sábado, 24 de outubro de 2009

Cabeço do Padre Teodoro


Foto do Cabeço do Padre Teodoro, na actualidade, visto do lado do poente.

No relato da minha experiência autárquica, no iníco dos anos 80 ("Experiência Autárquica" de 16 de Outubro), fiz referência ao Cabeço do Padre Teodoro.
Este sítio, junto ao Marzelo, local onde se cruzavam as estradas norte-sul (C. Branco-Fundão/Covilhã), pelas Vinhas e Poldras, seguindo pela Corredoura, em direcção à Senhora da Orada, e este-oeste (Alpedrinha-Almaceda), por dentro da Vila e saindo pela ponte, junto a Santo André, era, em 1975, propriedade dos herdeiros do visconde de Tinalhas.
Porquê este topónimo (Padre Teodoro) e estes donos?
Eis a explicação:

O Padre Theodoro Faustino Dias viveu, no século XVIII, em Tinalhas. Foi cura (pároco) do Freixial do Campo, no 3.º quartel desse século.
Era um grande agricultor, tendo herdado propriedades de vários familiares, um dos quais lhe deixou um morgado (conjunto de propriedades indivisível) que veio a ser a base do património dos seus descendentes, os viscondes de Tinalhas.
O Padre Teodoro era, por exemplo, o maior criador de gado bovino do concelho (cerca de 30 cabeças).
Mas nem sempre foi padre. Só seguiu o sacerdócio após enviuvar, pouco antes de 1750.
Casara com Maria Cabral de Pina, do monte do Violeiro, filha do Sargento-Mor Domingos Nunes Pouzam e de Brittis Maria Cabral de Pinna, ele do Violeiro e ela da Quinta da Canharda, freguesia de S. Miguel de Fornos, junto a Algodres.
Este casal teve vários filhos: a Maria, já referida, um Joam Cabral de Pinna, que viveu em S. Vicente e depois no Fundão, e outros quatro filhos que se fixaram em S. Vicente da Beira. Foram eles o Padre Manoel Cabral de Pinna, o Padre Estevam Alvares de Pinna, Brites Cabral e Joanna Cabral. Os dois irmãos padres e as duas irmãs solteiras viviam numa casa situada na rua que vai da praça para a ponte, como então se designava a actual Rua Nicolau Veloso.
Por morte dos pais, foram herdeiros de muitas propriedades, na Vila e no Violeiro. Por exemplo, pertenciam-lhes a Azenha Nova e o lagar junto à capela do Apóstolo Santo André, ao fundo da Devesa.
É natural que estas propriedades dos irmãos Cabral de Pina tenham sido herdadas pela sobrinha que tinham em Tinalhas, a filha de Theodoro Faustino Dias e de Maria Cabral de Pinna. Não era filha única. Tinha um irmão, Estevão Dias Cabral, que era padre jesuíta e faleceu, na Vila, em 1811. Também a herança deste terá passado, mais tarde, para a herdeira do já então Padre Theodoro Faustino Dias.
Chamava-se Euzebia Dias Cabral e casou com Antonio Jozé Ferreira Meyreles Ferreira Gramaxo, natural do Fundão, mas a viver na Soalheira.
Cerca de 1800, surge frequentemente na documentação o nome deste Antonio Meyreles, com muitas propriedades, incluindo residência, em S. Vicente da Beira, que eram as que a esposa herdada do ramo materno da família.
Foi o neto de Antonio Meyreles e de Euzebia Dias Cabral, chamado José Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara, que recebeu o título de visconde de Tinalhas.
O seu filho e 2.º visconde, Tomás de Aquino Coutinho Barriga da Silveira Castro e Câmara, foi presidente da Câmara de S. Vicente da Beira, em finais do século XIX.
A sua residência era na casa onde viveu o tio Albano Jerónimo, situada na rua que vai da praça para a ponte, e que é agora de Luís Barroso. A casa anexa a esta, na Rua Velha, para o lado nascente, servia de cozinha à residência do visconde e foi dela que veio o lintel manuelino que está actualmente nas traseiras da Igreja Matriz, numa janela aberta aquando das últimas obras, nos anos 80.

O cabeço junto ao Marzelo seria, então, uma das propriedades da família Cabral de Pina, também antepassados dos viscondes de Tinalhas.

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