segunda-feira, 10 de julho de 2017

Vila-poema

VILA DA MEIA SERRA 

Vagas verde-escuras dos pinheirais,
Mar ameno de agulhas fremente,
Levantado pela aragem da Gardunha,
Meu olhar de menino,
Desfazendo-se a poente,
Onde, ao cair do dia,
O sol de ouro metálico se punha.

Vale das encostas da serra,
Em que fraldejam casas,
Assentes no granito rijo e puro,
Casario a estender-se pela terra,    
Telhados vermelhos,
Paredes brancas de cal e pedra alva,
Mescladas de sombras do xisto escuro.

Do ventre da guardiã granítica,
Nasceste quase na raia de Espanha, 
Montes por onde lutou o bravo lusitano,
Do primeiro e do segundo reis, vila mítica,     
Que os ares gelados da estremenha,
Fustigam, danados, no inverno,
Como nos agrediu o soberbo castelhano.

Os olivais também ondeiam pelas hortas,
Revirando as folhas no gris dos dias de novembro,
Em maio exibes o imenso amarelo das giestas,
Em janeiro, o branco da neve e o negro das azeitonas,
No verão, as cerejas rubras,
E os cachos de uvas roxas em setembro,
Como bandeirinhas na praça pelas festas.

Vila robusta, feita de pedra, até à alma,
A ribeira rega-te, no verão, os lameirais viçosos,
Enquanto no verde dos cômoros do caminho,
Esvoaçam folhas, ao de leve, em tarde calma,
Como o melro roça a asa nos olmos frondosos,
Onde, furtivo, vai dar de comer aos filhos,
No aconchego do arbusto em que fez o ninho.

Terra de séculos, dos tempos idos da história,
De muitíssimas gentes e grandes eventos de outrora,
Mas também de desgraças e de concelhos perdidos.    
Destes, quero esquecer-me e guardar, somente, na memória,
Os júbilos e contentamentos antigos, as festas e romarias,
Porque as coisas vis e a má fortuna, essas, lancei-as fora,
Como se tiram da lembrança os maus instantes e se deixam esquecidos. 

Joaquim Benedito

3 comentários:

Anônimo disse...

Dita assim, ainda fica mais linda a nossa terra!
E que bem ficaria este poema junto ao D. Sancho I, na nova praça…
Oxalá as sugestões aqui deixadas a propósito dos últimos artigos não se percam pelo caminho!

M. L. Ferreira

José Teodoro Prata disse...

Em verdade, em verdade te digo Benedito: isto é do melhor que já fizeste!
Por isso, após o ler, me saiu o título ao alto: Vila-poema.

Anônimo disse...


O Benedito tem uma ligação muito romântica com a Vila, pela maneira como o seu coração a vê. O poema tem umas imagens muito belas o que faz que a Vila fique mais linda do que é, como diz a ML e como diz o ZT há um crescimento no do poeta e um feliz momento de inspiração.
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