quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O nosso falar: coebulhos

Esta é uma palavra do outro mundo, ou melhor, de outros mundos.
Quando há anos a encontrei, no livro de atas da Câmara de São Vicente da Beira, primeiro achei estranho e depois senti uma inquietação.
Vasculhei nas minhas memórias e ela lá apareceu: eram uns farrapos velhos muito sujos a que a minha mãe chamava cadabulhos, num tempo em que não havia caixotes do lixo para deitar fora o que já só incomodava.
Uma postura municipal de 1769 proibia a lavagem de coebulhos na ribeira e nos ribeiros, «...no tempo em que durar o alagar dos linhos...», para não os sujarem e enegrecerem. A multa era pesadíssima: 4 mil réis, o ordenado de mais de dois meses de um jornaleiro!

4 comentários:

Ernesto Hipólito disse...

Seria bom saber o significado da segunda parte da palavra (bulho).
Lembro-me de "debulhos", que são as tripas de cabras e ovelhas que não se aproveitam e são lançadas aos cães e de "esbulhar" que se bem me lembro significa "espoliar" , no fundo "roubar".
Não deve ser coisa boa.
Ernesto Hipólito.

José Teodoro Prata disse...

E coebulhos também vem de coelhos.
No passado, aproveitavam-se as peles dos coelhos para fazer roupas e utensílios. Por exemplo, ao colar que se coloca no pescoço dos burros para sobre ele colocar a canga em ferro, chamamos bornil, mas na Idade Média chamava-se coelheira, porque era feito de peles de coelho.
E muitas peles de coelho ficariam a abandonadas pelo chão, durante anos, até se desfazerem, formando rolos de sujidade. Talvez também venha daí o nome.

Anônimo disse...

Coisas que voces sabem. Meu deus meu deus, como dizia o ti Zé Nicha
um abraço para vós
FB

Ernesto Hipólito disse...

Francisco.
É agradável lembrares o Ti Zé Nicho, figura da nossa terra que ainda hoje é tema de conversa. Uma pessoa só morre quando se deixa de falar nela.
O ti Zé Nicho o "Colhão de Almude" sofria de elefantiase, doença que lhe fazia ter um testículo enorme mas ele levava a doença para a brincadeira.
Garanto-te que com outros colegas de brincadeira cheguei a ver esse testículo que de facto era um monumento!
Coisas que nós sabemos! Meu Deus Meu Deus!
Um grande abraço do amigo.
Ernesto Hipólito