terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O futuro do blogue

Olá camaradas e amigos!
'Dos Enxidros' já tem, então, 6 anos! Como diria o outro, 6 anos é muito tempo! Mas só o conheço há cerca de 3! Foi quando o Chico Barroso me falou dele!
Aqui temos partilhado muitas vivências, o que é muito bom! Uma das virtudes do homem é ter a capacidade (e a necessidade) de partilhar com o seu semelhante os momentos melhores ou piores da sua vida. Uma caraterística dos animais gregários.
Durante este tempo, já muitos textos e histórias aqui foram publicados. É uma pena, volto a dizê-lo, que não haja mais colaboração. Pois, como é evidente, um texto está na primeira página entre 2 a 3 dias. E isso obriga a uma constante procura de fontes e disponibilidade para a escrita que a nossa vida nem sempre permite.
Há muita gente que me diz que lê o que aqui se escreve e mostra, mas não colabora, nem faz comentários. Simplesmente porque dizem não ter jeito ou não quererem! O que é uma pena, porque fica a ideia de que tudo isto se passa entre O Zé Teodoro, a Libânia, o Ernesto Hipólito, O Zé Manuel dos Santos, o Chico Barroso, eu próprio, e mais alguns/algumas colaboradores esporádicos. E isto, creio, não é a verdade do blogue que tem, de certeza, uma muito maior plateia de leitores e visitantes! Resumindo, a minha angústia é não termos um maior feedback do que aqui publicamos. E sei que há muita gente com capacidade que poderia colaborar! Vamos a isso!

Até para facilitar a vida ao Zé Teodoro!
Um bom ano de 2015 para todos, com muita saúde!
ZB




Não podemos deixar passar em branco o comentário que o Zé Barroso fez, já este ano, no 6.º aniversário de “Dos Enxidros“, sobre o blogue em si.
Com uma grande clarividência, o Zé analisa e vai ao fundo de vários pequenos problemas que, de facto temos vindo a notar ao longo deste tempo. No fundo, não são problemas; diria antes que são receios, falta de curiosidade, preguiça ou falta de  iniciativa.
Não têm conta as vezes que eu insisto com amigos e conhecidos para visitarem este blogue. Os resultados não têm sido os desejados. Por outro lado já aconteceu muitas vezes eu estar a contar qualquer situação acontecida em S. Vicente e perguntarem-me:
  - Como é que sabes isso?
  - Onde é que viste isso?
É então que eu lhes respondo:
  - Quantas vezes é que é preciso eu dizer-vos para verem “Dos Enxidros”?
Vejo a facilidade com que a nossa gente interage no “Facebook” e noutras redes sociais a todo o momento. Não sendo bem a mesma coisa, porque não interagir um pouco num blogue que é nosso?
Vendo sempre os mesmos a colaborar pode induzir alguém no erro de que o blogue é elitista. Pelo contrário, as pessoas que escrevem aqui desejam que todos os Vicentinos e amantes da nossa terra venham aqui expor as suas ideias, fazer os seus desabafos ou contar as suas histórias. E que histórias maravilhosas haverá por aí escondidas!
Este blogue é de todos e ao escrever ou comentar nele estamos a escrever a história de S. Vicente da Beira. Vai ficar gravado.
E. H.


Caros colaboradores e leitores do blogue:
O comentário do Zé Barroso foi publicado no dia 1 de janeiro, em "6.º Aniversário”. O Ernesto escreveu logo de seguida, mas entretanto faleceu a Ti Rosa e achei por bem dar um tempo à dor. Mas não muito, pois temos de evitar o seu colo enganadoramente acolhedor.
Como se verifica, o nosso blogue vive uma crise de crescimento. É assim como um adolescente inquieto por grandes voos, mas que não sabe muito bem como, nem para onde.
Deixo-vos a minha opinião sobre o assunto.

O blogue tem um problema cuja solução é complexa: nenhum dos colaboradores mais assíduos tem os conhecimentos informáticos necessários para dar o salto qualitativo que o nosso crescimento impõe. Quando e se aparecer, esse alguém poderá assumir a administração do blogue, criando valências que nos aproximem mais dos vicentinos. Até lá, não estando na situação ideal, acho que estamos bem. Foi com esta tranquilidade que partimos do zero e chegámos até aqui. Visitei o blogue do autor da última mensagem da publicação anterior e claro que gostei. É um blogue bem estruturado, com coisas que não temos. Mas nós também temos coisas que eles desejariam!

Quanto ao número de leitores do blogue, ele é visto diariamente por cerca de 100 pessoas, uns dias algumas dezenas a mais e outros a menos. No mês de dezembro, teve uma média de 102 visualizações por dia. Sem grande rigor, diria que o blogue tem cerca de 100 vicentinos, espalhados por todo o mundo, que o visitam pelo menos uma vez por semana. As restantes são de visitantes ocasionais e talvez informáticos (sobretudo da China, Rússia e Estados Unidos), que processam toda a informação existente na internet para depois a disponibilizarem em sítios específicos.

 Já houve tempo em que me preocupava em não ser elitista, mas presentemente essa questão não existe sequer para mim. Cada um faz o que pode e sabe. Como comunidade, damos uns aos outros o que melhor sabemos fazer. Sei que não é bem isso que o Zé Barroso quer dizer e confesso que aprendi com o texto e os comentários sobre a publicação “Já saudade”. Eu resistira sempre em comentar a partida de alguém, com o argumento de que escrevia sobre todos ou sobre nenhum. Mas afinal o blogue ficou mais humano, mais próximo das pessoas e sei que é isso que o Zé e o Ernesto querem dizer.

A participação muito intensa da nossa comunidade traz perigos que não podemos escamotear. Todos conhecemos a história do jornal “Vicentino”. Apesar da divisão artificial que o Pe. Branco criara na nossa comunidade com uma reedição fora de tempo do seu “Pelourinho”, o “Vicentino” resistiu e só morreu quando a sua edição passou de Lisboa para São Vicente. Acabou, quando procurava ultrapassar a sua crise de crescimento, numa tentativa de se democratizar. Por outro lado, a nossa comunidade, como o nosso país, está cheia de treinadores de bancada. Fala-se demasiado e faz-se menos do que o necessário. Queremos sujeitar o blogue a uma avalanche de comentários que nos aproximam das pessoas, mas que nos envolvem em polémicas pessoais e de instituições? Temos disposição para aturar comentários depreciativos, sobre o nosso trabalho, mas sobretudo as nossas pessoas e até sobre os nossos familiares já falecidos, como foi o caso de um comentário que denegria o pai do autor de um texto e que me recusei a publicar? Apesar do nosso grande otimismo na raça humana, escrevem-se coisas na internet que nos fazem duvidar e a nossa comunidade é igualmente capaz do melhor e do pior, como aliás o provam alguns acontecimentos do último meio ano. No fundo, a questão central é o tão atual dilema sobre os limites da liberdade individual: a minha liberdade acaba onde começa a liberdade do outro ou não tem limites?

Embora concordando com tudo o que escreveram o Zé Barroso e o Ernesto, estes são os meus receios sobre o nosso futuro e a forma como o vamos construir. Mas estou otimista, ao contrário do que possa parecer pelo conteúdo do último ponto. Penso que, quando tivermos a solução informática, então acharemos um caminho seguro. 
José Teodoro Prata

sábado, 17 de janeiro de 2015

A Cruz da Oles



Cada tempo tem sua história, épocas áureas para uns e não tão boas para outros.
Os romanos eram na sua época o povo mais poderoso da terra. Por volta do ano 218 a. C., os exércitos de Roma atravessaram a Gália, venceram os Pirenéus e começaram a conquista da Península Ibérica.
Já em 202, na batalha de Zama, derrotaram o general cartaginês Aníbal. Desta maneira terminava o domínio de Cartago e começava o poderio de Roma.
Foram submetendo os povos autóctones, mas houve uma tribo que não se deixou vergar com facilidade, eram os Lusitanos.
Os romanos dominaram a Península durante muitos séculos. Com o tempo, as suas possessões começaram a ser invadidos por tribos bárbaras e pouco a pouco todo o vasto império se foi retalhando.
No princípio do século IV, Vândalos, Alanos, Suevos… foram ocupando as Espanhas. À Lusitânia chegaram os Alanos. Imaginem: mortandades, roubos, miséria… Os Suevos andaram por cá durante muito tempo. Os Visigodos apareceram na península, no ano 414. O poderio visigodo aumentou, por outro lado diminuía a influência romana. Os invasores visigodos foram-se convertendo ao cristianismo. Antes praticavam o arianismo, mas, no terceiro concílio de Toledo, o rei Recaredo converteu-se à fé cristã. Claro, a família seguiu os mesmos passos.
A monarquia visigótica aguentou-se alguns séculos. A espada tinha sido posta de lado, agricultavam os solos, a arte da guerra foi-se esquecendo, a própria fé desmoronando, até que nos finais do século VII apareceu um homem, São Frutuoso que percorreu toda a parte ocidental da península pregando.
Toda a monarquia era palco constante de lutas internas. O povo vaticinava que alguma coisa estava para acontecer nos céus cristãos das Espanhas.
Vitiza rei dos visigodos morreu, deixou três filhos, eram todos menores quando faleceu, mas nomeou Akhila para lhe suceder no trono. Os nobres não concordaram e aclamaram Rodrigo, estávamos no princípio do século VIII, no ano 710. Guerras e mais guerras, quem não se descuidou foram os califas, no ano 711, no dia 28 de Abril, Tarik-Bem-Zeyad, com 7 000 soldados, atravessa o estreito. O rei Rodrigo não pode vir, encontrava-se em Pamplona a combater os vasconsos. Muitos episódios depois, nas margens do rio Guadalete, terminava a monarquia visigótica e começava o domínio árabe que só terminaria definitivamente nos finais do século XV.
(Pesquisa bibliográfica; História de Portugal de Fortunato de Almeida; La batalha de Covadonga)
Locais montanhosos terão servido de refúgio a muitos cristãos, quem sabe se não terá sido essa a função do “nosso” Castelo Velho!
No tempo de D. Afonso Henriques, todo o sul era ainda árabe, os campos da Oles terão sido palco de algaras, escaramuças. Os cristãos venceram a batalha da Oles, o crescente foi derrotado, os moradores do Castelo Velho desceram para um e outro lado da serra, onde se estabeleceram, clima mais ameno, melhores terras…
Toda esta conversa vem a propósito de uma coisa simples e singela:

Conheço a Oles desde criança, a Cascalheira, a Ginjeira… “meu pai cantoneiro, meu avô Zé com suas propriedades para aqueles lados”, aquelas pedras sempre me fascinaram, aqueles lugares contam histórias… aos nossos pés, o campo.
No cruzamento das estradas da Oles com a Cascalheira sempre existiu, em cima de uma “pesserra”, um fuste redondo encimado por uma cruz. Há uns anos a esta parte, algum engraçadinho a decepou, já não foi a primeira vez…
Quem sabe se essa cruz não estava ali para recordar a batalha da Oles! Recordando a aflição, o tormento, as mortes dos bravos que lutaram naquela peleja.
Senhores do mando, vá lá, mãos à obra e voltem a colocar uma réplica.
Àquele lugar sempre se chamou a há de continuar a chamar Cruz da Oles.

Já agora, fiquem com esta:
“Apesar de não chegarem aos cem anos, os homens inventam preocupações para mil” (George Nathan)                                     

 J.M.S

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A pedra da sobreposta


Nos nossos dias, muitos contos, lendas, lengalengas estão a desaparecer, as pessoas idosas, à medida que morrem, levam atrás de si grandes bibliotecas. Aquilo que distingue um povo são as suas tradições, usos e costumes.
Adiante.

Na encosta sul da serra da Guardunha, perto da vila da Soalheira, existe um enorme penedo que, segundo os entendidos, é o maior bloco granítico que existe em Portugal.
Certo dia de verão, andava um ganhão lavrando aquelas terras com sua junta de vacas. Estava um calor abrasador!
À hora do meio-dia, deixa a rabiça do arado, pega na bolsa da merenda, sobe um pouco a encosta, senta-se à sombra de um pinheiro que ficava no sopé do enorme mastodonte de granito, desembrulha o queijo que trazia guardado numa folha de couve, saca das azeitonas e do pão centeio e começa a comer.
O calor apertava, o suor caía do seu rosto, enquanto mastigava. E pensou:
- Raio de vida, com este calor! Não viesse uma trovoada e um raio partisse esta pedra em duas metades.
Continuou a mitigar a fome, enquanto as vacas comiam seu quinhão de caneirões.
Lá longe, muito longe, para os lados de Castelo Branco, uma nuvenzita muito levezinha e pequenina surgiu. O ganhão nem deu por ela.
Como um barco que começa por se ver só a ponta dos mastros, também a nuvem que parecia vogar no céu foi crescendo, crescendo…
Olhando para o horizonte, o ganhão disse:
- Parece que vem aí uma carga de água.
Escureceu, um raio rasgou a imensidão do céu, um trovão ribombou, a nuvem crescia cada vez mais. A chuva começa a cair intensamente, os relâmpagos sucedem-se uns atrás dos outros. Um estrondo enorme, uma peste corta a pedra ao meio, um grande bocado rebola encosta abaixo.
O ganhão, que minutos antes tinha praguejado, não teve tempo de fugir e ficou soterrado juntamente com o carro, as alfaias e as vacas.

Estive muitas vezes ao lado dela, porque andei algum tempo resinando os pinheiros que a cercavam. Respeitava-a pela sua enormidade.
Alguma coisa se terá passado ali, o bocado que jaz ao fundo terá estado algum dia unido ao que ainda se encontra erecto, altivo, enorme, desafiando os céus.
Esta pedra encontra-se numa propriedade que pertence aos herdeiros da família Rolão Preto. Impressiona pelo seu tamanho e grandeza.
De São Vicente à pedra da sobreposta são cerca de seis quilómetros. Muito perto, imponente, grande, semiabandonado, encontra-se o edifício onde outrora funcionou uma das mais importantes escolas do saber em Portugal, o Colégio de São Fiel.
Nele estudou, entre outros, Egas Moniz, até hoje o único prémio nobel da medicina português.

J.M.S

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Tempos que já lá vão



ANTIGAMENTE

Antigamente todos iam à missa
Ia o farmacêutico, ia o doutor
O fiscal, o cobrador
O camponês e o lavrador
A rameira e o curador
Antigamente todos iam à missa

Os senhores à frente altivos e compenetrados
Sentados nos cadeirões bem arrumados
O povo atrás em montellhão
Sentava-se no chão
Não tinha cadeirão
Ouvia o vigário
Que os incitava à oração
Antigamente todos iam à missa

O palio era pelos senhores transportado
Cada um pegava sua vara, três em cada lado
O vigário levava o crucificado
O suor caia cara abaixo, era pesado

O turibulo era levado pelo sacristão
Que o segurava na mão
O andor era carregado pelo povão
Pelos que fizessem a maior arrematação

As bandeiras eram içadas
Pelo povo com devoção
Senhoras ajudavam a levar o pendão
Pegando uma corda com a mão

No alto da torre os sinos tocavam
Dlim, dlão, dlim, dlão e a procissão
Percorria as ruas da vila e todos cantavam
Avé, avé… muitas velas acesas na mão

As janelas varandas e sacadas
Com lindas colgaduras enfeitadas
Algumas antigas e já amareladas
Outras mais pobres e usadas

A banda toca uma marcha dolente
De acordo com a função
Na nossa vila vai passando a procissão
E os músicos marcham cadencialmente

O suor cai em bagadas da cara do senhor prior
A cruz é muito pesada e está calor
No ar os foguetes continuam a rebentar
A procissão não há maneira de terminar
Das janelas soltam-se muitas pétalas de flor
Os anjinhos vão vestidos a rigor
À frente a campainha dlim, dlim a tocar
As irmandades não podiam faltar
Opas vestidas com o presidente a orientar
Muitos mirones na praça a olhar
À passagem do crucifixo vão ajoelhar
Muitos foguetes sobem para o ar
As bombas rebentam pum, pum
E a procissão continua a andar

Bendito e louvado seja o Senhor
Bendita a sua santa mãe
Teve seu filho na cidade de Belém
Onde foi adorado por muito pastor

A igreja está repleta
O Vigário começa o sermão
O povo senta-se no chão
O rico tem cadeirão

Foi bonita a procissão
O vigário explica o acto
E no momento exato
Dá por terminado o sermão

Diante da hóstia consagrada
O povo canta e reza uma oração
O vigário pega a custódia na mão
E toda aquela gente é abençoada

A custódia é incensada
Enquanto dá a benção o prior
De joelhos recebem-na com fervor
Deus está na hóstia consagrada

Juntam-se no largo da festa
Onde dança e convive o povo
Seja velho, criança ou novo
Porque não há outra como esta

Há música no ar
Foguetes a estoirar
Fogaças a leiloar
Frangos a assar
Copos de vinho a emborcar
E o povo dança até se fartar

Outrora é que era bom
Todos iam à missa rezar
Saudades! O mundo não pode parar
Hoje a música é outra, é outro o som

O pálio já ninguém o quer levar
Assim como as bandeiras e o andor
Os fiéis vão morrendo, Senhor
Onde é que tudo isto irá parar

Já não há procissões como antigamente
As tradições estão a morrer
É pena e a meu ver
A fé vai definhando lentamente

O mundo está precisando
De arautos que transmitam a fé
O bispo tem que sair da sua sé
E ir andando por aí pregando

Zé da Villa