sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O nosso falar: ladrões

Cresciam nos troncos das oliveiras e nos ramos mais fortes. Eram umas vergantas* esbeltas e viçosas que o meu pai cortava com a tesoura de podar, sem dó nem piedade.
Isso tinha eu, com pena de ramos tão belos que no ano seguinte dariam boa azeitona.
Que não, retorquia o meu pai, eles tiravam era a força à oliveira, deixavam sem seiva os ramos que davam azeitona. Por isso se chamavam ladrões!
Talvez sim, talvez não, ficava-me eu na minha, de adolescente. Às vezes, durante a colheita, deixava um por entre outro ou cortava-o só pelo meio, mas o meu pai vinha por trás e cortava-os rentes, pela base.
Nesse tempo ainda não chegara a moda atual de cortar os ramos todos da oliveira e esperar que dois anos depois os novos rebentos se encham de azeitona. Era ainda à moda antiga, em que a poda de uma oliveira requeria saber e arte.
Agora tenho de decidir sozinho, por minha conta e risco. No ano passado tinha uma oliveira cheia de ladrões altos no meio dos ramos, mas deixei-os todos, na esperança de que este ano vergassem com o peso da azeitona, pois era ano de ela carregar.
Qual quê? Fosse pela força excessiva dos ladrões ou pela seca estival, ou ambas duas, fui dar com a oliveira quase seca e sem azeitona. Cortei-lhe os ladrões rentes e limpei-a dos ramos secos. Agora é esperar que recupere.
E aprendi a lição. Fiz uma razia nos ladrões de todas as oliveiras, foi tudo ao chão!


Vergantas: a palavra correta é vergônteas, mas sabe-se como é o povo, a lei do menor esforço...

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