Que bom seria se todos os meninos
tivessem um amigo e um brinquedo no Natal! E tantas outras coisas que nos
fartamos de apregoar e, se calhar, praticamos pouco…
Mas este conto da Sophia de Mello
Breyner, adaptado pelo José Teodoro, fez-me lembrar uma casinha que eu também
tive em criança. Na altura os meus avós traziam à renda o Casal que agora é da
família Matias. Logo à entrada, quase por detrás da capela da Santa Bárbara,
havia uma cova escavada na rocha onde eu e as minhas primas montávamos a nossa
casa durante as férias de verão. Tinha tudo: cozinha, sala e quarto. A mobília,
eram bocados de tábuas e paus; a louça, cacos que encontrávamos, latas de
sardinha, etc; a roupa, farrapos que nos davam ou roubávamos à avó ou às mães.
A comida, toda a espécie de coisas que apanhávamos na horta ou os restos da
cozinha. Se não houvesse nada, também serviam umas ervas apanhadas logo ali. Eram
férias bem passadas! O pior era quando acabavam e ficava a tristeza da separação
e um longo ano pela frente, até ao próximo verão…
Depois compraram o casal e
tivemos que sair de lá. Ainda hoje, quando por ali passo, dou comigo muitas
vezes a espreitar o sítio onde era a nossa casinha. A cova já lá não está há
muito tempo, mas as memórias, ninguém mas tira …
A propósito de memórias e de
Natal (Natal também é memórias), não resisto a partilhar um poema do José Luis
Peixoto que ouvi há dias e achei muito bonito:
Na hora de
pôr a mesa
na
hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
M.
L. Ferreira