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sábado, 20 de agosto de 2016

As coisas que o Pedro sabe

Às vezes até me deixa de boca aberta com o que ele sabe sobre a nossa terra – a História e as histórias, as gentes, os lugares, as tradições… É verdade que teve uma boa mestra, mas, mesmo assim, não deixa de surpreender. Ainda por cima é uma pessoa generosa, sempre disposto a partilhar o que tem e o que sabe, e a ajudar quem precisa.
Aqui há tempos encontrei-o na Praça. Tirou uma coisa do bolso e parecia um menino:
- Olhe aqui, sabe o que é isto?
- Sei lá agora, Pedro…
- Chama-se um barbilho.
De repente fez-se luz e lembrei-me do tempo em que via o meu avô, no Mato Branco, a berrar atrás de algum borrego ou cabrito:
- Grande filho duma cabra, com o corpanzil que já tem e ainda agarrado às tetas da mãe! Deixa estar que já te cozo!
Ao outro dia, embarbilhado, que remédio tinha o bicho senão fazer pela vida, e a minha avó toda contente com o queijo mais avultado.

Barbilho
 É utilizado para desmamar os cabritos e borregos. Mete-se a parte de madeira dentro da boca do animal e a tira de couro passa por cima do nariz. 
As guitas atam-se aos cornos ou, no caso de ser moucho, passam por trás das orelhas e atam-se ao pescoço.

Um dia destes encontrei-o no estaleiro da Junta. No meio de tantas velharias, mostrou-mas como se fossem tesouros. Sabe o nome, função e proveniência de tudo, e diz que ainda um dia lhes há de voltar a dar vida.
Numa caixa, bem acondicionados, tinha as últimas aquisições:
  
Um chocalho
É maior, se for para as vacas, ou mais pequeno, se for usado por cabras e ovelhas.

Badalos
O som do chocalho depende do tamanho e da forma do badalo.

Chavetas   
São utilizadas como fivelas para prender a coleira do chocalho.

Travincas
Serviam para ajudar a fixar e apertar a corda dos molhos de lenha, mato ou erva.

Todos estes objectos eram feitos à mão, muitas vezes pelos pastores. A madeira utilizada era quase sempre o carvalho, a oliveira ou o azinho, por ser mais rija. Muitos faziam também pífaros, fisgas, fundas e outros objetos de madeira, cortiça, osso e couro. Era uma maneira de enganarem a solidão dos dias...

M. L. Ferreira

Nota: Os objetos e explicações são do Pedro Gama.