sábado, 21 de maio de 2022

Uma lenda da Senhora da Orada

 Frei Agostinho de Santa Maria visitou a Senhora da Orada antes de 1711 e nesse ano publicou a obra Santuário Mariano em que conta a conhecida lenda da donzela e ainda esta:

Na vila de S. Vicente da Beira vivia uma mulher casada com um homem que, além de ser de condição acre e terrível, era muito ciumento e com esta paixão molestava muito a inocente mulher e a maltratava.

E como ela era boa e devota de Nossa Senhora, avivava o demónio (para a pôr em desespero e a apartar das virtudes em que se exercitava) mais a guerra que o marido lhe fazia. E chegou isto a tanto que lhe sugeriu o demónio que a matasse, porque lhe faltava na fidelidade que lhe devia.

Com estas falsas presunções, em que o inimigo o metia, levou enganada a honesta e virtuosa mulher àquele sítio, que por ser deserto naquele tempo e nas faldas de uma serra, lhe pareceu acomodado para lhe tirar a vida e a deixar sepultada nele.
Vendo a aflita mulher o intento do marido e o grande perigo em que se achava, sem ter quem lhe valesse, mais que o Céu, valeu-se daquela misericordiosa Mãe dos aflitos pecadores, para que ela a defendesse no aperto em que se achava, encomendando-se a ela em seu coração. Não se deteve a misericordiosa Senhora. Apareceu-lhe logo, confortando-a e repreendendo ao iludido marido com grande severidade.
Este, livre da tentação, pelo favor da Senhora, e reconhecido da sua culpa e temeridade, em julgar mal da sua inocente esposa, pediu perdão à Senhora e, em ação de graças, pela misericórdia que com ele e com sua honesta esposa usara, prometeu melhorar a vida e lhe edificar, naquele lugar, uma Casa, para perpétua memória do benefício que ambos recebiam.

Dando logo princípio, os venturosos casados, à Casa da Senhora, mandaram fazer aquela Santa Imagem, que nela colocaram, na forma que lhes apareceu.

José Teodoro Prata

2 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Uma história interessante e bem diferente daquela que nos habituámos a ouvir desde sempre, mas cuja lógica é a mesma: o direito absoluto do homem sobre a vida da mulher, quer seja a esposa ou a filha, e a interceção de Nossa Senhora. É o que nos vale!
O mais trágico disto tudo é que a situação se mantenha ainda em vária culturas, incluindo aquelas que consideramos mais evoluídas, como, com demasiada frequência, nos vão dando conta os nossos noticiários.
A fotografia é uma preciosidade, embora só reconheça a Ti Mari da Sara(?).

Anônimo disse...

Estava cá eu a pensar, um destes dias em que me interrogava sobre a data da festa da Senhora da Orada.
Aqui há tempos (anos, entenda-se) o senhor Armando Baptista-Bastos, num programa de TV, perguntava a cada um dos convidados "Onde é que você estava no 25 de Abril".
Que tal organizar uma recolha de testemunhos, ao jeito do B-B, no caso em resposta à pergunta: "Qual a sua memória da Senhora da Orada?".
Para alargar o espectro de participações, os testemunhos poderem ser prestados em prosa e também em video/audio - toda a gente tem tlm, toda a gente sabe usá-lo para fazer um video; ou, tlm em punho, pronto a gravar:"Oh Vó, conte lá uma coisa de que se lembre de quando ia à Senhora da Orada"
Pareceu-me uma boa ideia, companheiros. Dava, creio, uma iniciativa com pés para animar este espaço e, até, material para uma futura edição em papel.
À tua atenção ZTP.
Um abraço.
JMT