sexta-feira, 5 de julho de 2013

Biodiversidade da Gardunha


Sei um ninho de melros
Mas não o vou ensinar
Quero ter muitos amigos
Para o pomar partilhar



A menina rã camuflada num charco do ribeiro



Castanheiro em flor

O senhor javali é um brutamontes
Cheirou-lhe a castanhas antes do tempo 
e desnocou uma grande pernada

José Teodoro Prata

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Festas de Verão



Circular
    PRENDA PARA A QUERMESSE

Decerto que Você, Vicentino, já saberá que, neste ano de 2013, se vão realizar, na Vila, as nossas Festas de Verão, nos dias 2 a 6 de Agosto próximo.

São Festas de tradição muito antiga que não queremos deixar acabar, porque fazem parte da nossa história comum e dos nossos antepassados.

Apesar de ser um ano de dificuldades económicas, por todos sentidas, é convicção da Comissão de Festas, 2013, que os nossos conterrâneos a residir cá ou fora, em Portugal, ou no estrangeiro, vão participar com grande vontade e entusiasmo. 

Esta Circular tem por finalidade sensibilizá-lo a si, Vicentino, e a si, que tem laços de família nesta Terra ou a si, Amigo de S. Vicente da Beira, para a importância de oferecer uma PRENDA PARA A QUERMESSE.

Uma simples lembrança que poderá ter pouco significado para quem dá, mas que, para nós, representa muito e cujo valor a Comissão de Festas procurará potenciar com a sua venda na QUERMESSE.

Por isso, é tão importante para nós a sua oferta! 

Não deixe de dar o seu contributo, fazendo o seu donativo e ajude um evento único na Nossa Terra!

Adira à oferta para a QUERMESSE e torne possível o nosso e o seu sonho de ver realizadas as Festas de Verão.

Pelo Senhor Santo Cristo!
Por S. Vicente da Beira!       
                                                                  A Comissão de Festas,


zb

terça-feira, 2 de julho de 2013

Embruxada

Ainda a propósito da Má Hora, contaram-me há muito tempo a seguinte história, passada na minha família:

Uma das minhas tias foi sempre enfezada e, como ela própria ainda diz, fraca da cabeça. Uma altura, já mulherzinha, andava mesmo muito doente: amarelenta, com fastio, sem vontade de trabalhar… Um tormento para ela e transtorno grande para a família!
Um dia passou por um homem que havia cá na terra e sabia muito destas coisas de Deus e do demónio e até tinha um livro sobre o diabo (seria o Livro de São Cipriano?). Só de olhar para ela, o dito homem fez logo o diagnóstico “Tu andas é embruxada, cachopa!”. E recomendou: “Olha, logo à meia-noite, pões uma panela ao lume, metes lá dentro uma peça de roupa tua e, quando começar a ferver, picas a roupa com um espeto com toda a força. Fazes isto até à uma. Vais ver que quem quer que seja que te anda a fazer mal vai entrar pela fechadura da porta toda encarrapata e, com a vergonha, vai deixar de te apoquentar”.
A minha tia que para além de enfezada e “fraca da cabeça” era muito medrosa, foi ter com a minha mãe e contou-lhe o que o tal homem lhe tinha dito. A minha mãe, mais velha e afoita, mas também muito crente nestas coisas do outro mundo, prontificou-se logo para ajudar.
Então, ainda nessa noite, quando todos já tinham ido para a cama, puseram a panela a ferver ao lume, meteram lá dentro uma combinação e, com toda a força que tinham, espicaçaram-na com o espeto de virar as filhoses durante bastante tempo. Já era quase uma da manhã quando, cansadas e desiludidas, mas se calhar também com medo, desistiram…
No dia seguinte, a minha tia voltou a encontrar o tal homem que lhe perguntou como é que as coisas tinham corrido. Quando ela lhe disse que não tinha aparecido ninguém, ele ficou admirado, mas disse que se calhar elas não tinham feito tudo como devia ser. E se calhar não…

M. L. Ferreira

Nota: Acho muito interessantes estas histórias da Boa e Má Hora, até porque foram delas que se alimentou o imaginário de muitos de nós durante a infância. Ainda hoje gosto de as ouvir… Mas, como sugeriu o Ernesto há dias, acho que prefiro a Hora das Loiras ou doutra coisa qualquer, principalmente se for em boa companhia!

domingo, 30 de junho de 2013

Almas penadas

A propósito de luzes que aparecem durante a noite, contaram-me a seguinte história:

Ali para os lados da Partida havia uns lameiros que pertenciam a várias famílias. Cada uma delas semeava a sua parcela e, para regar, repartiam a água do ribeiro por horas, de acordo com o tamanho do terreno. A alguns calhava terem que regar durante a noite e lá iam às escuras ou, quando muito, levavam uma lanterna para alumiarem o caminho.
Uma dessas parcelas pertencia a um homem que morreu e quem continuou a cultivar a terra foi a mulher.
Passado algum tempo depois da morte do marido, numa noite de lua nova, apareceu uma luz à viúva que lhe disse o seguinte: 
“Mulher, eu sou o teu homem e ando a penar ao tempo no purgatório. Para de lá sair, tens que mandar fazer duas cruzes, uma entre a Partida e os Pereiros e outra entre a Partida e o Vale da Figueira”. 
A mulher, de poucas posses, demorou algum tempo a cumprir o desejo do marido e, por isso, todos os dias em que ia regar à noite avistava a mesma luz. Quando finalmente pode mandar fazer as cruzes, a luz deixou de aparecer e o homem terá finalmente chegado ao céu.
Diz-se que as cruzes lá estão ainda. Nunca as vi, mas um dia destes já vou confirmar…

 M. L. Ferreira

sábado, 29 de junho de 2013

A super-lua

O nascer da lua, em São Vicente da Beira.
Luzita Candeias

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Na Cruz da Oles

O que mais me agrada, nos passeios pedestres que temos organizado, aquando das feiras de gastronomia e artesanato, é o convívio entre os participantes. Por exemplo, este ano, o António Craveiro, chegado há poucas horas de França, ainda mal dormido, recordava partes da sua vida a cada passo que dávamos. Já palmilhara todo aquele espaço e lembrava histórias que ele ou outros tinham vivido em cada sítio, por onde passávamos.
Também se contaram histórias. O EH contou esta, das muitas que sabe. Não resisto a partilhá-la convosco, temperada numa prosa um pouco mais longa.

Aparecem luzes, à noite, na zona dos Aldeões, na Cruz da Oles e na encosta para o Casal da Serra, desde há muitos anos. Já aqui demos notícia dos aparecimentos mais recentes. Na altura, falava-se em óvnis, faróis de carros de caçadores noturnos, agricultores a cuidar dos seus cultivos e até seres a sair de uma outra dimensão. A Gardunha dá para todos os gostos.

Há uma data de anos, antes de termos eletricidade, houve uma época em que apareciam muitas luzes à noite, nesta encosta da serra. Talvez tenha sido cerca de 1968, pois lembro-me de, por essa altura, as ficarmos a observar dos balcões das casas da Tapada, às vezes horas a fio, a ver quando é que desapareciam. E, enquanto o sono não nos vencia, ouvíamos histórias de almas penadas.
Depois da ceia, iam grupos de pessoas da vila pela estrada da Oles, na tentativa de descortinar o mistério. Um dia, a Menina Belinha, a Menina Russinha e a Maria Barqueira também quiseram tirar a coisa a limpo e meteram-se ao caminho, de braço dado, para melhor se ampararem no breu da noite.
Já iam chegando à Cruz da Oles e nada, só cansaço nas pernas, a arfar de calor. Desacorçoadas, a pensar em dar meia volta, avistaram finalmente uma luz em movimento, em direção a elas, a sair do pinhal. Agarraram-se mais umas às outras e a Maria Barqueira gritou:

“SE ÉS DEUS, APARECE! SE ÉS O DEMÓNIO, ARREBENTA!!!

Apareceu. Era um resineiro, de bicicleta, que regressava a casa, no fim de um longo dia de trabalho.

José Teodoro Prata

terça-feira, 25 de junho de 2013

A boa e a má hora

Quando, da meia-noite à uma hora, as pessoas saíssem à rua, aparecia a Boa Hora vestida de branco ou a Má Hora vestida de preto. 
 Por vezes, afirmam que a Boa Hora era Nossa Senhora. 
 Em geral, a Boa Hora perguntava às pessoas o que queriam, o que precisavam, e prevenia-as para que se escondessem, porque a seguir vinha a Má Hora. Esta, quando deparava com luzes acesas, apagava-as. Se houvesse gente, tinha de estar tudo quieto, calado e escondido para ela não ver ninguém, pois se lobrigasse alguém, «fazia-lhe mal, podendo as pessoas ficar surdas, mudas, gagas ou morrer» (sic) até com o susto, segundo acabam por rematar os narradores. 
 Conta-se, por exemplo, que um pastor se atrasara e trazia, ainda de noite, as ovelhas a pastar. Apareceu-lhe entretanto a Boa Hora a avisá-lo que conduzisse depressa as ovelhas ao bardo, porque vinha lá a Má Hora. Ele não quis saber do aviso e deixou-se ficar, O fantasma chegou e matou-lhe sete ovelhas. O pastor fugiu para a beira do rio e, como julgou que a Má Hora também ia atrás dele, com a precipitação, deitou-se ao rio, morrendo afogado.
 Estando uma mulher à janela, dizem que lhe apareceu a Boa Hora a avisá-la de que se devia meter para dentro porque vinha lá a Má Hora. Ela não se retirou, pra se fazer forte e porque a queria ver, deixando-se ficar por dentro dos vidros. A Má Hora sempre apareceu; bateu na janela e a pessoa morreu (de susto, naturalmente sugestionada...). 
 Apesar de alguns narradores acreditarem piamente nestas superstições, acabam geralmente por dizer que as pessoas morrem ou adoecem devido ao susto... 
 Para provar a veracidade da Boa e Má Hora, contam por exemplo o seguinte caso: 
 Dois caçadores foram à caça e, quando vieram, era já de noite. Apareceu-lhes a Boa Hora a mandá-los voltar para trás e a esconderem-se. Eles não quiseram, por estarem com pressa de chegar a casa, e continuaram. 
 Apareceu-lhes então a Má Hora, que não se fez tardar, e eles começaram a dar-lhe tiros. Como ela não caía ao chão, assustaram-se e fugiram cheios de medo. 
 De manhã, foram lá ver e encontraram apenas bocados de farrapos negros no chão (sic).


RODRIGUES, Maria da Ascensão Carvalho Ferro, Cova da Beira Covilhã, Edição do Autor, 1982 , p.128-129