sábado, 25 de abril de 2015

LIBERDADE


Em 1974, eu tinha 14 anos e foram estas as duas canções que mais me marcaram, curiosamente ambas a cantar a liberdade.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 24 de abril de 2015

25 de Abril


Era um redondo vocábulo
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar,
Nos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio,
Convocando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança,
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincando e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa

Em 1972, José Afonso foi preso pela PIDE e levado para a Caxias.  E ali, numa sela minúscula, ele que sofria de claustrofobia, compôs esta linda canção. A linguagem é simbólica, fruto dos tempos e das histórico-filosóficas em que era formado.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 22 de abril de 2015

LUGARES AONDE SE TORNA – 3


O homem que mordeu o cão

Todos conhecemos o homem que mordeu o cão; ou julgamos conhecer. Liga-se a telefonia de manhã e lá está ele – como se dormisse na casa de cada um.
Agora que qualquer filho de Deus pode entrevistar um homem na Lua, como se ele estivesse na Fonte Ferreira, a filharada acredita que o homem da Rádio Comercial é que inventou o conceito com que se veste. Já se verá que não foi.
«É uma forma de dizer, um supônhamos», na expressão do senhor Baldaque, uma vez em que se falava do Pelourinho, em frente da loja do Joaquim Boas Noites. Instado, trocou a coisa por miúdos – «se o cão do Pinura ferrasse as canelas da menina Emília, isso não era notícia, era um fait divers, quando muito, paroquial; mas, se o doutor Alves tivesse mordido o cão do Pinura ou aqui do Tónio Fiambre, isso, sim, era uma notícia a sério, e haviam de ver o nome da nossa nos jornais e televisões de todo o mundo!»
Era um homem enxuto ao modo de outros tempos, opinioso, um metro-e-dez sempre cheio de razão – mais verbo que obra, tinha, contudo, a clarividência dos visionários. Nunca soube o nome dele ao certo. Declarava uma grande queda pela América, para onde ameaçava emigrar a qualquer momento – «um dia, se me chateiam, ala moço, América com ele, que é a terra do futuro». Esse dia nunca chegou. Sempre de fato castanho, com riscas cremes na vertical, colete no Verão, em lugar do casaco, esse homem, Sebastião ou Viriato, não sei, foi para mim, sempre, o senhor Baldaque.
Entre nós, no grupo, tudo, gente simples, quando se fala no homem que mordeu o cão, é no senhor Baldaque que pensamos. Não é nesse da rádio, nem mesmo no eminente bispo que o doutor Mário de Carvalho, advogado não praticante, pôs em livro há um par de anos. Eu explico.
Mário de Carvalho, com mais que idade para ter uma ranchada de netos, é um conhecido brincalhão, avezado a amassar histórias e a conceber personagens e situações menos canónicas. Uma dessas histórias, vinda dos anos de 1990, mantendo as qualidades que distinguem o cavalheiro – a graça, sobretudo, nas situações que cria e na maneira de contar - reproduz, digamos, em boa prosa, a tese baldaquiana. No caso, a jornalista Eduarda, e uma multidão de jornalistas, investigam, em Grudemil, que é como quem diz Braga, o episódio do bispo local que mordeu um cão. Os pormenores estão lá, na novela Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto, que se lê com uma cara de sorriso permanente, às vezes exaltada em gostosa gargalhada, um texto indicado, digamos, para todos os dias – no dizer do próprio, uma verdadeira «crónica jocosa da vida portuguesa dos nossos dias».

O senhor Baldaque comentava o Pelourinho muitas vezes. «A nossa terra, cachopos, merecia mais». As histórias que ele contava, o entusiasmo com que o fazia – aquilo era homem, se era assim, a falar, o que seria a escrever! Tivéssemos nós percebido, por estas bandas, a importância da comunicação social, e teríamos dado ao mundo o jornalista que nos faltou.
Não raro, entravam com ele, a provocá-lo, sempre a propósito da história do cão, como a tirar dúvidas sobre a complexidade do conceito: «então, e se o doutor Alves, em vez de morder o cão, tivesse mordido a menina Emília, ou até uma cachopa mais nova, também era notícia?», perguntavam. «Tu queres mangar, companheiro!», tornava-lhes ele, invariavelmente, sem dizer mais.
Até um dia. Confrontado por uns tantos, ali à beira da praça, sobre a mesma questão, foi ouvi-lo – um autêntico visionário: «Então eu explico: podia ser o doutor Alves, mas até era melhor se fosse o bispo, irmão do padre Tomás. No dia a seguir, eu até já estou a ver, era São Vicente por todo o lado, nas televisões e nos jornais, até da América. Ah, raios, com a notícia do bispo que mordeu o cão, era garantido que voltava para cá o concelho, e havia de ser gente e mais gente para aí, da comunicação, turistas e isso». Já em jeito de retirar-se, diz só para eu ouvir, piscando-me o olho: «Isto é como deitar pérolas a porcos – um homem mata-se para levar o nome da nossa terra a todo o lado; mas, dando com gente desta, parente, lá se vai o concelho outra vez».

José Miguel Teodoro

terça-feira, 21 de abril de 2015

segunda-feira, 20 de abril de 2015

domingo, 19 de abril de 2015

Inauguração do PEQUENO LUGAR

O Poeta

 
O Poema

Muito feliz a escolha do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios para a inauguração do Pequeno Lugar, que, como alguém disse, de pequeno só tem o nome. De facto, um local onde se homenageia um poeta como António Salvado, só pode ser grande!   
E é também grande o mérito do artista que desde há tantos anos anda a sonhar este Lugar! E é ainda maior por decidir concretizá-lo na Partida, em vez de noutro local qualquer que lhe trouxesse mais notoriedade. Mas os sonhos não têm preço!
A festa foi linda!

Desde o passeio pela Ribeirinha da Infância … 
         
… à leitura de poemas…
 
...e ao momento musical.

Do final, encarregaram-se as mulheres da Partida, sempre briosas e boas cozinheiras!
Parabéns a todos!

M. L. Ferreira

 Mais...

O São Tiago todo lampeiro, acabado de chegar de um rejuvenecimento.

 O retábulo do altar-mor. Lindíssimo! É originário da igreja do Convento do Seixo, no Fundão. O único que poderia ombrear com este, na nossa freguesia, era o da Senhora da Orada (do nosso antigo convento franciscano), mas está a desfazer-se em pó.

Fotos da M. L. Ferreira e legendas do José Teodoro