quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Óbitos, 1811

ÓBITOS, 1811
Paróquia de Nossa Senhora da Assunção
São Vicente da Beira

- 1811: 57 óbitos. A morte estava cansada de tantos que ceifou em 1810 (106 óbitos). Saldo fisiológico de 1811: 51 batismos – 57 óbito = - 6.
- A mortalidade do ano anterior tornou insuficientes as sepulturas disponíveis dentro da Igreja. Neste ano, 15 pessoas foram sepultadas no adro (26%). Na sua maioria, eram pessoas de fora da freguesia ou adultos solteiros, sem família direta. Nos registos, foi colocada uma cruz junto ao nome de quem foi sepultado no adro, talvez em substituição da palavra pobre que aparecia em certos registos, nos anos anteriores.
-Expostos falecidos: 3. Tinham nascido 4 e morreram 3, não necessariamente os mesmos. Conclusão: poucas crianças expostas sobreviviam.
- O Pe, Estêvão Cabral faleceu em Tinalhas, onde ficou sepultado. Não se faziam os registos de óbito das pessoas falecidas noutra freguesia, ainda por cima ficando lá sepultadas. Mas trata-se de um clérigo.
O Pe. Estêvão Cabral era um dos 6 irmãos Cabral de Pina, do Violeiro, filhos do Sargento-Mor Domingos Nunes Pousão, do Violeiro, e de Brites Maria Cabral de Pina, da Quinta da Canharda, S. Miguel de Fornos, Algodres. A filha Maria casou com o Alferes, mais tarde Capitão e depois de enviuvar Padre Teodoro Faustino Dias, lavrador com posses, de Tinalhas. As outras duas filhas, Joana e Brites, ficaram solteiras e vieram viver para a Vila, para junto dos irmãos padres: Estêvão e Manuel. Este foi capelão de São Tiago e provedor da Misericórdia, onde o irmão Manuel era capelão. Havia ainda um sexto filho, João, que viveu em São Vicente, mas depois se fixou no Fundão.
Estes irmãos eram os donos da Azenha Nova, do lagar e de um pomar que ali existia. Moravam na Rua Nicolau Veloso. O Pe. Estêvão deu aos franceses 5 alqueires de milho e ao exército de Portugal certa quantia que lhe deviam em Coimbra. Terá sido a sua irmã Joana (a documentação apenas refere uma Dona Joanna) a dar 40.000 réis para o exército de Portugal, em 1808.
Mas será que estes irmãos ainda eram vivos nos inícios do século XIX? É possível que não e que o Pe. Estêvão Cabral a que se refere a documentação sobre as invasões francesas fosse o seu sobrinho de Tinalhas, o padre jesuítica Estêvão Dias Cabral, que aqui viveu nas propriedades que haviam sido de seus tios e que aqui faleceu, em 1811, segundo o historiador José Manuel Landeiro. Mas se é ele, afinal faleceu em Tinalhas! 
O registo de óbito apresenta-o como sendo de São Vicente da Beira. Mas se se trata do velho padre Estêvão Cabral (de Pina), então toda a historiografia que segue Landeiro está errada!
Curiosidade: o Padre jesuíta Estêvão Dias Cabral deu nome ao largo da Igreja de Tinalhas.

1
Nome: Joana Luiza
Família: casada com Andre Magro, de Tinalhas
Data: 01/01/1811

2
Nome: Manoel Martins
Família: solteiro, do Violeiro, São Vicente da Beira
Data: 04/01/1811

3
Nome: Anna
Família: menor, filha de Manoel Duarte e Joana Cazimira, de São Vicente da Beira
Data: 05/01/1811

4
Nome: Antonia
Família: menor, filha de Joaõ Antunes e Maria Antonia, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 08/01/1811

5
Nome: Paulo
Família: viúvo, natural dos Vales, Peroviseu
Data: 11/01/1811

6
Nome: Maria Francisca
Família: casada com Eleuterio Freire, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 18/01/1811

7
Nome: Maria Duarte
Família: casada com Francisco Fernandes, de São Vicente da Beira
Data: 24/01/1811

8
Nome: Izabel Antunes
Família: solteira, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 26/01/1811
Observações: sepultada no adro da Igreja

9
Nome: Domingos Gonçalves
Família: viúvo, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 27/01/1811

10
Nome: Joaquim
Família: menor, filho de Joze Antunes Amoreira e Maria Mendes, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 27/01/1811

11
Nome: Padre Estevaõ Cabral
Família: de São Vicente da Beira
Data: 01/02/1811
Observações: O Pe. Estevão Cabral era do Violeiro e fixou-se em São Vicente da Beira, onde exerceu o seu sacerdócio. Faleceu repentinamente, pelo que não recebeu sacramentos. Foi sepultado na Igreja de Tinalhas.

12
Nome: Dorotea
Família: menor, filha de Caetano Duarte e Maria da Ressurreiçaõ, de São Vicente da Beira
Data: 08/02/1811

13
Nome: Domingos Rodrigues
Família: solteiro, filho de Joaõ Rodrigues, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 10/02/1811
Observações: foi sepultado no adro da Igreja

14
Nome: Silvestre Rodrigues
Família: casado com Francisca Vas, de Alcains
Data: 11/02/1811
Observações: foi sepultado no adro da Igreja

15
Nome: Vicencia Maria
Família: casada com Joze Antunes, de São Vicente da Beira
Data: 18/02/1811

16
Nome: Manoel Bernardo
Família: casado com Ana de Oliveira, de São Vicente da Beira
Data: 18/02/1811

17
Nome: Joze
Família: exposto, dado a criar na Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 21/02/1811

18
Nome: Joaquim
Família: exposto, dado a criar a Joaquina Maria, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 25/02/1811

19
Nome: Aniceto
Família: menor, filho de Francisco Joze e Jozefa Leitoa, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 02/03/1811

20
Nome: Joaõ
Família: menor, filho de Manoel Rodrigues e Francisca Alves, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 13/03/1811

21
Nome: Maria Francisca
Família: mulher de Antonio Fernandes Baranda, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 21/03/1811

22
Nome: Tereza de Jessus
Família: solteira, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 11/04/1811
Observações: foi sepultada no adro da Igreja

23
Nome: Maria Justa
Família: viúva, da Soalheira
Data: 12/04/1811
Observações: faleceu sem sacramentos e foi sepultada no adro da Igreja

24
Nome: Victoria Maria
Família: viúva, de São Vicente da Beira
Data: 19/04/1811
Observações: foi sepultada no adro da Igreja


25
Nome: Domingos Simaõ
Família: casado com Antonia Maria, do Castelejo
Data: 22/04/1811
Observações: não recebeu o sacramento da santa unção, por não chamarem a tempo; foi sepultado no adro da Igreja

26
Nome: um rapaz
Família: desconhecido
Data: 22/04/1811
Observações: recebeu os sacramentos da penitência e santa unção, mas não se soube o seu nome, «…nem a pátria…»(naturalidade); foi sepultado no adro da Igreja

27
Nome: Maria
Família: menor, filha de Joze Ramalho e Angelica Maria, de São Vicente da Beira
Data: 30/04/1811
Observações: foi sepultada no adro da Igreja

28
Nome: Maria
Família: menor, filha de Antonio Rodrigues Paradanta e Izabel Rita, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 05/05/1811
Observações: foi sepultada no adro da Igreja

29
Nome: Antonio
Família: menor, filho de Domingos Mateus e Maria Martins, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 23/05/1811

30
Nome: Francisco
Família: menor, filho de Bartolomeu Gonçalves e Joana Maria, de São Vicente da Beira
Data: 06/06/1811

31
Nome: Jozefa
Família: exposta, dada a criar a Inocencia Gama, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 29/06/1811

32
Nome: Domingos Mateus
Família: casado com Maria Martins, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 05/07/1811
Observações: foi sepultado no adro da Igreja

33
Nome: Luzia Maria
Família: viúva de Antonio de Couto, de São Vicente da Beira
Data: 17/07/1811

34
Nome: Joze
Família: menor, filho de Domingos Joze e Leonor da Costa, de São Vicente da Beira
Data: 18/07/1811

35
Nome: Izabel Maria
Família: viúva de Manoel Fernandes, de São Vicente da Beira
Data: 23/07/1811

36
Nome: Caterina
Família: menor, filha de Manoel Bernardo e Anna de Oliveira, de São Vicente da Beira
Data: 29/07/1811

37
Nome: Micaella
Família: solteira, filha de Manoel Leitaõ e Suzana Leitoa, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 08/08/1811

38
Nome: Suzana Leitoa
Família: viúva de Manoel Leitaõ, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 09/08/1811

39
Nome: Joze
Família: menor, filho de Miguel do Espirito Santo e Angelica Maria, de São Vicente da Beira
Data: 12/08/1811

40
Nome: Joaõ
Família: menor, filho de Rodrigo Leitaõ e Maria Leitoa, da Paradanta, São Vicente da Beira
Data: 13/08/1811

41
Nome: Tereza Rodrigues
Família: viúva, dos Pereiros, São Vicente da Beira
Data: 27/08/1811

42
Nome: Francisca Gonçalves
Família: casada com Joze de Oliveira, de São Vicente da Beira
Data: 03/09/1811

43
Nome: Tereza de Jessus
Família: viúva de Manoel de Almeida, de São Vicente da Beira
Data: 08/09/1811

44
Nome: Maria
Família: menor, filha de Joaõ Francisco e Maria Rodrigues, do Mourelo, São Vicente da Beira
Data: 11/09/1811

45
Nome: Maria
Família: menor, filha de Gonçalo Duarte e Jozefa da Silva, de São Vicente da Beira
Data: 14/09/1811

46
Nome: Maria Rodrigues
Família: viúva de Manoel Francisco, de São Vicente da Beira
Data: 16/09/1811
Observações: foi sepultada no adro da Igreja

47
Nome: Manoel
Família: menor, filho de Antonio Barreiros e Maria Vas, de São Vicente da Beira
Data: 16/09/1811

48
Nome: Maria das Neves
Família: solteira, de São Vicente da Beira
Data: 21/09/1811
Observações: foi sepultada no adro da Igreja

49
Nome: Francisco
Família: menor, filho de Francisco Castanheira e Roza Gonçalves, de São Vicente da Beira
Data: 24/09/1811

50
Nome: Maria
Família: menor, filha de Manoel de Barros e Vicencia Maria, de São Vicente da Beira
Data: 27/10/1811

51
Nome: Leonor
Família: menor, filha de Pedro Lopes e Joaquina de Amaral, assistentes na Vila (São Vicente da Beira)
Data: 31/10/1811
Observações: foi sepultada no adro da Igreja

52
Nome: Manoel
Família: menor, filho de Joze Simoens e Ana Maria, do Vale de Figueiras, São Vicente da Beira
Data: 12/11/1811

53
Nome: Angelica Maria
Família: casada com Joze Ramalho, de São Vicente da Beira
Data: 24/11/1811
Observações: faleceu repentinamente

54
Nome: Maria Gomes
Família: viúva de Joze Lourenço, do Vale de Figueiras, São Vicente da Beira
Data: 26/11/1811


55
Nome: Manoel Duarte
Família: casado com Francisca Maria, de São Vicente da Beira
Data: 09/12/1811
Observações: foi sepultado no adro da Igreja

56
Nome: Joaquim
Família: menor, filho de Antonio Barreiros e Mareia Vas, de São Vicente da Beira
Data: 22/12/1811

57
Nome: Maria
Família: menor, filha de Manoel Venancio e Joana Maria, da Partida, São Vicente da Beira
Data: 26/12/1811

José Teodoro Prata

6 comentários:

Anônimo disse...

"O Grande Livro dos Portugueses" diz que o cientista padre Estevão Dias Cabral nasceu em Tinalhas no dia 23 Fevereiro de 1734 e faleceu em São Vicente da Beira no dia 1 de Fevereiro de 1811.Aos catorze anos seu pai mandou-o para Coimbra estudar no colégio dos jesuitas onde aprendeu latim, filosofia e ciências.
Nesse tempo reinava em Portugal o rei D.José, Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras e futuro marquês de Pombal,era o ministro todo poderoso. Por motivos políticos o rei assinou um decreto que expulsava os jesuítas de Portugal(3 de Setembro 1759). Os que ainda não tivessem recebido o sacramento da ordem se quisessem podiam ficar.
Seu pai deslocou-se à cidade de Coimbra para tentar convence-lo a regressar à casa paterna para gerir os bens da família. Não aceitou a proposta do pai e seguiu para Roma onde concluiu os estudos e foi ordenado.
Entretanto o papa Clemente XIV nomeou-o mestre do colégio romano onde ensinou matemática
Ao fim de trinta anos voltou a Portugal. A primeira coisa que fez foi regressar a Tinalhas visitar a família, seu pai tinha falecido fazia quatro meses. Nessa altura reinava a rainha Dª. Maria I que o mandou chamar e o visconde de Vila Nova da Cerveira encarrega-o de estudar as margens do rio Tejo e outros. Enquanto permaneceu em Roma tinha estudado afincadamente hidraulica.Inventou um método que determinava a velocidade e a quantidade das águas correntes, um outro que elevava a água nos sifões em grande quantidade
Depois de uma vida cheia fixou residência em São Vicente da Beira. No dia 1 de Fevereiro de 1811 entregava a alma ao criador, seu corpo foi levado para Tinalhas onde foi sepultado.
P.S. Para os lados da Devesa existia um olival (não sei se ainda existe) chamava-se as oliveiras (dos) cabrais. este olival terá alguma coisa a ver com estes cabrais!
Quando se procedeu à abertura das valas para o saneamento básico e águas domiciliárias junto à igreja apareceram esqueletos, assim que se tocavam desfaziam-se, eram pó.
J.M.S

Anônimo disse...

Menos óbitos que no ano anterior, mas ainda assim, bastantes. Quase metade são menores.
Vida desgraçada a daquela gente! Houve um casal que perdeu dois filhos no espaço de poucos meses (o Manuel em setembro e o Joaquim em dezembro).
No dia 8 de setembro, morreu a Micaellla e no dia seguinte morreu a mãe, também já viúva. Poderia ter sido de parto, mas o nome do marido não consta nas listagens de óbitos imediatamente anteriores.
O senhor Jozé Ramalho perdeu a filha, em Abril, e a mulher, em Novembro.
E já agora, como é que conseguiam enterrar tanta gente na igreja? Bem sei que os pobres ocupavam pouco espaço porque eram sepultados sem caixão, mas devia ser quase como se as pessoas fossem enterradas em valas comuns…

M. L. Ferreira

José Teodoro Prata disse...

Libânia:
As igrejas eram os cemitérios. Nas cerimónias religiosas, as pessoas ficavam entre sepulturas. Se houvesse um chão de madeira sobre a terra, com uma abertura para cada sepultura, então esse problema já não se punha.
Quem for ao Porto, visite a Igreja de São Francisco, junto ao Palácio da Bolsa, na Ribeira, e vai perceber bem como era.

José Manuel:
AS obras de hidráulica do Pe. Estêvão Dias Cabral, em Roma, num afluente do rio Tibre, foram importantes e deram-lhe fama internacional.
A trasladação do cadáver de São Vicente para Tinalhas era possível, mas não comum. Mas como se tratava de gente importante...
No registo de óbito, o Vigário não escreveu que ele faleceu em São Vicente, apenas que ele faleceu de repente e foi sepultado em Tinalhas.
A ser ele, então também foi ele, e não seu tio, quem fez os donativos para os exércitos francês e português.

José Teodoro Prata disse...

Em todo o caso, no ano passado assisti a uma palestra sobre o Pe. Estêvão Dias Cabral, em Tinalhas, e foi dado como adquirido que ele faleceu e ficou em São Vicente. Afinal, foi sepultado na Igreja de Tinalhas!

Anônimo disse...

Que o padre Cabral faleceu em São Vicente penso não haver dúvidas,se não tivesse falecido na vila o vigário não mencionaria o seu óbito. A nossa igreja nos alvores do século XX ainda possuia pequenos alçapões no sobrado cada um conrespondia a uma campa, isto contou-me por exemplo o senhor Joaquim Teodoro e outros. Com a requalificação feita em 1918 a igreja terá levado um sobrado novo!
O que que me faz espécie eram os enterramentos feitos em redor da igreja, não devia haver nada que separasse o espaço!
J.M.S

José Teodoro Prata disse...

Zé Manel:
Esta tua informação sobre a existência, na nossa Igreja Matriz, até 1918, de um sobrado, com alçapões, para acesso às sepulturas é muito importante, em termos históricos.
Quando esse sobrado foi substituído, já há dezenas de anos que não se faziam enterramentos na igreja. O início das obras de construção do nosso cemitério data de 1826.
Obrigado pela informação.