segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Migrações internas


Aos 19 de março de 1698, casaram Manuel Fernandes Pereira Pisoeiro e Maria Henriques, na Igreja Matriz de S. Vicente da Beira..
Ele de Moselos, freguesia de Campo, concelho de Viseu, e ela de São Miguel de Poiares, concelho de Vila Nova de Poiares (distrito de Coimbra).

Ele seria pisoeiro, a julgar pelo apelido que lhe acrescentaram ao nome. 
Nós tínhamos em São Vicente vários pisões nas margens da ribeira, pois éramos um centro de produção de tecidos com alguma importância. 
De um deles nos ficou o topónimo Chão do Pisão.
O pisão era um engenho em que se pisoavam os tecidos depois da tecelagem, a fim de os lavar e dar aperto às fibras. Também havia pisões que serviam para tingir os tecidos, após a tecelagem. Nos inícios deste século XVII, tínhamos em São Vicente um cristão-novo (descendente de judeus) que era tintureiro.

Há dias, reuni com a pessoa que trabalha numa plataforma genealógica, a quem envio os meus levantamentos de registos de batismos, casamentos e óbitos.
Dizia-me ele que fazer o levantamento da freguesia de São Vicente é fundamental, para estudar a genealogia da região a sul da Gardunha, pois foi via São Vicente que chegaram a esta zona muitas pessoas originárias do interior-centro entre o rios Zêzere e Douro (concelhos interiores dos bispados de Coimbra e Viseu), com destaque para os concelhos de Arganil, Góis, Oliveira do Hospital...
Parece que é uma região muito bonita e todos lá temos as nossas raízes. Temos de lá ir um dia destes!
Para melhor perceberem o que acima escrevi, deixo um exemplo:
Acabei ontem o levantamento dos registos de casamento de 1702. 
Foi um ano muito fértil (26 enlaces), em comparação com os anos anteriores (1700 - 4; 1701 - 8).
Dos 52 noivos, 32 eram originários da nossa freguesia (62%), 13 noivos vieram da região a que atrás me referi (25%) e 7 (13%) de outras terras (da Covilhã e Penamacor, passando por Vila Velha de Ródão, até Aldeia do Mato (Abrantes)).
Estranhamente, nenhum noivo veio das freguesias de Sobral de Campo, Almaceda, Castelejo e Souto da Casa. Por duas razões: por mero acaso e porque o casamento com estes nossos vizinhos iria ganhando importância com o desenrolar do século XVIII e sobretudo no século XIX.
As migrações para São Vicente da Beira já foram estudadas pela nossa Maria João Guardado Moreira e a sua amiga Helena Diogo, no estudo Migrações Internas para S. Vicente da Beira no século XVIII, publicado nas Comunicações das I Jornadas de História Regional do Distrito de Castelo Branco, obra que se encontra esgotada.
José Teodoro Prata

2 comentários:

Anônimo disse...

Segundo o estudo realizado pela Maria João Guardado Moreira e Helena Diogo a vila de São Vicente da Beira era uma comunidade que atraia pessoas não só das regiões periféricas mas também de comunidades mais distantes.A vila de São Vicente da Beira apesar de não se situar nos principais eixos viários era uma vila relativamente prospera, não era uma comunidade fechada.
Como estaria a vila de São Vicente da Beira se não tivessem suprimido o concelho!
Como seria a vila e a região nos dias de hoje se naquele tempo tivesse havido Homens capazes e lutarem pela sua restauração!
Vila Velha de Ródão, Vila de Rei e Belmonte conseguiram...
J.M.S

Anônimo disse...

O comentário anterior já respondeu, em parte, às questões que queria colocar. Resta-me o lamento por hoje em dia não haver ninguém a querer vir para cá. Mas se calhar também já não há muita gente nessas terras…
Sobre a viagem àquelas paragens, apoio completamente. E a melhor época para se fazer é nas próximas semanas porque, para além do interesse histórico e da beleza natural durante o ano inteiro, nesta altura está tudo salpicado do amarelo das mimosas, o que a torna ainda mais deslumbrante.

M. L. Ferreira