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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

São Fiel, o que foi e o que é

Ainda vínhamos longe e já se avistava lá ao fundo, imponente e misterioso, a destoar do resto das habitações ali à roda. Ouvíamos dizer que era uma casa de correção para onde traziam vagabundos e malfeitores de todo o lado. A má fama aumentava-lhe o fascínio e o mistério, mas fazia-nos também tremer de medo, só de imaginar que algum poderia fugir e aparecer-nos à frente, como diz que às vezes acontecia.

Isto passava-se era eu ainda criança e, provavelmente, muito destes medos e fascínios eram fruto da idade e da ignorância, propícia a grandes confusões e fantasias. Mas nem sempre foi assim o Colégio de São Fiel, como ainda hoje lhe ouvimos chamar muitas vezes.

Naquele edifício, construído em meados do século XIX, começou por funcionar um orfanato que se destinava a acolher e educar crianças órfãs, pobres e abandonadas. Era também frequentado por crianças e jovens pobres das redondezas. 

A partir de 1873 passou a funcionar ali o Colégio de São Fiel que, na altura, era um dos estabelecimentos de ensino particular mais prestigiados do país. Estava a cargo da Companhia de Jesus. Os alunos eram os filhos das famílias mais conceituadas e abastadas da região, mas vinham jovens de todo o país para aqui fazerem os seus estudos secundários. Lá estudaram personalidades que se destacaram nas mais variadas áreas da vida do país: Afonso Costa, António Egas Moniz, Robles Monteiro, José Ramos Preto e muitos outros.

Com a implantação da República o Colégio de São Fiel foi extinto e, a partir de 1919, passou a funcionar como reformatório. Destinava-se a acolher e reeducar jovens delinquentes e marginais colocados pelo Tribunal de Menores. Para além da escolarização, os alunos podiam também aprender um ofício que lhes permitisse uma melhor integração social e independência financeira quando deixassem o reformatório.


Desde há mais ou menos duas décadas que o edifício deixou de ter qualquer atividade e, a partir daí, é notória uma degradação acelerada. Parece que todo aquele complexo é pertença do Estado; só isso justifica o estado a que aquilo chegou…







M. L. Ferreira