segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Topónimo: Poldras

O sítio das Poldras situa-se à entrada de São Vicente da Beira, para quem vem do Sul (Castelo Branco, Tinalhas...), imediatamente antes da Oriana.
Qual será a origem deste topónimo?
Passa ali um ribeirito onde correm as águas que escorrem da Serra, confluem para o Caldeira e descem, em forma de ribeiro, até à Ribeirinha.
Em sentido perpendicular atravessa-o a estrada agora de alcatrão, mas no passado de calçada, vinda das Vinhas. No passado mais distante era uma estrada romana, de que ainda existem vestígios nas Vinhas e acima da Senhora da Orada. Dali, a estrada romana seguia para o Marzelo (cruzamento com a estrada Alpedrinha-Almaceda) e pela Corredoura até à Orada e depois à Portela de São Vicente (agora Alto da Portela).
Ora, ao passar o ribeiro acima referido, os coches, carroças e carros de bois passavam bem, mas as pessoas não. E a passagem de pessoas naquele local seria intensa, quer para os campos das Vinhas, quer para as povoações do Campo. Por isso existiriam umas poldras ou passadouras, para não se molharem.
E foram elas que deram o nome ao sítio.

José Teodoro Prata

4 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Será que esta forma de atravessar rios e ribeiros também vem já do tempo dos Romanos? Se a memória não me atraiçoa, em Idanha-a-Velha ainda existem poldras no rio Ponsul, um pouco mais abaixo da ponte romana. E das da nossa Ribeira, quem é que não guarda alguma recordação?
Há nomes de lugares tão bonitos e sugestivo que é pena que, por serem também tão antigos, muitas vezes não se possa chegar, com alguma certeza, à sua origem.

José Barroso disse...

Para dizer a coisa na sua expressão mais simples, há três significados para "poldra", sempre com o "o" fechado: cada uma das pedras dispostas numa corrente de água para se poder passar a pé-enxuto; vergôntea de árvore para se reproduzir por estaca; égua nova.
No caso, interessa-nos apenas o primeiro. Com efeito, no sítio das Poldras, à saída de S. Vicente da Beira para sul, passa um ribeiro onde, em tempos, terá havido umas pedras para se poder passar, tal como acontecia nas "passadouras" para o Casal da Fraga. Como parece, os animais passavam a vau, desde que não fosse nos dias de cheias; nesses dias, simplesmente, não se passava por aqueles sítios. Seria necessário esperar que as águas decrescessem de volume. Em relação às ditas "passadouras", fui algumas vezes dar a volta pela estrada (Casal dos Ramos), quando ia na noite da consoada a casa dos meus avós maternos devido ao caudal da ribeira...!
O luxo do alcatrão, qual folha de papel, é de há poucos anos. Antes dele, as estradas de "macadam" eram pouco duráveis e requeriam conservação constante. Havia um cantoneiro em cada "cantão" (um ou mais por cada aldeia), para manter a estrada transitável. Mas foi só a partir do séc. XIX que os governantes deram mais atenção às vias de comunicação como factor importante para o desenvolvimento do país. Os romanos tinham percebido isso antes! As suas estradas perduraram até aos nossos dias e muitas foram utilizadas praticamente até àquela época.
No entanto, as poldras continuam a ser utilizadas em acessos particulares; e penso até que na antiga Egitânia (Idanha-a-Velha) ainda estão as poldras no rio Ponsul.
Isto também eram Terras do Demo.
Abraços, hã.
JB


José Teodoro Prata disse...

Tal como as fontes de mergulho terão sido a primitiva forma de juntar a apanhar água, também as poldras foram a forma primitiva de passar a enxuto num sítio alagado. A sua primeira forma terá sido colocar na água uma pedra (ou várias) que ficasse acima do nível da água e assim permitisse uma travessia seca. Isto há muitos milhares de anos!
Picasso, ao visitar as gravuras rupestres na gruta de Lascaux, em França, terá exclamado: "Não Inventámos nada!"

M. L. Ferreira disse...

A propósito disto, lembrei-me do José Miguel Teodoro que, na sua forma tão peculiar de falar das coisas, a propósito da origem do nome do Sobral do Campo, diz: “ No campo, a 3 léguas de S. Vicente, há uma grande mancha de sobral e próximo desta um casal com duas casas de madeira e cobertura de palha...». E mais à frente, a propósito do Freixial do campo: «Para sul do sobral, à medida que nos aproximamos do limite do concelho, a monotonia do campo contrasta com a mancha de matagal que se vê mais ao longe. Aos que aqui moram chamam-lhes do freixial, em razão dos muitos freixos que ali há». Ma há mais, basta procurar “ NO TEMPO DOS AVÓS MAIS VELHOS” porque tudo tem a sua sua razão de ser.