sábado, 11 de fevereiro de 2012

O jogo do speta


Um pedaço de pau de pinheiro, da grossura de um dedo e com uma mão-travessa de comprimento, mais um pedaço de varelha de um guarda-chuva estragado espetado no miolo do pau. Afia-se a ponta do arame em pedra de granito e está pronto.
O speta da foto tem 8 cm de pau e outro tanto de arame. Ainda não foi afiado, nem será, pois o dono já não joga.
Se faltar material ou a pressa for muita, um prego de caibro também dá e até um de solho, em desespero de causa.


Joga-se de setembro a maio, depois da chuva amolecer a terra. Há dois jogadores (o azul e o vermelho). Cada um faz a sua casa, um círculo, à distância que apetecer (2 a 4 metros). Cada segmento do percurso não pode ultrapassar um palmo do jogador. Se ultrapassar, perde. Se espetar o speta e ele cair, perde igualmente e joga o adversário. Cada jogador deve dar a volta à casa do adversário e voltar para a sua.


Os jogadores já deram a volta à casa do adversário e estão a voltar para trás, pois se forem em frente não poderão entrar na sua casa.


O azul jogou, mas perdeu ao tentar circundar a sua casa, num caminho propositadamente apertado pelo adversário. Coube a vez ao vermelho que fez a mesma coisa com êxito e terminou o percurso. Para finalizar, desenha junto à sua casa uma casinha do tamanho dos três dedos maiores da mão (comprimento e largura). Espeta lá dentro o speta e termina espetando 3 vezes dentro da sua casa. Ganhou o vermelho!

Ficou célebre, entre a rapaziada do meu tempo, a resposta do Alexandre do Casal dos Ramos, quando questionado pela Dona Natália do motivo para tão grande atraso na chegada à escola:
"Estive a jogar ao speta no lagar farrancha."
Referia-se a um lagar em ruínas, junto às passadouras da ribeira. Ali, o chão era bem molinho!

3 comentários:

Ernesto Hipólito disse...

Cheguei a ter uma infecção no ombro direito de tanto jogar ao "speta".
Tempos maravilhosos esses. Era o Speta (espeta de espetar), era a Bilharda, o Botão, A Espada Nua, o Nocho, a Marra, o Porro, o Burro,etc.
Era um tempo sem "consolas", mas que consolados (alegres) nós andavamos!

José Teodoro disse...

Tantos jogos de que não me lembro!
Tens de ser tu a fazer esta parte.
Um abraço.

Anônimo disse...

Uma navalha, das boas, também serve para o efeito; eu acreditava que era muitíssimo melhor. Foi com essa convicção que a navalha do meu pai (com que ele cortava o pão, etc.) viajou à revelia do dono, até à Praça (que ainda não se chamava medieval) para ganhar a qualquer um que viesse.
Foi dura, a coisa: se ganhei ou perdi ao speta, não sei; mas, na volta, a folha da navalha ia bastante maltratada, com bocas na lâmina e a abanar indecentemente.
Com que cara se devolve, em tais circunstâncias, a navalha assassinada ao respectivo dono?

jmteodoro