segunda-feira, 5 de agosto de 2013

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

As maleitas da infância

Tu e as tuas irmãs tivestes sarampo ao mesmo tempo. Metidos na cama, cheios de febre e eu sem saber para onde me virar, a levar-vos o comer, a tentar baixar a febre aos mais abrasados e a lavar as roupas da cama. Estáveis todos na cama do quarto escuro, com a porta para a sala, uns deitados para a cabeça e outros para os pés.
Depois melhorastes, mas as tuas irmãs mais novas apanharam logo tosse convulsa. Iam morrendo, sempre a tossir, com aqueles uivos que faziam impressão. Tinha de levar as duas ao hospital, todos os dias, para apanharem uma injeção de um remédio que era feito da resina.
Um dia vinha pela rua acima, com a mais pequena ao colo e a outra a chorar atrás de mim. Ela era só a pelinha e o osso, com a cara inchada e os olhos raiados de sangue, sem forças para andar. Quando passámos, no Cimo de Vila, em frente à casa do tio Miguel Jerónimo, estava lá a ti Jú à janela e perguntou-me porque é que a menina ia a chorar. Eu respondi que ela queria colo. Então a ti Jú desceu as escadas, pegou-lhe ao colo e foi-me levá-la à Tapada. Subimos pela quelha e, quando chegámos à casa velha, já lá vinha a ti Stela que não tinha podido ir comigo, mas que me vinha ajudar. Tirou-me a tua irmã do colo e levou-a o resto do caminho. “Agora a senhora vai sem nada e nós aqui carregadas”, brincou a ti Jú, que era muito reinadia. Mas eu pensei só para mim: “Estás enganada, eu já vou a carregar com outra.” Mas calei-me, porque nesse tempo não se falava da gravidez e tínhamos vergonha, pois as outras diziam logo que a gente é que tinha culpa de engravidar.
Lembras-te de ir casa do teu avô, na Oriana, a buscar folhas da figueira dos figos de picos que havia junto à estrada? Cortámos as folhas ao meio, metemos lá dentro açúcar e depois eu cosi as duas partes, com agulha e linha. Corria delas um líquido pegajoso que dávamos a beber às tuas irmãs. E foste aos pinheiros colher os rebentos da medrança. Depois eram fervidos, para desinfetar a casa. E a mesma coisa com a rama de eucalipto.
Quando elas ficaram boas, a mais velha voltou à escola, mas chegou a casa e deitou-se na cama, de barriga para baixo, sem falar. Agarrei nela ao colo e fui a casa do médico. Ele receitou-lhe umas injeções. Mas eu não tinha forças para andar com ela ao colo, para cima e para baixo, e por isso pedi ao ti António que ma deixasse ficar na casa dele, para o Zé Craveiro lá ir a dar-lhe as injeções. Mas arrependi-me, porque o teu tio chegava a casa para almoçar e, ao vê-la naquele estado, só lhe dava para chorar e não comia.
Só mais tarde é que tivemos papeira, contei eu. A Celeste era a nossa enfermeira e um dia levou-nos às castanhas, nos Carqueijais. Havia um castanheiro lá no alto, perto do caminho, que dava umas castanhas mais grossas. Cortámos caminho por baixo da figueira pingo de mel e depois seguimos a corta-mato até ao caminho. Lembro-me de ir nos eucaliptos do Padre Tomás e sentir as minhas bochechas pesadas a abanar. Mais à frente, no pinhal, ouvimos barulho de alguém e corremos a esconder-nos, deitados ao comprido, no rego da regadia das Lameiras. Era o senhor Bernardino com o burro, que vinha da Barroca. Debaixo do castanheiro achámos poucas castanhas, mas deu uma para cada um e voltámos contentes para casa.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pequeno Lugar

Povo da Beira, edição 1012, ano XIX, 30 de Julho de 2013

Pequeno Lugar era apenas o título de um poema de António Salvado, albicastrense de renome internacional, mas António Fernandes Andrade, amigo e admirador do poeta, tornou-o um amplo projeto com várias vertentes: ecológica, de preservação do património construído e do património imaterial, artístico e de divulgação da obra de António Salvado.
A sede é uma casa de xisto que António Fernandes Andrade reconstruiu e onde tem vindo a implementar o seu projeto. Abrirá portas ainda este ano.

José Teodoro Prata

terça-feira, 30 de julho de 2013

Gafanhotos na Orada

Voltei hoje à Senhora da Orada e vi que, felizmente, da praga de gafanhotos que por lá andava há pouco mais de uma semana, já restam muito poucos. Não sei se é milagre da Senhora, se houve alguma intervenção química ou se é resultado do ciclo de vida normal daquela espécie. Seja como for, é uma boa notícia para todos os que queiram ir até lá nesta altura, seja para beberem aquela água bem fresquinha ou, na quarta feira, comerem os restos da festa.



M. F. Ferreira

sábado, 27 de julho de 2013

A festa da inauguração


O descerrar da placa inaugural


A benção


Os discursos


Os primeiros mergulhos


A jantarada, na Praça

Dário Inês, Inês Teodoro e Luzita Candeias

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Inauguração da piscina

É já amanhã, dia 26 de julho, sexta-feira, pelas 18 horas.
Vamos estar todos presentes!


Foto do Dário Inês

José Teodoro Prata

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A magia da cidade

Desci à cidade, por uns dias. Eu e o meu primo, com as nossas mães, ficámos numa casa a meio da Rua de Santa Maria, de uma família do Casal da Serra, conhecida das nossas mães. Vínhamos ao exame da 4.ª classe, ali bem perto, na Escola do Castelo. Primeiro foi a prova escrita. Não correu mal, embora eu desconfiasse muito da minha escrita, farto que estava de apanhar reguadas por causa dos erros.
Depois houve um ou dois dias de espera e passámos parte do tempo dentro de casa, entre o sofá e a janela rente à rua, como animais enjaulados, senhores que éramos das barreiras da Gardunha.
Numa das noites foi diferente. Havia as Festas da Cidade e fomos passear. Era de noite e parecia de dia, toda a cidade iluminada como que por magia. Passei por baixo da ponte por cima da rua, que eu desenhara na escola, para um concurso. Era tal e qual como no postal, talvez com menos vasos de flores que tanto trabalho me tinham dado a desenhar. Percorremos o Parque da Cidade, no meio de um formigueiro de pessoas felizes. Havia aparelhagem como nas nossas Festas de Verão. Também vinha música de uma varanda um pouco abaixo do castelo, toda iluminada e cheia de gente. Parecia que andava num mundo irreal, aliás já desaparecera quando por lá passei, passados uns dias, de regresso a casa.
Voltei à Escola do Castelo e a prova oral não correu nada bem. Troquei uns rios, enervei-me e já nem sabia o que dizia. No final, a Dona Natália afiançava a passagem de todos, menos a minha. Ela e a minha mãe estavam preocupadas e eu à rasca, de cabeça baixa, a riscar o chão térreo do pátio da escola com a ponta do sapato ainda com o brilho de novo. Ia voltar com uma raposa para casa e passar vergonha! Mas correu bem e todos ficámos contentes.
A meio do verão fui uma semana ao Seminário do Tortosendo, pois dera o meu nome quando o Padre Lúcio foi à minha escola e nos falou dos missionários que ensinavam a doutrina aos pretinhos de África. A minha mãe escreveu para a França e o meu pai disse que sim, porque o irmão João também lá trazia os filhos.
Éramos mais de cem, vários de São Vicente, e passámos o tempo a fazer testes com perguntas difíceis e outras fáceis, como aquela da cor do cavalo branco do Napoleão. E havia uma piscina, num buraco fundo, lugar de prazeres e medos, habituado como estava às presas do ribeiro das Lajes, onde nadava apoiado nas mãos e nas pernas que batiam na lama do fundo.
Regressámos às nossas casas e semanas depois recebi uma carta a dizer que fora aceite e me preparasse. Por isso tive de voltar a Castelo Branco. Não foi dessa vez que vim com o meu pai e fomos matar o bicho, com um branquinho, ele um copo grande e eu um copo pequeno, na taberna da Quinta Nova, ali por detrás da Sé, onde parava a camioneta. O meu pai, bom conhecedor da cidade, por ser de lá e ter feito a tropa em Cavalaria, no quartel da Devesa, conhecia o dono e garantia que tinha uma pinga boa. Mas isso foi mais tarde, daquela vez veio a minha mãe comigo.
Tirei uma fotografia num fotógrafo perto da Devesa e depois fui fazer o bilhete de identidade. A senhora mediu-me e ficou impressionada: um metro e setenta e cinco! Acho que ela colocou a régua inclinada para cima, a meu favor, porque era baixinha e mal me chegava à cabeça. O certo é que essa medida vale até hoje.
A carreira só partia às quatro horas e por isso fomos almoçar num sítio ali perto. Chamava-se Pensão Central e ficámos sentados numa mesa ao pé da janela. O que comi, não me lembro, mas bebi a coisa mais saborosa que devia existir no mundo. A garrafa era esverdeada e a bebida doce fazia bolhinhas no copo e cócegas na boca e na garganta. Sítio maravilhoso a cidade!

Nota: Esta pequena história está publicada, na Agenda Cultural do Cine-Teatro (Câmara de Castelo Branco), no número de verão, o atual. Outras duas crónicas deste blogue foram publicadas na Agenda da Gardunha 2013, da organização Solstício, com sede na Soalheira. São elas "O lobo branco" e "A fuga".

José Teodoro Prata