terça-feira, 19 de maio de 2015

Conde, infante, paço...


O livro acima apresentado refere-se, na página 111, a São Vicente da Beira, nestes termos:

«Assim Afonso III concedera as vilas acima referidas a Afonso [Arronches, Portalegre e Marvão], na alturs com 9 anos de idade, a 11 de outubro de 1271. Esta doação seria em favor dele e dos seus descendentes e só reverteria para a Coroa caso estes não existissem. A pedido do filho, dois anos depois, concede-lhe também os direitos reais sobre estes bens. A este senhorio juntou-se em 1278 o do castelo e da vila da Lourinhã e ainda bens na Enxara, termo de Torres Vedras, e em São Vicente da Beira.»

O rei D. Dinis acabou por se envolver em conflitos bélicos com este irmão Afonso. Este faleceu sem deixar testamento e D. Dinis questionou a sua herança, embora tenha comprado às sobrinhas Vide e Alegrete.
Será que as terras de São Vicente da Beira ficaram para D. Dinis que as doou depois a seu filho ilegítimo D. Pedro Afonso, conde de Barcelos?
Este viveu em São Vicente da Beira, em terras que ali possuía (no Peral, abaixo do Sobral e do Tripeiro, caminho para o Barbaído) e onde fez um testamento à sua concubina Teresa Anes.
Estará nesta residência a origem da tradição segundo a qual houve um rei que viveu numa estalagem para os lados dos Valecovinhos (Ti Luís Prata)?
E o topónimo Quinta do Infante, junto à Senhora da Orada, que foi morada dos Neto?
E o topónimo Presa do Paço, na Barroca ao fundo do vale do ribeiro das Lajes, com que se regavam as Tapadas abaixo da Tapada de Dona Úrsula?

Este nosso passado longínquo continua na penumbra. Esta é apenas mais uma achega.

José Teodoro Prata

domingo, 17 de maio de 2015

Quinta-feira da Ascensão



Já foi um dos dias santos mais importantes do calendário religioso, mas, desde que deixou de ser feriado, tem vindo a cair um pouco no esquecimento da maior parte das pessoas. Atualmente, muita gente já nem dá por ele. Provavelmente é o que vai acontecer a alguns dos feriados que acabaram nos últimos anos, caso não os reponham brevemente.
Em conversa com algumas pessoas do nosso Lar, a maior parte recorda a Quinta-feira da Ascensão como um dia muito importante, em que era pecado trabalhar. De tal maneira que…

Se os passarinhos soubessem
Qual o dia da Ascensão,
Não comiam nem bebiam,
Nem punham os pés no chão.

Lembram-se também do tempo em que, nesse dia, os rapazes apanhavam andorinhas e as soltavam durante a missa. Alguns atavam-lhes uma fita à perna e punham-se ao desafio, a verem qual voava melhor. As raparigas e as mulheres espalhavam pétalas de rosas que, depois de bentas, apanhavam e levavam para casa.
A Ti Lurdes Barroso diz que se lembra de um dia, enquanto tocavam para a missa, ter visto as folhas das oliveiras a cruzarem-se, como se fizessem o sinal da cruz; e a Ti Felicidade diz que nesse dia a Nossa Senhora anda pelos campos a abençoar as plantas todas. É por isso que as ervas para os chás só se devem apanhar a partir dessa altura.
Quinta-feira da Ascensão é também conhecido como dia da espiga. Depois da missa as raparigas iam ao campo apanhar espigas e flores para fazerem um ramo. Normalmente iam em grupo de amigas ou em família, mas as mais namoradeiras iam com os namorados. Conta a Ti Antónia, com quase cem anos e alguma marotice, que se ainda eram virgens, muitas vezes iam para lá a rir, mas voltavam a chorar.
Para ser como é dado, o ramo tinha que levar espigas de várias qualidades, rama de oliveira, rama de videira, papoilas, malmequeres brancos e amarelos e anecril. Depois tinha que se deixar todo o ano pendurado atrás da porta para trazer saúde, pão, alegria, amor e paz. Servia também para livrar das trovoadas e das bruxas quando se defumava a casa com um bocadinho do ramo.
 Este ano também fizemos o ramo da espiga no nosso Lar, para ver se conseguimos todas essas graças, que bem precisamos delas.


A Lurdes tão concentrada a escolher as flores!

A Ti Júlia prepara os raminhos de oliveira 
(o Ti Chico olha de esguelha: estas coisas não são para homens…)

 
Até parece que está zangada, mas não! 
É apenas muita concentração e responsabilidade para o ramo ficar bonito…
Foi uma tarde de memórias e um pouco diferente.

M. L. Ferreira

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Fomos encorridos


Em meados dos anos sessenta, com os meus 13 ou 14 anitos, estava a estudar no seminário. Também nessa altura, havia na Partida um padre, o padre Zé Manel,  que ali tinha sido colocado pelo bispo da Guarda, como coadjutor do nosso padre Branco.
O povo da Partida adorava aquele padre e isso fazia sombra ao nosso pároco,  de tal modo que um dia o padre Zé Manel teve que fazer as malinhas e ir pregar para outra freguesia.
As gentes da Partida ficaram revoltadíssimas e, como povo unido que sempre foi e ainda é, juraram que ninguém daquela terra iria assistir a uma missa que ali fosse celebrada pelo padre Branco.
Os seminaristas, quando estavam de férias, tinham por obrigação acompanhar o pároco nos seus afazeres religiosos. Uma dessas tarefas era acompanhá-lo nas suas deslocações pelas anexas,  a fim de ajudar à missa. Todos os domingos o Padre Branco ia à Partida  celebrar mesmo sabendo que a igreja ia estar vazia. Fazia-se acompanhar de dois ou três seminaristas e, enquanto dois deles ficavam cá fora  a guardar o "Jeep", o outro vinha cá abaixo à capela a tocar o sino. Imaginem uma criança a tocar o sino e ao mesmo tempo a ser enxovalhado por uma turba, que estava em frente na taberna do Zé Nunes, sem saber o porquê daquela agressão, e depois ir a correr rua acima, meio encorrido, a ajudar à missa!
Uma vez,  depois da missa, eu vinha no assento ao lado do condutor e, num pequeno janelo estava uma rapariga nova a rir-se com ar de troça. Quando chegou ao pé dela, a janela do carro à altura do janelo, o padre Branco travou de repente, vira-se para a moça e pergunta zangado:
- De que é que se está a rir, ó sua puta!
A moça, envergonhada, meteu-se logo para dentro e eu  parece que me caiu um raio em cima ao ouvir um padre dizer uma barbaridade daquelas.
Noutro domingo, como na altura ainda se atravessava a ribeira por não haver ponte, vimos uma tranca a atravessar o caminho, enfiada no muro dum lado e numa taloca de oliveira do outro lado. Ao ver aquilo, o padre Branco acelerou o  "Jeep" e a tranca desfez-se em vários pedaços.
Mas o que eu queria contar prende-se com a festa de Santiago:
Calhou estarem cá os seminaristas e, mal sabendo onde nos íamos meter, fomos recrutados para ir ajudar à festa. Lembro-me que o Chico Bela, irmão do Padre Jerónimo e meu primo,  ainda estava no seminário e também foi. 
Pela receção, vimos logo que não ia ser tarefa fácil. Eu mais o meu primo ficámos a guardar o carro e o colega ou colegas lá foram para dentro da capela ajudar à missa.
A capela estava à cunha, mas, quando o padre Branco começou o sermão, a gente da Partida, que era a grande maioria, saiu em peso para a rua.
Cá fora, alguns rapazotes mais taludos, alguns dos quais são agora meus amigos, tentavam provocar-nos. Mexiam no carro, tentavam rebuscar o interior e mandavam piadas de mau gosto. A estratégia foi não reagir e não sair dali. Éramos só dois e eles muitos!
O padre Branco, ao ver os da Partida sair da capela, perdeu as estribeiras e o sermão saiu ao estilo de rajada de metralhadora. Pobres beatas do Mourelo e Vale de Figueira!
Logo que acabou a missa metemo-nos todos à pressa no carro e o padre Branco nem pelo caminho veio; meteu pelo alqueve abaixo, com uma chuva de pedras a cair na fraca cobertura de lona do "jeep". Fomos encorridos!
Quando chegámos ao caminho, esperava-nos uma grande pedra posta propositadamente para nos bloquear. Pagou um homenzinho que passava e que, aos gritos do nosso padre, lá tirou a pedra.
Foi a primeira vez que fui ao Santiago da Partida e a dor de cabeça foi tal que penso que, se tivesse tido oportunidade de pôr o chapéu, este não ia fazer o milagre.

E. H.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Gente Nossa


José Candeias 

A minha palestra, no Louriçal, começou e acabou da mesma forma: um homem da última fila levantou-se e partilhou comigo a alegria de todos os dias acordar às 5 horas da manhã para ouvir o José Candeias, que é filho dos vicentinos Guilhermino Fernandes Candeias e Maria de Jesus, neto paterno de José Fernandes Candeias e Maria dos Anjos e materno de Hipólito dos Santos e Maria da Luz.
O José Candeias faz o programa da madrugada, na RDP, Antena 1, entre as 5 e as 7 horas, um programa com o seu cunho pessoal e o seu nome: JOSÉ CANDEIAS.
É um comunicador nato que estabelece grande empatia com todos os que o ouvem pelo mundo fora. O essencial do seu programa é mesmo o diálogo que estabelece com os portugueses, em Portugal ou espalhados pelo mundo, a viver ou em viagem, via telemóvel ou pelas novas tecnologias informáticas.
O seu programa é PORTUGAL, seja o que for que isso signifique. Está ali o nosso falar, o nosso sentir, a nossa culinária, o nosso dia a dia, a nossa diáspora...
José Candeias é um excelente profissional e certamente o vicentino mais conhecido em todo o mundo. Devemos orgulhar-nos.



José Teodoro Prata