarda Nº 9   95/13882   Luanda 4-2-1961
A partir dessa tragédia, os nacionalistas empreenderam uma guerra sangrenta que dizimou milhares de jovens:

Joaquim Romuaddo Mesquita, furriel miliciano. Não morreu em combate. Um trágico acidente de viação roubou-lhe a vida, naquele fatídico dia 5 de Novembro 1963.

Joaquim Mesquita era bonacheirão, alegre... Está sepultado em Bissau no ossário da Liga dos Combatentes.

O João Ambósio, era nosso vizinho, recordo o dia da sua partida. A mãe, qual Madalena chorava, os irmãos, os vizinhos choravam também. Foi uma partida dolorosa, o João era um homem bom. Eu vou, mas não volto. A premonição cumpriu-se. No dia 5 de Setembro 1964, o soldado João morreu ao serviço da pátria. Está sepultado em Cabinda, no talhão militar.

José Maria dos Santos, vivaço, um amigo, tínhamos a mesma idade. Ainda veio à "metrópole" gozar umas merecidas férias. Quando regressou, algumas semanas depois, aconteceu o pior. Ele e mais alguns camaradas soldados estavam a atravessar uma ponte, de repente começaram a "chover" balas, tombaram 4 soldados. Os camaradas de armas edificaram um memorial no meio da ponte, onde colocaram os nomes dos que caíram naquele fatídico dia. Morreu na Guiné, no dia 4 de Junho 1973, e está sepultado numa campa própria, no cemitério da vila vicentina.

No dia 19 de Fevereiro 1971, faleceu em combate o soldado Francisco António Pires. (Não sei qual a aldeia da nossa freguesia onde nasceu)


Tanto sangue se derramou, tantas tragédias, promessas, lágrimas, pedidos ao Senhor Santo Cristo...
Bom seria que as autoridades recordassem todos aqueles que tombaram ao serviço da Pátria, edificando um memorial...

Tal como um rastilho, as revoltas sucederam-se em catadupa. No final de 1961, Nehru invadiu Goa, Damão e Diu, com milhares de soldados e armamento moderno. Os portuguese eram poucos, cerca de 3000, armas obsoletas. Salazar mandou dois telegramas para o governador: Lutem, sejam patriotas, lutem até à morte.
O governador rendeu-se. Para Salazar, este gesto foi um ultraje. A "coisa" esteve feia, porque três soldados tentaram escapulir-se do campo de concentração, num camião do lixo. Valeu a coragem de um jesuíta, o tenente capelão Ferreira da Silva. Os soldados tremiam, o pelotão de fuzilamento esperou ordens, foram horas dramáticas, rezavam, pediam clemência...
O paquete Niassa transportou-os para Portugal. Quando chegaram a Lisboa, foram considerados traidores, pelas autoridades. Metidos em vagões de animais, foram levados para o forte de Elvas. Meu Deus, como é possível tal vexame, Salazar preferia que tivessem morrido!
Estavam dois soldados vicentinos: o meu tio António e o Albertino A vila soube recebê-los com dignidade. Quando desmontaram da camioneta da carreira, esperava-os o povo em peso, a banda abrilhantou aquele momento de alegria.
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..Os homens fizeram
Um acordo final
Acabar com a fome
Acabar com a guerra
Viver em amor
Duo Ouro Negro

J.M.S

3 comentários:

José Teodoro Prata disse...

Sou da geração anterior à guerra, aquela que estava à rasca com a hipótese de ser enviada para o Ultramar, quando se deu o 25 de Abril. Depois, felizmente fez-se o que nem Salazar nem Marcelo tiveram a sabedoria de fazer, mas que todos as potências coloniais já tinham feito. Por ser fora de horas é que a descolonização portuguesa foi tão dolorosa.
Lembro-me do Zé Maria, já rapaz, a descer a barreira com um molho de mato e correr atrás de mim e dos meus primos que brincávamos no rego junto às casas da Tapada.
E do meu primo Tó (Spínola) da ti Marizé, que um dia correu toda a Vila e arredores a despedir-se da família, embora dissesse que não ia para África nessa semana, mas só na outra. Voltou anos depois, numa Sexta-Feira Santa, com a cara queimada, depois de meses de internamento no Hospital Militar.
Ou do Joaquim da Marta, regressado da guerra todo nervoso, que parou as Festas de Verão à porrada com outro paraquedista do Sobral, por causa de uma miúda. Valeu-nos o João Chadão, sargento dos paraquedistas, que foi a casa buscar a pistola e deu um tiro para o ar à entrada da festa, acalmando os praças.
Tempos difícieis!

Anônimo disse...

Tempos levados do diabo aqueles;nossos pais sofriam e nós também
Antes das guerras coloniais era uma "desgraça" para os mancebos que ficavam livres à tropa(não podiam entrar para a PSP; GNR...)Com o eclodir das revoltas, feliz era o que ficava livre (raro)
Para mim, aquelas guerras não tinham razão de existir, antes de ir à inspeção "dei o salto" para a França...
Sempre acompanhei com interesse o desenrolar da situação colonial através dos jornais.
"La Montaigne", jornal de Clermont Ferrad escrevia:
-No dia 1 de Julho de 1970 na habitual audiência papal das quartas- feiras o papa Paulo VI recebeu Amilcar Cabral, Agostinho Neto e Samora Machel."Après l`audience accordée aux révolucionnaires africans" PAUL VI RESTE FIDÊLE À LUI_MÊME.
Quem ficou embaraçado com esta tomada de posição foi o governo português.(Em Lisboa caiu o Carmo, a Trindade...)O governo chefiado pelo professor universitário Marcelo Caetano, aguentou através da censura os despachos das agências até sábado, domingo Lisboa despovoava-se para as prais...
Continuava o jornal:-Nas grandes cidades a população está ao corrente por causa das rádios estrangeiras, mas os comentários são discretos ou inexistentes.
Este gesto do papa teve uma opinião nada favoravel na população que está habituada a ver nos nacionalistas africanos "assassinos de cristãos"... e por ai fora...
A saudade é terrivel, não segui o conselho de Jean Marie meu chefe e amigo. "Dos Santos, eu andei na guerra da Argélia; a França é a França e teve que a entregar" Não queiras ir, Portugal mais ano menos ano tem que dar a independência a Angola, Guiné e Moçambique
Refractário, desertor; regressei...
Foram sete longos e penosos meses, quinze dias antes de embarcar para Angola: sai...
J.M.S

Anônimo disse...

As Guerras são a coisa mais feia que pode haver à face da terra, como dizia o senhor António Matias, principalmente quando são motivadas por ideais políticos completamente ultrapassados. Foi o caso da Guerra Colonial, com tantos soldados mortos de um lado e do outro, e tantos outros crimes que por lá aconteceram envolvendo civis que nada tinham a ver com a guerra.
Não sabia que tinham lá morrido tantos militares da nossa freguesia, e que, de alguns, nem sequer repatriaram o corpo; mas lembro-me bem do aperto de coração das mães, no dia da inspeção, antecipando a tristeza da hora da partida dos filhos para o Ultramar.
Em Lisboa, na zona de Belém, existe há alguns anos um memorial com uma parede imensa cheia de nomes. São tantos que procurei o nome do Zé Maria, o único de que me lembrava bem, mas desisti porque foi quase como se procurasse uma agulha num palheiro.
Não temos por cá nenhum memorial aos soldados da nossa terra, mas este texto é uma grande homenagem a todos.

M. L. Ferreira