Janeiro de Cima, à beira do rio Zêzere, é uma aldeia com a qual tivemos no passado (anos 70 do século XX) uma forte ligação, chegando até a realizar-se intercâmbios entre as duas povoações, organizados pelo Pe. Branco, que ali paroquiou.
Há anos, encontrei um documento escrito do século XVIII que
referia a existência em Tinalhas de um sítio chamado Jogo da Bola. Falei com a
Berta Ramalhinho e localizámos o referido topónimo nas cercanias da atual sede do Centro
Recreativo de Tinalhas. Que jogo de bola seria aquele que ali se jogara?
Ora recentemente fui a Janeiro de Cima visitar o meu amigo José
Cortes, regressado à aldeia após uma vida de missão na Amazónia.
O anfitrião fez uma visita guiada pela sua Aldeia de Xisto e
a certa altura chegámos à Rua do Jogo da Bola. Alto lá, o que é isto?
No momento passava na rua um senhor um pouco mais velho que
nós e a quem o Zé pediu a confirmação das suas recordações de infância.
Nos anos 50 e 60 do século passado ainda ali se jogava um
jogo com uma bola de madeira, feita de uma noça de pinheiro, acabada de
arredondar por um carpinteiro. Não havia equipas, o jogo era individual e a
ordem do lançamento da bola à mão era determinada por uma ordenação prévia
obtida pela pontuação de cada um ao lançar a bola contra uns paus colocados ao
alto, a certa distância.
Seguia-se o jogo propriamente dito. A bola era lançada por
cada jogador, o mais longe possível. Por vezes a bola rachava logo ao bater no
solo. Alguns jogadores que lançavam a bola até ao limite visível da rua tinham
a sorte de ali o chão começar a descer e então todos, jogadores e assistência,
se deslocavam para a parte da rua fora da vista, para conferir até onde fora a
bola. Ganhava quem a lançasse mais longe. No final, iam todos beber uns copos
para uma taberna que havia ali perto.
Era o jogo da bola, uma forma de convívio naquele Zêzere
profundo.
Nota: Desconheço se se escreve noça ou nossa, mas inclino-me
para a primeira; alguns pinheiros e outras árvores ganham, normalmente rente ao
solo, uma saliência arredondada a que o povo chamava noça (ou nossa).
José Teodoro Prata