terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Pachouchadas

Pachouchadas é o que eu escrevo aqui, nos Enxidros, segundo a minha mãe.
A cada história que publico, à primeira ida a São Vicente lá vem o mimo de pachouchada. Porque acha que o que escrevi é mentira, sobretudo por termos recordações diferentes dos mesmos acontecimentos ou porque acha um monte de disparates inúteis muitas das coisas que eu aqui recordo.
Assim, pachouchadas serão mentiras ou coisas que se dizem sem qualquer valor, baboseiras, disparates.
Embora eu considere que quase tudo o que escrevi nas histórias se baseava em factos verídicos e por isso normalmente não concorde com a minha mãe, neste ponto, casos houve em que tive de dar o braço a torcer.
A primeira vez foi na história O lobo branco, em que inclui algumas das mais fortes recordações da minha infância. Na altura, foi a Luzita Candeias que me meteu na linha e tinha razão. Falei com a minha mãe e com a tia Eulália e afinal o tio Joaquim Nicolau não fora ao mercado do Fundão, estava era de regresso da Covilhã, onde na altura trabalhava. E aquela do lobo branco lhe ter aparecido era mesmo treta minha!
Mais recentemente, depois do texto Misericórdia, o Zé Manel escreveu sobre o Zé Raimundo que foi despejado de casa, passou a viver na praça e acabou a dormir no cabanão, onde morreu, abandonado. Para o Zé Raimundo, não teria feito muita diferença ficar metido numa gaiola na praça, mas com direito a comida, ou totalmente abandonado, sem um teto, nem comida. Eu recordava-me da história que o João Paulino me contara e parti do princípio que ela se passara ainda no século XIX, nos últimos anos do nosso concelho.
Agora foi a história Um herdeiro. Parti da história que o tio Joaquim Teodoro me contou, na altura já com mais de 100 anos, e o resto inventei. Mas a Libânia pôs-se a vasculhar e num instante descobriu uma catervada de filhos ao visconde.
Vou tentar descalçar esta bota, a ver se arrumamos isto antes do Natal.

Este senhor visconde da minha história foi o Excelentíssimo Senhor Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara, vereador e depois presidente da Câmara Municipal de São Vicente da Beira, nos anos 70/80 do século XIX. Herdou o título de 2.º visconde de Tinalhas, sucedendo a seu pai José e transmitindo-o ao seu filho José. Este não teve descendência, tendo falecido em 1972. E com ele o título.

Então,  quem terá sido a criança que, na calada da noite, foi levada para a residência do senhor visconde, segundo o tio Joaquim Teodoro?
A única hipótese que me permitiria sair desta pachouchada, com alguma dignidade, é a seguinte:
O senhor visconde teve uma data de filhas e no meio um filho, o Teodoro, que morreu logo, como está escrito no registo. Vendo-se sem descendência masculina para continuar a linhagem, "obrigou" a esposa a simular uma gravidez (esta não é minha, é do ti Jaquim), a fim de legitimar um menino que nascera de uma das várias moças com quem se encontrava, secretamente.

Deixo-vos os registos que a Libânia tirou na net, a fim de poderem testar esta minha tese.
Mas não faço juras de vos livrar de novas pachouchas!

Bom Natal para todos!

José Teodoro Prata







M. L. Ferreira

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito da história Um herdeiro e, mesmo ficando na dúvida se seria ou não verdadeira (também não era isso o mais importante), fui à procura de um registo de batismo que correspondesse ao menino da história. Fiquei admirada de encontrar logo uma Maria e a seguir mais uns poucos de filhos do Excelentíssimo Senhor Tomás de Aquino Coutinho Barriga…. 2º Visconde de Tinalhas.
Mesmo correndo o risco de pretender estar a ensinar o Pai Nosso ao padre, partilhei este achado com o José Teodoro, mas era ao historiador e não ao contador de histórias que me dirigia.
Agora, estou quase a sentir-me como um daqueles miúdos desmancha prazeres que resolvem quebrar a magia e dizer aos irmãos mais novos que o Pai Natal não existe. É que as pachouchadas às vezes são bem melhores que a realidade.
Estamos quase lá outra vez... Feliz Natal para todos!

M. L. Ferreira

Unknown disse...

Zé, agora ao ter tempo para ler os recortes do Jornal do Fundão (etnografia do Fundão,recolhido desde 1919 pelo Dr. José Monteiro e divulgado pelo Sr. Bartolomeu Monteiro) que guardei desde a juventude, descobri que esta palavra, com grafia diferente ( Bajouja), já se utilizava desde 1841 na zona do Fundão.
Beijos
Isabel