domingo, 2 de setembro de 2018

O nosso falar: estar trabalhado

Andei pelas alturas, mas nem sempre foi fácil a vida de um caminheiro com vertigens!
Frequentemente me veio à boca uma expressão estranha àquelas serras: Estamos trabalhados.
Era o meu pai que a usava e bem se aplicava a alguns momentos que ali vivi.
Não é o mesmo que Estamos lixados. Esta é também negativa, mas não deixa esperança, pois já não há nada a fazer.
Estamos trabalhados indica que a situação é complexa e nos esperam grandes trabalhos para sair dela.
Foi o que me aconteceu naqueles picos do mundo:


José Teodoro Prata

5 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Já os antigos diziam «Quem se mete em atalhos, mete-se em trabalhos.»
E havia lá necessidade de ir para tão longe para andar por cima de pedras? Há tantas na Gardunha... (Se a inveja fosse tinha…).

Anônimo disse...

Picos da Europa? Pelas vacas parece. Espero que tenhas provado presunto de vaca, que é famoso nessa região. Os montes são de uma imponência majestosa. quem me la dera...
FB

José Teodoro Prata disse...

Foi nos Alpes Suíços.
As fotos não mostram toda a beleza, pois estas são de situações "trabalhadas". E houve outras...
Mas são mesmo muito parecidos com os Picos da Europa!

José Barroso disse...

As fotografias cheiram-me a Espanha!
O nosso linguajar dava um livro. Aliás, já deu alguns. Esta do "estar trabalhado (ou travalhado"), não só é idêntica à do "estar lixado" como à do "estar (t)chapado", já abordada neste blog; tendo-se na altura alvitrado que esta última teria a ver com as sortes para ir à tropa em que era tirada uma chapa; o que, portanto, nada augurava de bom para o sujeito mobilizado. São só propostas semânticas, como se pode ver pelos dicionários; com efeito, chapa pode também querer dizer "ordenança" (conf. a tal chapa militar) ou "licença"; "chapar" também podia significar "ter coito com..."! Em todos os casos, porém, seria sempre uma marca e essa seria sempre negativa!
Mas, estes regionalismos se fossem mesmo um dialeto gramaticalmente estruturado, poderiam ter-nos trazido problemas, como (ainda) se vê noutros países (basta ver o que se passa aqui ao lado em Espanha). Pois que, como é sabido, a unidade linguística foi um factor de afirmação de unidade nacional. Isto, a par da cunhagem da moeda e de uma identidade cultural de nação (para a qual, naturalmente, contribui a própria língua)! De maneiras que é assim... É uma espécie de pescadinha de rabo na boca!
No pasado foi sssim. Mas isto está a mudar com tal rapidez, devido à globalização, que não se sabe onde vai parar... Percebe-se, todavia, que o Inglês já é a língua do mundo e a moeda (aqui e por agora) é europeia... Entretanto, a Europa já é quase um país; e cada país é, cada vez mais, uma região.... É o progresso. Sabe-se bem o que aconteceu ao Latim...
Veja-se onde me trouxe o nosso linguajar...!
Abraços, hã!
JB.

M. L. Ferreira disse...

Têm desculpa, tanto o Francisco como o Zé Barroso, para não terem acertado no local onde foram tiradas as fotografias. É que, normalmente, o que nos mostram da Suíça são, ou as estâncias turísticas de luxo com as montanhas cheias de neve por trás, ou as colinas verdejantes com as casas de varandas floridas; aquilo que mais vende, bonito, mas provavelmente o menos interessante. É por isso que quando viajo (viajava, que ultimamente tem sido uma miséria…), sempre que possível prefiro ir de carro, e parar e visitar o que me apetece, em vez de ser levada para onde me querem levar.
Tem piada que quando vi o título desta publicação, também me veio logo à ideia o “chapada”, e lembrei-me da minha tia Adelaide que quando eu dizia alguma coisa engraçada ou fugisse à norma, exclamava logo. «Esta minha sobrinha é mesmo tchapada!» Mesmo não tendo chegado a perceber bem o que é que ela queria dizer (acho que não seria nenhum elogio), dizia-o com tanto carinho que tenho saudades de a ouvir…
E do menino ou menina que se diz que é a cara chapada do pai ou da mãe? Realmente a nossa língua é muito complexa e muito rica!
Sobre “Identidade!, vi há dias no Museu das Descobertas, em Belmonte, uma definição do Eduardo Lourenço que achei extraordinária e registei: «Cada povo só o é por se conceber e viver justamente como destino. Isto é, simbolicamente, como se existisse desde sempre e tivesse consigo uma promessa de duração eterna. É essa convicção que confere a cada povo, a cada cultura, pois ambos são indissociáveis, o que chamamos “identidade”.