domingo, 18 de fevereiro de 2018

Altar franciscano na Orada







Após a extinção do convento franciscano feminino (1835), o altar mor da Igreja de São Francisco (o templo do convento) foi mudado para a capela da Senhora da Orada.
Há anos que está em completa degradação. É policromado (azul, vermelho e amarelo), mas pouco se nota nas fotos, quer pela sujidade acumulada, quer pela fraca qualidade da máquina fotográfica.

José Teodoro Prata

9 comentários:

Anônimo disse...

É por esta e por outras como esta que se percebe que os portugueses ainda são uns labregos relativamente ao seu património.
Temos imensa arte sacra por esse país fora ao abandono e em degradação constante. Os restauros necessitam de pessoal qualificado e são caros...acho que as últimas intervenções de manutenção do altar
foram do meu avô Augusto, cuja especialidade não era o restauro. A sua fama foi mais por fazer um "sarindão", para a família Lopes, seus vizinhos e amigos da frente, que mereceu um galardão pelo tempo recorde com que foi concluído, como os mais velhos lembrarão.
Mas o que podemos esperar deste pequeno e pobre país em desertificação acelerada tanto em temos demográficos como geográficos?
têm duvidas? Vão dar uma volta a São Vicente e subam à Serra...e verão o que é a desolação.
FB

M. L. Ferreira disse...

Tem razão o Francisco, e muito mais poderia dizer; mas o que é que se espera quando, por mais que se fale na importância da preservação do património, as prioridades são sempre outras?
Sobre o altar franciscano da Senhora da Orada, acho que a máquina fotográfica do José Teodoro é muito boa! É que quem vê as fotografias não fica com uma ideia do estado real em que está aquela preciosidade. Já lá tenho ido ajudar a limpar a capela nas vésperas da Romaria, e nem com um espanador de penas me atrevo a limpá-lo.
Já agora, o que é um "sarindão"?
M. L. Ferreira

Jaime da Gama disse...

MEMÓRIA DO RELIGIOSO MOSTEYRO
De S. Francisco da Villa de S. Vicente da Beyra

Chamava-se Theodosia Vaz esta mulher infigne, & era uma das mais pobres que nasceram nesta Villa de S. Vicente, porque todos seus bens se reduziram a um limitado tugúrio, em que morava, sendo em os da natureza, & muyto em particular nos da graça a mais abundante, & opuleta de todo o seu termo. Tinha irmãos, & irmãs casadas com pessoas que viviam do próprio suor, & desejando seus pays acomodar esta, a desposarão também pobre, & violentamente com um moço chamado Antonio Fernãdes igual a ella, afim na destituição da fortuna terrena, como na assistência do influxo celeste, porque era bem inclinado, amigo de deus, & reverenciador das virtudes. Com estas prerrogativas tão conformes, facilmente se unirão as duas vontades, oferecendo a Deus em amoroso holocausto à victima da pureza que sempre guardarão vivendo em perfeyta honestidade. Durou porém poucos anos o virtuoso consorte; & assim o disporia o Altíssimo, para que mais livremente se aplicasse esta mulher valerosa a vencer as difficudades, com a falta dos bens mundanos se opunha à magnanimidade de espirito. Já chegava aos vinte & cinco anos de idade; & sendo conhecida por exemplar de devoção, & modéstia, em que brilhava decorosamente a beleza de que era dotada, com graves instancias a pertendião muytos sujeytos para esposa. Estes combates assistidos de grandes conveniências, & melhoras de fortuna, em outros corações facilmente abriram brecha para avassalar a vontade; mas como a desta creatura se tinha oferecido verdadeiramente a Deus, & com Deus desejava perpetuar-se, nem o mundo com as artelharias das riquezas, nem o Demónio com as fortes avançadas das suas industrias poderão romper. & Invadir a sua constancia. Concorrèraõ feyticeyras dando arbítrios, que o mestre infernal enfinava desenganado suspendeo as lições vingando-se das mesmas que recorriam ás suas astucias.


Nota: Este texto foi escrito conforme o ORIGINAL.

Retirado do livro: Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia de Portugal 5 parte

Anônimo disse...

Sarindão: caixa de madeira retangular com lados de cerca de 40cm de altura, pegas como os andores e o fundo com fisgas paralelas com uma largura aproximada de 2cm onde se esmagavam as uvas à mão para fazer o vinho.
As fisgas não podiam ser largas para não deixar passar os engaços e bagos inteiros, mas não podiam ser tão estreitas que não permitissem dar algum ritmo ao trabalho. Era colocado em cima da dorna, mais tarde, do tanque próprio para vinho.
Uma das experiências mais horríveis da minha vida depois da morte do meu pai foi usar o sarindão. As costas ficavam completamente desconjuntadas.
A sorte é que o meu irmão por afinidade, o Gramunha, ao perceber a fadiga que era aquilo, Fundão com ele a comprar um maquinismo, que nos aliviasse. Abençoada hora.
Nas zonas do país com abundância de vinho e inteligência esmagavam as uvas com os pés ao compasso de uma rebaldeira qualquer desde que tivesse um ritmo regular.
De maneiras que era assim Libânia, nos tempos antigos donde nós vimos
FB

M. L. Ferreira disse...

Obrigada, Francisco, pela tua explicação! Valeu a pena a provocação (podia ter ido ver ao google...) porque, mais uma vez, nos deliciaste com esta maneira, tão peculiar, como falas das coisas.
A sério que não sabia o que era um sarindão. E a minha ignorância não era como a daquela nossa conterrânea que, ao fim duns meses a servir em Lisboa, quando voltou à terra já não se lembrava do que era um garrancho. É que os meus pais nunca fizeram vinho, e, em casa dos meus avós, os gachos eram mesmo pisados com os pés, ao ritmo duma rebaldeira qualquer.
Delicioso, também, o trecho que o Jaime Gama nos trouxe sobre a Theodosia Vaz. Mas, afinal, quem era esta mulher? Andei à procura, mas as publicações já são tantas que não consegui encontrar.

M. l. Ferreira

Jaime da Gama disse...

Chegou finalmente a hora que tanto apetecia, por meyo de uma febre aguda, à qual darião afficacias os incêndios da caridade, em que seu coração ardia. Mandou chamar à sua presença as Religiosas, & depois de pedir-lhes que se lembrassem della em suas orações, lhes encomendou com o seu costumado fervor de espirito a conservação da boa vida, & Santas em que a tinha educado, & lançando-lhes a bênção se despedio Sua alma das prisões do corpo com muyta Suavidade em 6 de Setembro de 1577. Foy Sepultada na Igreja ao pé do único altar que tinha, & para mayor decência, & resguardo do seu cadáver huma mulher principal da Villa de Castello Branco, por nome Anna Correa, lhe mandou por em cima uma pedra com o sequinte epitáfio: “Aqui jaz Theodosia da Paixão Abbadessa primeyra a que fez este Mosteyro”.

Retirado do livro: Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia de Portugal 5 parte

Theodosia Vaz entrou para o seu Mosteyro e ao receber o habito passou a ter como sobrenome Paixão.
Esta Senhora pediu licença ao Fr. Mathias, Provincial da Terceira Ordem, a quem a casa dava obediência para a criação de um Mosteiro.
Chegou a Lisboa à presença da Rainha D. Catharina, Governadora do Reino que lhe concedeu Licença para edificar o Mosteiro pois esta Rainha era notavelmente afeiçoada a todas as pessoas Religiosas.

Este Mosteiro antes da a morte da sua fundadora, entregou a governação à Madre D. Maria de Centeno.

José Teodoro Prata disse...

E o projeto de ir até à Beira Alta conhecer os passos de Teodósia da Paixão?
É dia de são nunca?

Unknown disse...

Transmiti ao conselho da Ordem Terceira na altura que me deste conhecimento, voltarei a insistir
De uma maneira ou de outra havemos de lá ir

Quanto ao local de nascimento dos antepassados de Ribeiro Sanches, foi à conclusão que eu cheguei, mas...
Quem lê, conclui que a pessoa em causa é natural de Castelo Branco, São Vicente da Beira
Julgo que a terra da naturalidade devia constar em primeiro lugar e só depois o concelho a que pertence
-Não havia necessidade, uma vez que São Vicente; "como tu dizes e muito bem", na altura gozava de autonomia municipal
J.M.S

M. L. Ferreira disse...

Pois, é este dos passos de Teodósia da Paixão e vários outros projetos que já estiveram na forja... Somos uns pringueirões! Não tarda, vêm aí os dias grandes e amenos,os campos floridos... É mesmo a altura ideal!
Sobre a abadessa, foi o apelido Vaz que me baralhou, para além da condição social. Normalmente não eram mulheres ricas que fundavam os conventos? Pelos vistos, não só.

M. L. Ferreira