quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Um país que se esvai...

A propósito da desertificação do País, ouvi a deputada Catarina Martins, num dos últimos debates na Assembleia da República, dizer o seguinte: «o País está a esvair-se! Todos os anos saem de Portugal mais pessoas do que as crianças que nascem!...».
Achei dramática esta imagem, mas penso que é a que melhor define o que está a acontecer a Portugal e principalmente às regiões do interior.
De acordo com um estudo publicado recentemente pela Reconquista, a manter-se a tendência atual, dentro de poucos anos a população da zona do Pinhal Interior não será suficiente para assegurar os serviços essenciais (não me lembro dos números, mas são assustadores). E basta olharmos à nossa volta para vermos que é assim; na nossa freguesia e noutras aqui perto.
Nos últimos anos tenho viajado bastante aqui pelas Beiras. Tenho descoberto lugares maravilhosos: paisagens de nos deixarem de boca aberta; aldeias e vilas bem cuidadas; muitas obras de recuperação em edifícios e praças. Mas vê-se cada vez menos gente…
Um exemplo desta situação é Janeiro de Cima que visitei há pouco tempo. As casas do centro da aldeia foram quase todas recuperadas e estão lindas, mas aparentemente todas desabitadas. Parecem casas de bonecas e uma pessoa sente-se como se estivesse a passear numa terra de faz de conta!


Há duas semanas fui ao Mourelo. Andava ao tempo com vontade de lá ir ver os fornos da rua, como lá lhe chamam, recuperados recentemente, mas nunca mais me apunha. Foi uma surpresa! Deve ter sido uma grande terra, a julgar pelas casas lindas que ainda por lá há.


Que pena que muitas estejam tão danificadas, algumas completamente esbarrondadas e a maior parte desabitada!
Cruzei-me com o Ti Virgílio, um velhote muito simpático e bom conversador (parece que é uma característica comum à maior parte das pessoas da charneca), a quem perguntei se tinha ideia de quantas pessoas ainda lá viviam. Ele respondeu-me: «Ao certo, ao certo, não sei, mas já me lembro do tempo em que só em quinze casas havia noventa e cinco pessoas. Agora, ao todo, se forem umas trinta e cinco é muito…».
À volta da aldeia vêem-se boas terras de cultivo, muitas ainda com ar de sementeira recente. Deve ser por isso que as ruas se chamam Rua da Vinha Velha; Rua do Lameirão; Travessa do Vale do Linho; Rua da Barroca. Logo à entrada passamos pelo Largo da Portela. Parece que era lá que antigamente, nos dias de calmaria, as pessoas se sentavam a apanhar o ar fresco vindo da serra.
Quando me preparava para fotografar um dos fornos vi, a espreitar de um quintal no cimo da rua, uma mulher, também já idosa. Gabei-lhe o forno do povo, que estava lindo, mas ela respondeu-me: «Pois está lindo, está, mas já ninguém lá coze!».


Que pena!


M. L. Ferreira

Um comentário:

xx cuco xx disse...

Belo post este, Para além de estar muito bem escrito, infelizmente, descreve uma realizade de assombra as aldeias do interior. A desertificação e exêdo rural.
Em Janeiro de 2012, também publiquei um estudo feito por mim que demonstra a tendência populacional em Louriçal do Campo, até ao ano de 2031. Juro que fiquei assustado. Vejam em http://lourical.blogspot.pt/2012/01/status-lourical-do-campo-em-2021-e-2031.html

Cumprimentos,
Carlos Domingues