segunda-feira, 27 de junho de 2022

O São João na Etnografia da Beira

 

Lembro-me da nossa banda tocar a música desta canção. Vem na Etnografia da Beira, II Volume, tal como a da Marcelada, que acrescentei agora à publicação A marcela do São João, de 23 de junho.

Segundo Jaime Lopes Dias, o autor da Etnografia da Beira, nos festejos do São João, por toda a Beira Baixa, queimam-se rosmaninho, alecrim e marcela, para que o cheiro e o fumo afugentem a bicharada que prejudica as pessoas, os animais, as casas e os campos. Em Outeiro da Lagoa (Sertã) até se esfumam com eles as casas, para evitar o horror das trovoadas, e os currais, para que as doenças não ataquem os animais.

Outra tradição celebra-se em volta das fontes, onde os ranchos de folgazões vão beber à meia noite a água de São João. Em certas povoações de Oleiros e Sertã ia-se de seguida regar as hortas. A água de São João era talismã para o todo o ano.

Em Tinalhas, na noite de São João, os rapazes iam às hortas colher flores e frutas e roubavam os vasos floridos das janelas das casas para os levarem para o campanário.

São também nossas estas tradições: as fogueiras de rosmaninho e marcela, a ida à fonte  (Velha e de São João de Brito na Praça) beber água, o roubo de frutas (a ti Rita a atirar ginjas às crianças) e o enfeitar das fontes com os vasos roubados (tradição que passou depois do São João (na fonte da Praça) para a festa da Inspeção (na Fonte Velha). E ainda as cabeleiras, sementeiras de cereais em local escuro de que resultavam lindos vasos com uma cabeleira de fios de um amarelo esbranquiçado. E claro, os folguedos.

Não encontrei no Youtube a canção acima apresentada, que nos é familiar, mas não resisti a estas duas:

https://www.youtube.com/watch?v=UtsdNMiIhS4

https://www.youtube.com/watch?v=XxFhSWUBOj4

(a música desta última tem parecenças com a das nossas Janeiras)

José Teodoro Prata

4 comentários:

José Barroso disse...

Afinal, parece que esta festa de S. João é mesmo do Batista! Isto, porque no calendário litúrgico católico, em 24 de junho, se celebra o nascimento daquele santo. Mas, insisto: uma das quadras, de que já não consigo lembrar-me, terminava com a frase "... ó meu S. João de Malta"! Nos versos do post pode, no entanto, ler-se uma referência a S. João Batista. Fica esta pequena dúvida.
Estive a ver os links para o you tube e, realmente, uma das músicas (a da Ronda dos Quatro Caminhos), é quase igual à música das nossas Janeiras.
Da obra do Jaime Lopes Dias "Etnografia da Beira", apenas tenho o livro índice, o que não dá para quase nada, mas fica-se com uma ideia geral. Tem as apresentações, os títulos e muitas gravuras e fotografias. A obra é, na verdade, apenas dedicada à Beira Baixa, embora as três Beiras possam ter muitas coisas comuns, como já pudemos concluir das semelhanças na música; e o mesmo, provavelmente, se passará com os costumes e tradições em geral.
De lamentar para as nossas memórias, são as alterações culturais das comunidades, em certo período, porque a passagem dos anos no-las faz ver com toda a nostalgia! Mas isso é algo que não podemos controlar, embora possamos recordar através dos registos que ficam, como no caso da "Etnografia da Beira". Pois, tudo isso, acompanha a mudança dos tempos e, como sabemos, as pessoas comportam-se e agem de acordo com as circunstâncias e realidade concreta das suas vidas.
Abraços, hã!
JB





José Teodoro Prata disse...

A festa é de São João Batista, mas o povo faz o que lhe apetece, é criativo. Nós por exemplo enfeitávamos a fonte da Praça no dia de São João, mas ela é dedicada a São João de Brito.

M. L. Ferreira disse...

Maravilhosas, estas versões do São João, tanto a da Maria Roque e Inês Bártolo, como a da Banda dos Quatro Caminhos!
Os versos deixadas pelo José Teodoro, não sendo bem os que cantávamos nas rodas que fazíamos à volta das fogueiras, desde o Cimo ao Fundo de Vila (e corríamo-las a todas), fazem lembrar esses tempos. A primeira quadra é quase igual, e havia até quem (não me lembro bem se eram se eram as catecistas)que diziam que era pecado cantá-la porque os santos não se interessam por moças, mas nós gostávamos muito dela, talvez porque aproximava os santos dos humanos...
Sobre o artigo anterior (o Festival Água Mole em Pedra Dura), é estranho que se tenham realizado os festivais de Castelo Branco e Sarzedas, e nas outras freguesias não se tenha programado nada. Será alguma discriminação pela cor política? Dificuldades de comunicação entre as JF e a Autarquia?
Tenho notado algum retrocesso na programação cultural de Castelo Branco, e até na divulgação de alguns eventos que se realizam. No tempo em que o Carlos Semedo era programador era muito fácil aceder à informação, agora é quase impossível, principalmente para que vive fora da cidade e não tem face-book. Não sei qual é a lógica do novo vereador quando põe o Carlos Semedo, um EXCELENTE programador, como foi dito, a exercer funções muito abaixo das suas capacidades (já o vi a servir de porteiro e na bilheteira do Cine Teatro), não que sejam funções menores, mas porque é um desperdício de talento.

José Teodoro Prata disse...

Não acho que o Carlos Semedo esteja a ser desvalorizado. Ele continua a ser o que sempre foi: o programador cultural do Cineteatro, que neste momento já está com uma agenda intensa.
Programou o nosso e outros festivais como vereador da Câmara, que neste mandato não é.
Quanto a ele fazer de porteiro, lembraste Libânia que ele na apresentação do nosso livro dos Combatentes da Grande Guerra carregou os materiais da apresentação e preparou a mesa, na Universidade Sénior. De facto é raro ver alguém "importante" fazer coisa práticas, mas ele faz!
Quanto às relações entre os eleitos do PS e os do Sempre, espera-nos um longo e doloroso processo clarificador, de que a nossa freguesia será uma das vítimas (oxalá que me engane).