terça-feira, 5 de março de 2019

Carnaval


Hoje é Carnaval, ninguém leva a mal

Na Antiguidade, tanto os povos do Mediterrâneo, egípcios, hebreus, gregos e romanos, como os povos germânicos do Europa Central realizavam festas religiosas em que se agradeciam aos deuses as boas colheitas ou o fim de um ciclo de escuridão, o inverno, e a aproximação de um novo ciclo, este de luz. O carnaval seria então um ritual de passagem da escuridão para a luz, do inverno para o verão.
Todas estas festividades pagãs de povos tão diferentes, que se realizavam entre novembro e fevereiro, com duração variável, tinham em comum a inversão dos papéis sociais (homem-mulher, senhor-escravo) e a prática de diversão e de excessos.
Nos primeiros séculos do Cristianismo, vários concílios tentaram acabar com estas festas pagãs, mas sem sucesso. Por isso as cristianizaram, fixando-as nos três dias anteriores ao início da Quaresma, mas no dia seguinte lembrando aos homens que são pó e em pó se hão de tornar.
Assim, para os cristãos, no Carnaval é permitido fazer tudo o que apetecer, mas que é interdito na Quaresma, um longo período de jejum e abstinência.
Na povoação da Partida, até meados do século passado, os rapazes iam aos palheiros tirar palha para fazer os entrudos, uns bonecos de palha que vestiam com roupas de pessoas. Depois colocavam-nos no cimo de um pau comprido. Na tarde do dia de Carnaval, os rapazes levavam o entrudo numa carroça, pelas ruas, e todos gritavam e choravam. No final, queimavam-no.
Outra tradição era, na noite de Carnaval, irem para o telhado da capela gritar, com um funil, coisas caricatas e ridículas que tinham acontecido às pessoas da aldeia. Era a choradela de entrudo.

José Teodoro Prata
(Hoje, na Rádio Castelo Branco)

3 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Não sei se na Partida ainda conservam algumas destas práticas do Carnaval, mas há uma que se mantém, que é o "tirar o ramo". Em São Vicente já há muito que se perdeu, e é uma pena...

Anônimo disse...

O entrudo na vila era um tempo do faz de conta; alguns mais atrevidos pegavam num funil e com voz cavernosa pela calada da noite satirizavam factos que tivessem ocorrido durante o ano mofando; zombando, escarnecendo... "Choras de entrudo"; os visados ficavam danados.
Era o tempo das contra danças, caqueira, marra, da batota jogada na praça, do bater das moedas na parede da misericórdia...
Nestes dias a Guarda Nacional Republicana "fechava os olhos"
Havia muitos mascarados, vestidos a rigor que faziam momices, atiravam farinhas, farelos para as pessoas
Na contra dança não podia faltar a figura do arreda qual truão carregado de chocalhos dependurados à cintura vara na mão, tinha por missão não deixar aproximar em demasia as pessoas enquanto os elementos afectos à contra dança se exibiam e ele chocalhava, chocalhava.
A praça era o local privilegiado,mas também dançavam na fonte, cimo da vila, Casal, povoações vizinhas
Quarta-feira, terminavam as folias, começava um tempo de mortificações; "Lembra-te homem que és pó..."
A rádio iniciava um período de reflexão, as músicas que se ouviam tinham mais a ver com o sagrado, dai a palavra entrudo "intróito," significar que o fim do consumos de carne se aproximava, vem ai um tempo novo, jejuns, abstinências que terminam no domingo de Páscoa com a Ressurreição do Senhor
J.M.N

M. L. Ferreira disse...

Interessante essa figura do "arreda" nas contra danças! Faz lembrar os Caretos, mas esses não têm limites...
Que bom que estas tradições continuem a existir, por oposição a outras manifestações carnavalescas que nada têm a ver connosco, e que às vezes, só de olhar, nos deixam deprimidos.