terça-feira, 11 de junho de 2013

A Má Hora

A ti Francisca do Casal era do Casal da Fraga, mas morava na vila, na rua da Misericórdia. O homem dela chamava-se Francisco e juntos tratavam da fazenda do Aires, nas Vinhas, onde também tinham casa e passavam algumas temporadas, quando os trabalhos agrícolas exigiam mais cuidados.
Um dia, a ti Francisca veio cozer pão à vila, no forno da Casa Conde. Acabou já perto da meia-noite e foi deixar o tabuleiro a casa, para ainda ir despejar a água das Fontainhas. Nesse tempo a vida era muito trabalhosa.
Tirou a tranca da presa e deixou-a encostada por cima, na boca do boeiro, para não correr demasiado. Se a água transbordasse do rego, não chegaria para o renovo todo. Virou os tornadouros até à leira dos tomates e deixou a água espalhar-se pela terra sedenta. A seguir conduziu-a pelo meio da leira, até ao fundo. Estava tão ocupada nestas lidas que nem reparou numa senhora vestida de branco que lhe apareceu à frente.
“Vai imediatamente para casa, senão terás um mau encontro esta noite.” 
Disse ela. Depois virou-se e desapareceu no escuro.
A ti Francisca nem abriu a boca, aterrada com o susto. Nunca vira aquela mulher que a vinha avisar de um perigo. Seria a Boa Hora? Mas que mal lhe podia acontecer? E ia deixar o renovo secar, agora que o calor dava em apertar? Continuou a rega, mas sempre de olho no escuro, para não ser apanhava desprevenida.
Regou as leiras de feijão e depois virou a água para três valas de melancias que lá tinha. Entretanto soou a uma hora no sino da torre da igreja. Olhou em redor apreensiva, mas nada aconteceu. Mudou um tornadouro e quando levantou a cabeça viu uma mulher de negro vir em sua direção. Sentiu-se gelada da cabeça aos pés, mas ainda teve reação para largar o sacho e fugir para a quelha e depois correr para as ruas da vila. Não se via vivalma, já todos dormiam. Dirigiu-se para casa tão depressa quanto pode e só descansou ao rodar a chave na porta. Sentou-se num banco a pensar no que fazer.
O homem dela esperava-a na Quinta da Vela. A mulher de negro era de certeza a Má Hora, mas certamente nenhum mal lhe faria agora que regressava a casa. Encheu-se de coragem, pôs o tabuleiro do pão à cabeça e ala para as Vinhas. Não levava lanterna, pois precisava das mãos para segurar o tabuleiro e conhecia o caminho como as palmas das mãos, mesmo no escuro.
No alto da Fábrica decidiu atalhar por um caminho, à esquerda, pelos pinheiros. Era bem mais perto do que seguir pela fonte da Portela. Foi andando, sempre com passo rápido, na ânsia de chegar a casa. Quando estava a passar no alto, sentiu restolhar no mato em volta e arrepiou-se toda. Nem olhou, quase corria. Mas um vulto atravessou-se-lhe no caminho. Era um lobo. Ouviu rosnar atrás dela e virou-se. Havia mais dois.
Viu uma piçarra alta ao seu lado e trepou-lhe para cima, sem largar o tabuleiro. Os lobos cercaram-na. Já os via bem, a rangerem os dentes para ela. Saltavam e empinavam-se na pedra, tentando alcançar-lhe as pernas.
Entretanto, em casa, o homem dela e o criado, o Zé Ganhão, olhavam o escuro, calados, numa pausa da conversa sobre os trabalhos dos dias seguintes. Estavam sentados numa pedra ao lado da porta, a aguardar a chegada da ti Francisca.
“Ó ti Francisco, olhe que já passa a mais, a patroa não costuma demorar-se tanto.”
“Ela vem sempre tarde. Não sabes como são as mulheres? Deve ter-se demorado no forno, à conversa, e depois ainda queria ir despejar a água das Fontainhas. Não há de haver novidade. Vou-me deitar, porque já é outro dia, daqui a pouco amanhece e há muito trabalho para fazer.”
“O ti Francisco é um coração grande. Eu não consigo dormir sem saber o que se passa. Vou até ali ao alto, a ver se já lá vem.”
O Zé Ganhão entrou em casa e voltou com a lanterna de azeite acesa. Depois seguiu caminho, apoiado no cajado, por via dos maus encontros.
No alto dos pinheiros, os lobos estavam cada vez mais assanhados. A ti Francisca já se sentia sem forças de tanto saltar e se virar, para fugir às dentadas dos lobos. Escorria-lhes baba pelas bocarras de dentes afiados. Um lobo saltou mais alto e ferrou-lhe os dentes na saia. Ela quase se desequilibrou, mas sempre com as mãos no tabuleiro. Felizmente o pano rasgou-se e o lobo caiu para trás.
Uma luz, berros, um homem a correr, pancadas de cajado nos matos e pedras. Chamou por ela, disse-lhe para descer, mas continuou hirta, com as mãos ferradas no tabuleiro. O homem pousou a lanterna, subiu ao penedo e conseguiu desagarrar-lhe os dedos e tirar-lhe o tabuleiro da cabeça. Veio pousá-lo no chão e voltou para a ajudar a descer. Mas a ti Francisca continuou parada, sem dar sinais de compreensão, nem reação. Teve de a descer ao colo e depois guiá-la, pela mão, até casa.
Perdeu a fala. Levaram-na ao médico e ele explicou que tinham de deixar passar o tempo, para recuperar do susto. Só no fim de três meses voltou a falar. Ele há horas mesmo más!

José Teodoro Prata

domingo, 9 de junho de 2013

O passeio pedestre da IV Feira


Apetece ficar pelas margens da ribeira, nestes tempos primaveris, na frescura das suas sombras, enquanto nos encantamos com os cantares de pintassilgos, rouxinóis e outros pequenos seres de algumas gramas. Por isso, é uma excelente notícia a possível concretização do projeto da Rota da Senhora da Orada, que ficou adiado aquando da criação da Rota da Gardunha, pelo Geoparque NaturTejo, devido ao incêndio que na altura reduzira a cinzas as encostas do vale.

O passeio pedestre deste ano aventura-se pela ribeira abaixo. Partimos da Praça, pela Estrada Nova, até ao Alto da Fábrica. O ideal seria descer para o Casal do Pisco e seguir para o paredão da barragem, pelas margens (não há caminho), mas este ano a barragem está plena e a água chega aos matos e pinheiros. Não se consegue passar e por isso continuamos pela estrada de alcatrão. Paramos na fábrica e depois na lagariça, vestígios de outros tempos. Depois vamos até à barragem e dali para a estação de tratamento das águas, sempre ao longo da ribeira até à antiga casa do Padre José Sarafana, agora em recuperação.
Dali subimos para as Vinhas e visitamos o antiquíssimo poço das Vinhas do Poço. Continuamos para o Valouro e o Ribeiro da Ordem. Avistamos o sítio onde existiu durante séculos a capela de Santa Bárbara e retrocedemos, sempre pelo caminho que os nossos antepassados usavam para ir a Castelo Branco.
Passamos por locais onde tem aparecido muito material arqueológico da civilização romana (em exposição no GEGA) e tomamos a estrada romana, rumo à Fonte da Portela que durante séculos matou a sede a viajantes e suas bestas. Depois retomamos a Estrada Nova e regressamos.
Levar água e chapéu. Colocar protetor solar antes de sair de casa. Não se atrasem, pois convém-nos começar a horas, para evitarmos um regresso tardio, com calor.

José Teodoro Prata

sábado, 8 de junho de 2013

Seara de centeio


É uma seara como já não se vê. O centeio mede 1,50 a 1,60 m, excelente para fazer nagalhos.
O dono quer ceifar à maneira antiga: primeiro corta-o à altura de um metro, para recolher a espiga e malhá-lo, e depois ceifa rente ao chão, pois tem boa erva, para as ovelhas.
O agricultor é o Inácio Pereira dos Santos e a seara situa-se na Tapada da Dona Úrsula.



José Teodoro Prata

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Piscina

Anda grande azáfama, para os lados de São Francisco.
A Junta/Câmara comprou o pedaço da Quinta Nova frente ao posto da GNR.
Mesmo na esquina, está a ser construído o futuro posto desta corporação policial.
Logo a seguir, em direção ao Calvário, situar-se-á a piscina. Os balneários parecem ser mesmo nas traseiras do Calvário, com entrada pela rua de São Francisco, um pouco antes de chegar à capela.
Melhoramentos de vulto!


Posto da GNR


 Piscina


Balneários da Piscina

José Teodoro Prata
Fotografias de Dário Inês

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Procissão do Corpo de Deus

No passado domingo, por já não ser feriado.


Rosas e pétalas desfolhadas


Pela rua abaixo


Pálio do Corpo de Deus


Banda Vicentina
Luzita Candeias

terça-feira, 4 de junho de 2013

Dia da Criança na Praça



Fotos tiradas do facebook do Pedro Duarte

Dário Inês

domingo, 2 de junho de 2013

Cerejas

Este ano estão atrasadas cerca de uma semana. Ontem comprei-as no Chão da Bica e já estão madurinhas e doces, mas nas outras zonas menos abrigadas ainda não estão boas.
Como já referira aqui, o frio da Semana Santa fez estragos. Algumas variedades mais sensíveis não têm quase nada, sobretudo as que estavam em plena floração ou no fim dela, nos dias do frio.

José Teodoro Prata
Foto de M. L. Ferreira