sábado, 1 de junho de 2013

A propósito do Dia da Criança

Conta certa lenda, que estavam duas crianças patinando num lago congelado.
Era uma tarde nublada e fria e as crianças brincavam despreocupadas.
De repente, o gelo quebrou e uma delas caiu, ficando presa na fenda que se formou.
A outra, vendo seu amiguinho preso e se congelando, tirou um dos patins e começou a golpear o gelo com todas as suas forças, conseguindo, por fim, quebrá-lo e libertar o amigo.
Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino:
- Como você conseguiu fazer isso? É impossível que tenha quebrado o gelo, sendo tão pequeno e com mãos tão frágeis!
Nesse instante, um ancião que passava pelo local, comentou:
- Eu sei como ele conseguiu.
Todos perguntaram:
- Pode-nos dizer como?
- É simples - respondeu o velho - Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não seria capaz.
Albert Einstein

Ouvi esta história há muito tempo e, a propósito de “coisas” sobre crianças, reencontrei-a agora na internet (a par das Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian, a internet foi uma das melhores invenções dos nossos tempos).
É uma história tão simples e com uma mensagem tão clara que não necessita de qualquer comentário. No entanto gostaria de dizer que oxalá todas as crianças encontrassem, ao longo do seu caminho, alguém que acreditasse nas suas capacidades e as incentivasse a ir sempre mais além!
Eu tive o privilégio de ter tido a Dona Teresinha como professora na 3ª e 4ª classe. A ela, que acreditou sempre em mim, devo muito do que sou…

M. L. Ferreira


Algumas crianças de S. Vicente da Beira, cerca de 1966, à frente da música, como era costume.
Fotógrafo desconhecido.

terça-feira, 28 de maio de 2013

O Assobiador

Há já muitos, muitos anos, conheci um homem extraordinário. Um vicentino genuíno, muito alegre, que vivia e trabalhava em Lisboa: o ti Joaquim Caio. Acho que tio do nosso amigo Ernesto Hipólito.
O ti Joaquim Caio tinha uma pequena oficina de latoeiro, na Av. Miguel Bombarda, ali juntinho à Gulbenkian. E eu que, pelo fim dos anos 90, trabalhava na Av. da República e tinha a Marta e o Miguel na Escola Marquesa de Alorna, ficava-me em caminho, quando os ia buscar, passar pela oficina e, muitas vezes, à tarde, por esse facto, acabávamos por trocar dois dedos de conversa.
Muitas manhãs me cruzei também com ele, sem que me visse, nem eu lhe falasse, por causa das pressas. O que deveras me impressionava nele é que andava sempre com o assobio na ponta dos beiços, quer na rua, quer na oficina, e nessa altura já Lisboa era um inferno de correria e ruído. Mas ele, absorto na melodia, aparentava a mesma calma de quem se passeasse domingo à tarde na nossa praça vicentina.
Esta coisa do assobio era coisa que me impressionava, porque já não se via ninguém a assobiar, mas impressionava-me sobretudo, porquanto tinha o condão de me trazer à memória o meu tio Luís, no Marzelo, pela manhã, a assobiar que nem um lírio (devia ser que nem um melro), enquanto acomodava o ganau. Eu assistia regularmente àquela cena quando vinha da Serra para a Escola. Aquilo era um clik. A figura do ti Joaquim Caio a assobiar ali nas avenidas novas e de repente o Marzelo. A razão só podia ser o amor que tinha ao meu tio.
Então, certo dia, quem é que aparece no Correio da Manhã? O ti Joaquim Caio. Lá estava ele, na primeira página, refastelado numa cadeira de balanço. A foto destinava-se a ilustrar um artigo que recomendava aos idosos o exercício físico, pois que o movimento, dizia-se ali, tem a propriedade de obrigar o organismo a produzir endorfinas que são nem mais nem menos que um analgésico natural.
Ora, já tinha pretexto para lhe fazer mais uma visita e lançar-lhe uma provocação que tinha engendrado na minha cabeça. Passei lá à tarde e vai logo:
- Então o senhor agora que está rico ainda continua a trabalhar?
– Rico? Mas que porra de conversa é essa? Rico como?
– O senhor agora a fazer anúncios… Ganha-se bom dinheiro com isso, que eu sei. Quanto é que lhe deram?
– Mas tu és parvo? Não recebi nada. Os gajos pediram-me e não me custou nada. Disseram-me que ficava bem na foto e precisavam de um gajo já velho.
É bom de ver que os gajos eram os jornalistas do Correio da Manhã que, na altura, estava sedeado em frente da oficina, do outro lado da avenida, e deve dizer-se também que na porta ao lado da oficina havia uma casa de móveis. Portanto, foi canja ao fotógrafo fazer um boneco real, sem custos e logo ali.
Enquanto íamos conversando, lembro-me como se fosse hoje, o ti Joaquim ia dando voltas a um abat-jour que tinha preso entre os joelhos e que, pelo tipo de tecido de que era feito, devia ser mais ou menos da sua idade, tentando soldar os ferrinhos ao suporte central. A liga metálica devia ser ruim, porque a solda custava a agarrar. Vira daqui, vira dali. Umas pancadinhas para soltar a escória da solda. Um ferrinho que se desgarrara e volta a soldar. É quando reparo que pequenas partículas incandescentes de solda que não agarravam ao metal, ao cair, iam produzindo pequenos furos no tecido e o pobre do homem sem dar por ela
Acabada a operação, retira o abat-jour dos joelhos e aproxima-o do nariz para ver como é que o trabalhinho tinha ficado (já via mal, está visto) e é quando repara que o tecido estava todo furado. Vira-se para mim com o ar mais espantado do mundo e diz-me:
- Já viste as coisas que me pedem para arranjar. Esta merda está que nem um crivo de regador…para que é que quererão uma coisa assim?
Eu não tugi nem mugi. Mas gostaria, certamente, de poder estar presente aquando da entrega do abat-jour à dona. Porventura daria uma história bem interessante. Depois veio-me à memória uma expressão que a minha avó Santa lá na Serra usava muito, quando ela e a minha mãe conversavam: “Ó Maria, a velhice tudo nos traz, mas não é coisa boa”.
O pessoal da minha idade, que já passou pelos 50, começa a ter consciência dessa realidade, mas há que manter a serenidade. É que o destino de cada um de nós está em parte escrito nas estrelas e está provado que é impossível fugir-lhe totalmente. Apreciemos o que de bom ele nos dá. É a receita que vos deixo.

Maio de 2013.
Francisco Barroso

domingo, 26 de maio de 2013

A romaria da Senhora da Orada

Esteve um dia lindo. Missa e depois as merendas: ovos verdes, pastéis de bacalhau, carnes assadas..., tudo regado com a água fresca da fonte.
A seguir o rancho e depois a banda. Foi bonito, a condizer com as encostas tingidas pela flor amarela da giesta, em fundo verde escuro.






José Teodoro Prata

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A fonte da Senhora da Orada 13

No ano de 1968, uma mulher de Pera do Moço, Escalos de Cima, bateu à porta do ermitão da Senhora da Orada, pedindo-lhe um favor. Queria apanhar banhos, na fonte da Senhora, para ver se se curava, porque andava "inflamada" por dentro e os médicos nada lhe faziam. Ficou hospedada na casa do ermitão.
Durante três semanas, tomou banhos, na fonte, e foram-lhe ministrados clisteres com água da mesma fonte.Curou-se por milagre. Passou a ir à festa, todos os anos, com peregrinos da sua região, levando garrafões das "águas santas" da Senhora da Orada, para distribuir pelas pessoas.

E o autor conclui: 

Na crença das religiosidades populares, a água é também um elemento curativo, contendo virtudes sagradas, relacionadas com entes divinos ou santificados, produzindo factos ditos milagrosos, como na Nossa Senhora da Orada cuja fonte é lembrada, nas cantigas de romaria, pela seguinte quadra:

Nossa Senhora da Orada,
Vossa água tem virtude;
Chegam-se lá os doentes
E de lá vêm com saúde.

Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A fonte da Senhora da Orada 12

Um mulher do Souto da Casa, de nome Maria de Jesus, tinha um cancro no peito. Foi ao hospital de Palhavã e mandaram-na para casa, sem cura.
Maria de Jesus tinha uma comadre, a "comadre das castanhas", porque arrendavam juntas um souto para apanharem as castanhas, que lhe disse que havia uma mulher em Chaves que curava as doenças ruins. Foi com a comadre a Chaves, levando uma "chapa" (radiografia) tirada no Fundão.
A mulher curandeira retalhou-lhe o peito em quatro, fez os curativos e disse que voltassem lá.
Maria de Jesus pegou-se com a Senhora da Orada. Rezou, pedindo que a curasse, que lhe daria o cordão de ouro e que todos os anos lhe iria agradecer.
Depois de quinze dias de tratamento apenas com as "águas santas" da fonte da Senhora, o peito apareceu curado.
Maria de Jesus foi oferecer o cordão à Nossa Senhora da Orada, devendo pertencer-lhe perpetuamente, não podendo ser vendido.

Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A fonte da Senhora da Orada 11

Nos meados do século [XX], Francisco Moreira, de São Vicente da Beira, trabalhava numa serralharia da Covilhã. Um dia, saltou-lhe líquido da soldadura para a vista, deixando de ver. Foi a médicos, mas continuava sem melhoras.
A mãe, ao saber, foi vê-lo e levou uma garrafa com água da fonte da Senhora da Orada. A mãe começou a chorar, junto do filho. Este disse à mãe que não chorasse, mas que pedisse à Senhora da Orada. A mãe rezou e banhou os olhos do filho com "água santa" da Senhora da Orada, que logo começou a ver.
Este milagre foi publicado no Jornal "O Pelourinho", de São Vicente da Beira.

Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata

terça-feira, 21 de maio de 2013

A fonte da Senhora da Orada 10

Nos anos quarenta, uma mulher de nome Júlia, dos Escalos de Cima, tinha o corpo morto. Espetavam-lhe alfinetes e não sentia. Foi para a Senhora da Orada, para tomar banhos, na fonte, ficando alojada na casa do ermitão. Depois de uma semana de banhos, começou a sentir as picadas dos alfinetes por todo o corpo. Pedia às pessoas para a picarem. Considerou milagre a sua cura.
Até poder, todos os anos ia à festa da Senhora, a pé, descalça, em romagem de agradecimento. Pelo caminho, vendia pinhões.

Em rapaz de São Vicente, criado do senhor Paulino, nos anos quarenta, dormia numa casa da serra. Um dia tolheu-se de todo. Foi preciso levá-lo num padiola, para a casa do ermitão da Senhora da Orada, por uma vereda, onde passou o Natal. Depois de quinze dias de banhos, com a água da fonte da Senhora da Orada, começou a andar.


Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata