terça-feira, 11 de março de 2014

Dia da Mulher

Este ano foi necessário o Salão da Casa do Povo, para acolher as 109 mulheres que se inscreveram no Jantar-Convívio da Mulher, em São Vicente da Beira, mais uma vez servido pelo Restaurante “A Mila”.
Até a própria organização foi surpreendida com o elevado número de inscrições que incluiu também a presença de algumas mulheres das freguesias vizinhas.
Todas as mulheres foram brindadas com uma lembrança que constava da tradicional
colher de pau. A Junta de Freguesia de São Vicente da Beira juntou-se à comemoração, oferecendo uma flor a cada senhora.
O ambiente esteve sempre animado e, depois do jantar, houve Karaoke e muita dança. 
Depois, foi nomeada a comissão para 2015: Anabela Matias, Vera Moreira e Ana Bela Vaz.




Ana Jerónimo Patrício

segunda-feira, 10 de março de 2014

Matação: os enchidos


Morcelas de assar


Panela para cozer as morcelas


Chouriças


Fumeiro com as chouriças em primeiro plano e os chouriços lá atrás


Farinheiras


Fumeiro com as farinheiras


Fumeiro, vista geral, com as morcelas de cozer à esquerda

M. L. Ferreira

sexta-feira, 7 de março de 2014

Matação: o seventre



Seventre, ervas e batatas cozidas. Com um bom tinto, é de tirar um homem do sério!

M. L. Ferreira
(A legenda é do José Teodoro, que é doido por seventre!)

quinta-feira, 6 de março de 2014

domingo, 2 de março de 2014

Espigos com morcela

Ano a ano, recordo invariavelmente esses tempos. É quando a primavera se anuncia e as couves dão em espigar. Algumas guardaram-se para semente e nessas não se toca. Às outras, mesmo as já comidas, mas cortadas alto, para deixar alguns olhos que possam desabrochar em rebentos, colhem-se os espigos na urgência de não enrijarem. E como qualquer família plantara, em agosto, um couval suficiente para a consoada e para comer em janeiro e fevereiro, havia espigos com fartura.
Nos finais dos anos 70, eu andava a estudar em Castelo Branco e voltava diariamente a casa cerca das 20 horas. Levara uma merenda de pão caseiro com marmelada, para comer na viagem de regresso, mas repartia-a com alguns famintos como eu, sobretudo um miúdo do Sobral que corria para mim, logo que eu desembrulhava o pão.
Neste tempo de mudança, de seivas congeladas para o desabrochar de gomos e flores, esperava-me, por vezes dias seguidos, uma pratada de espigos cozidos com batatas, um ovo cozido e uma boa talhada de morcela. Vocês já alguma vez comeram um naco de morcela grossa de cozer, daquelas típicas da nossa terra? Meu Deus, o nosso povo sabe fazer coisas tão boas!
Isto é, sabia. Os filhos partiram para outras vidas, a maioria cedo demais, antes do tempo apropriado de transmissão de alguns saberes, como os que se aprendem nas matações de cada um, já com os filhos a exigirem atenções. Vinham as mulheres mais velhas e ensinavam as mais novas, todas atarefadas no meio de panelas e tachos, mais alguidares e bacias cheias de carnes migadas e por migar.
De certeza que ainda há quem faça morcela de cozer daquelas, mas já são raras de encontrar. O talho do Manga fê-las boas, há poucos anos, mas não sei se ainda as tem. Basicamente, a diferença está na carne. No circuito comercial, migam gordura e misturam com o resto. Mas, nas nossas, a gordura estava misturada com carnes ensanguentadas de várias partes do porco e eram essas que davam um toque especial à mistura.
Perderam-se estas coisas boas, ganharam-se outras, não sou fatalista. Mas recordo com saudade esses tempos, já não da fome, como o meu pai chamava aos anos 60, mas ainda de muitas carências, em que um prato de espigos e um bom pedaço de morcela de cozer fazia as delícias de um homem.
Grelos? As batatas é que grelam!

Receita das morcelas de cozer, já aqui publicada em "Culinária da matação", de 20 de fevereiro de 2010:
Morcelas de cozer
Ingredientes: vinho, cominhos, alho, sumo de laranja, sal, sangue, carnes ensanguentadas, rins, bofe e pâncreas e a tripa mais miúda do intestino grosso do porco.
Migam-se as carnes, temperam-se com os restantes ingredientes, picando previamente o alho e a salsa, e mete-se a massa na tripa mais miúda das tripas grossas. Depois de atadas, cozem-se em lume brando, para não rebentarem, e penduram-se na latada do fumeiro.



 Couve espigada

José Teodoro Prata

Em jeito de comentário:
Grelos (ou espigos) são bons com morcela de cozer, mas, para mim, são ainda melhores com a morcela de assar, principalmente quando ainda está fresquinha.
A receita é parecida: fazem-se também com as carnes ensanguentadas e moles, migadas um pouco mais miúdas; não levam sumo de laranja (não me lembro de ter visto pôr) e são enchidas nas tripas mais finas do intestino delgado. Andei ontem de matação e ajudei a fazê-las… Mas acho que só com muitos anos de prática, como era o caso das nossas mães e avós que nesta altura andavam de casa em casa dos familiares mais próximos a ajudar, é que se fica com olho e mão para estas coisas.

As morcelas do Rui Manga ainda são feitas à moda antiga e são bem boas!

Morcela de assar

M. F. Ferreira

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Enxadão?

Encontrei-o no Ribeiro de D. Bento, no tronco de uma oliveira há muito cortada. Talvez tenham sido os Coelhitos e deixá-lo lá, pois trouxeram o lameiro muitos anos à renda.
A parte da pá foi acrescentada, como mostra a costura.
Meti-lhe um cabo e até já o levei para as aulas, a explicar à malta como se faziam as sorrubas (as arroteias, na linguagem dos livros).
Chamo-lhe enxadão, não sei porquê. Não é bem como o vosso bôchero!


José Teodoro Prata

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Sopas de vinho

Há muitos anos, havia ali para a charneca um carvoeiro muito pobre, coxo e que ainda p’ra mais gostava da pinga. Logo de manhã, o mata-bicho era uma malga de sopas de cavalo cansado. O vinho, o mais das vezes, já meio azedo; o pão, só broa ou centeio, quase sempre duro que nem pedras. Mesmo assim, até dava gosto vê-lo a comer as sopas de pão mergulhadas no vinho e, no fim, a escorropichar a malga até ao último pingo.
De barriga aconchegada e alma aquecida, abalava de casa muito antes do nascer do Sol. Com a jaqueta e o boucheiro às costas e o podão pendurado à cintura, lá ia ele, umas vezes até às Rebardeiras (Ribeiro de Eiras), outras pela serra do Ingarnal (Engarnal) acima. Era para esses lados que havia a melhor esteva e torga da taluda para fazer carvão de primeira. Depois andava a oferecê-lo a ferreiros ou ferradores que lho pagavam mal e a más horas. Às vezes, nem dava para o sabão. Devia ser por isso que andava sempre tão enfuscado que mais parecia que tinha vindo da África. Até os ganapos, mais por medo que por maldade, faziam pouco dele. Quando o viam passar, de saca às costas, seguiam-no à distância e, arremedando-lhe o mancar, provocavam:
                       
O preto da Guiné
Lava a cara com café,
Envergonha-se de ir à missa
Com sapatos de cortiça.

Ele, de tão cansado, fazia que não ouvia e continuava o caminho, curvado debaixo da saca; mas às vezes, só para os assustar, parava, voltava-se para trás e, com grande esforço, levantava a cabeça onde só os olhos revirados lhe luziam. Era vê-los a correr e a esconderem-se nas portas ou nas esquinas mais próximas! Mas não tinham emenda, os demónios: mal ele se virava, continuavam a provocação.
Uma manhã, ou por o vinho ser mais forte ou porque lhe tivesse caído na fraqueza, viu-se perdido para subir o carreiro, encosta acima. Dava dois passos para a frente, vinha um para trás; queria ir a direito, cambaleava para a banda. Não havia meio de sair do mesmo sítio. Pasmado e sem descortinar a razão de tal fenómeno, sentou-se no meio da vereda e, com a cabeça entre as mãos, pôs-se a dizer para os seus botões: «O vento na serra não zurra; eu caio, mas ninguém me empurra. Ainda hoje não bebi vinho, senão passado pelo pão… Sopas de vinho também embebedarão?!».
Nesse dia já o sol ia alto quando chegou ao destino, todo derreado das costas e a mancar ainda mais…

Torga de flor rosada, abundante no norte e centro do país. As raízes eram utilizadas para fazer o carvão usado nos fogões de cozinha, nos ferros de passar e nas forjas. O carvão das estevas era mais utilizado para as braseiras.

O boucheiro era a ferramenta utilizada pelos carvoeiros para arrancar as plantas com que faziam o carvão.
M. L. Ferreira