domingo, 17 de maio de 2015

Quinta-feira da Ascensão



Já foi um dos dias santos mais importantes do calendário religioso, mas, desde que deixou de ser feriado, tem vindo a cair um pouco no esquecimento da maior parte das pessoas. Atualmente, muita gente já nem dá por ele. Provavelmente é o que vai acontecer a alguns dos feriados que acabaram nos últimos anos, caso não os reponham brevemente.
Em conversa com algumas pessoas do nosso Lar, a maior parte recorda a Quinta-feira da Ascensão como um dia muito importante, em que era pecado trabalhar. De tal maneira que…

Se os passarinhos soubessem
Qual o dia da Ascensão,
Não comiam nem bebiam,
Nem punham os pés no chão.

Lembram-se também do tempo em que, nesse dia, os rapazes apanhavam andorinhas e as soltavam durante a missa. Alguns atavam-lhes uma fita à perna e punham-se ao desafio, a verem qual voava melhor. As raparigas e as mulheres espalhavam pétalas de rosas que, depois de bentas, apanhavam e levavam para casa.
A Ti Lurdes Barroso diz que se lembra de um dia, enquanto tocavam para a missa, ter visto as folhas das oliveiras a cruzarem-se, como se fizessem o sinal da cruz; e a Ti Felicidade diz que nesse dia a Nossa Senhora anda pelos campos a abençoar as plantas todas. É por isso que as ervas para os chás só se devem apanhar a partir dessa altura.
Quinta-feira da Ascensão é também conhecido como dia da espiga. Depois da missa as raparigas iam ao campo apanhar espigas e flores para fazerem um ramo. Normalmente iam em grupo de amigas ou em família, mas as mais namoradeiras iam com os namorados. Conta a Ti Antónia, com quase cem anos e alguma marotice, que se ainda eram virgens, muitas vezes iam para lá a rir, mas voltavam a chorar.
Para ser como é dado, o ramo tinha que levar espigas de várias qualidades, rama de oliveira, rama de videira, papoilas, malmequeres brancos e amarelos e anecril. Depois tinha que se deixar todo o ano pendurado atrás da porta para trazer saúde, pão, alegria, amor e paz. Servia também para livrar das trovoadas e das bruxas quando se defumava a casa com um bocadinho do ramo.
 Este ano também fizemos o ramo da espiga no nosso Lar, para ver se conseguimos todas essas graças, que bem precisamos delas.


A Lurdes tão concentrada a escolher as flores!

A Ti Júlia prepara os raminhos de oliveira 
(o Ti Chico olha de esguelha: estas coisas não são para homens…)

 
Até parece que está zangada, mas não! 
É apenas muita concentração e responsabilidade para o ramo ficar bonito…
Foi uma tarde de memórias e um pouco diferente.

M. L. Ferreira

2 comentários:

Ernesto Hipólito disse...

Mais um lindo documentário como só a Libânia sabe fazer. É comovente ver estes agora velhinhos que nos acompanharam durante tantos anos das nossas vidas e tanto nos ensinaram e ainda ensinam. Bonita homenagem a eles e bonita recordação do Dia da Espiga.
Bem hajas cachopa.

E.H.

Anônimo disse...

Só uma nota a propósito do anecril:
Enquanto conversávamos sobre a Quinta-feira da Ascensão e das tradições a ela associadas, a Ti Amélia que está quase sempre numa grande agitação motora e já muito alheada do mundo que a rodeia, quando ouviu falar no ramo da espiga, parou um pouco e repetiu várias vezes: anecril, anecril…. Dá que pensar, e talvez esteja aqui parte da resposta à questão que o Francisco Barroso colocava há dias. Quando se bate à porta das memórias destas pessoas, elas deixam-nos entrar muito facilmente. Difícil é começar…

M. L. Ferreira