segunda-feira, 2 de maio de 2022

Santa Bárbara

O mundo não está muito para festas, mas andarmos todos tristes também não ajuda a melhorar nada. É bom voltarmos à normalidade nas nossas pequenas comunidades, e dela fazem parte também as festas e romarias.

Não será muito antiga a festa de Santa Bárbara aqui no Casal da Fraga, porque, como se sabe, a primitiva capela situava-se no Valouro, mesmo no limite entre São Vicente e o Sobral. Penso que não se sabe quando foi mandada construir (o José Teodoro não o refere no livro sobre o Concelho de São Vicente da Beira), mas seria bastante antiga e importante para as povoações à volta (o registo de óbito de Violante Antunes, no dia 4 de junho de 1728, diz que era ermitoa da capela de Santa Bárbara; outro registo de 27 de janeiro de 1744 diz também que faleceu Sebastiana Nunes, pobre, ermitoa da mesma capela).

Há quem se lembre de ouvir contar histórias sobre a maneira como, após a extinção do concelho, os da Vila trouxeram a imagem da Santa e conseguiram escondê-la dos do Sobral. Parece que ainda houve grandes zaragatas e os ressentimentos mantiveram-se por muitos anos. Depois trouxeram também as pedras de cantaria que foram utilizadas na construção da atual capela.

No Valouro já é difícil encontrar vestígios da antiga capela, mas, um pouco mais adiante, construíram um altar com a imagem da Santa, e, na segunda-feira a seguir à Páscoa, muita gente do Sobral junta-se lá para rezar e conviver.

O Casal da Fraga visto da Devesa 

M. L. Ferreira

4 comentários:

José Barroso disse...

Tenho, com as festas do Casal da Fraga, uma ligação especial, porque, como se sabe, os meus avós maternos, Francisco Eurico e Hermínia Rosa, residiam lá. E lá tinham também, em local central, à beira da estrada, a taberna e a mercearia! Nos domingos à tarde, na taberna, havia sempre muita "malta" a ouvir os relatos de futebol num rádio a pilhas!
Na prática, a Páscoa, em casa dos meus avós, era celebrada nessa festa, com almoço e reunião de família, etc. É sempre a custo que vamos gerindo as emoções que essas recordações nos trazem. Pois, dessas épocas, faltam quase todos os mais velhos. O caso da minha tia Maria de Jesus (do Zé Alfaiate) é excecional porque, felizmente, ainda está entre nós e vai a caminho dos 101 anos!
Ao lado da casa dos meus avós, onde hoje é o Largo da Fonte, era, na altura, um pequeno quintal de couves e oliveiras, creio que da ti' Maria de Jesus Apolinário! Mas o arraial era feito ali à volta, na estrada e no caminho que ia para o campo de futebol (como ainda hoje vai)!
Outra coisa de que me recordo, a propósito dessa festa, era, quando andávamos para o lado da capela de Santa Bárbara, irmos às pútegas no mato por ali acima, porque era o tempo delas!
Sobre as rivalidades entre as diversas populações, que metiam santos e tudo, existe essa história da Santa Bárbara do Valouro (Sobral do Campo) e a do Casal da Fraga; mas contam-se muitas outras. Alguém me disse, um dia, que, antigamente, pela Páscoa, na Vila, a imagem do Senhor Santo Cristo da Misericórdia, ficava pregada na cruz, no Calvário, desde Quinta Feira Santa e só era retirada aquando do sermão de Sexta Feira Santa, à tarde. Acontece que, um desses anos, passaram os do Souto da casa e já iam com a imagem às costas na Escavação, perto da paragem de autocarros dos Pereiros! E lá foram os de S. Vicente da Beira fazer frente aos ladrões para recuperar a imagem!
Em Lisboa há uma rotunda muito conhecida a que chamam, precisamente, "Rotunda do Senhor Roubado", o que deve corresponder a uma história idêntica; e quantas outras haverá por esse país! Para recuperar um título da Libânia diria que "Era assim naquele tempo".
Abraços, hã!
JB

José Teodoro Prata disse...

As memórias que guardo da casa dos meus avós Francisco e Rosário são também sobretudo da festa da Santa Bárbara. Lembro-me muito bem do arroz-doce que a minha avó nos dava. Na casa de balcão com o forno em frente. E as Boas Festas à tarde...

Anônimo disse...

A propósito da Rotunda do Senhor Roubado:

O Padrão do Senhor Roubado é um monumento situado em Odivelas, Portugal, localizado à saída da Calçada de Carriche, num pequeno largo junto à estrada que conduz ao centro da cidade de Odivelas, construído em 1744, após uma trágica história referente aos tempos da Inquisição.


História
Na manhã de 11 de Maio de 1671, a Igreja Matriz de Odivelas apresentava evidentes sinais de roubo, ocorrido durante a noite anterior. Os artigos roubados foram dois vasos sagrados, onde estavam guardadas as hóstias, imagens do Menino Jesus, de Nossa Senhora do Rosário, de Nossa Senhora do Egito e vestuário de outros santos. Logo após o alerta, nesse mesmo dia, foram revistadas todas as casas de Odivelas. Nos dias seguintes estendeu-se a revista à cidade de Lisboa e tendo a mesma chegado a quase todo o país: era a época da Inquisição, e a investigação ao roubo tomou proporções tais que o próprio Papa, Inocêncio XI, teve de intervir para impedir a violência sobre os cristãos-novos, através da suspensão do funcionamento dos tribunais religiosos durante 3 anos (1678-1681). Após um mês de intensas buscas e múltiplas inquirições, em 16 de Junho de 1671 foi encontrado parte do roubo escondido num silvado, no local onde mais tarde foi construído o Padrão do Senhor Roubado.

Os suspeitos do roubo foram muitos mas o verdadeiro autor do roubo foi apanhado por acaso, no dia 16 de Outubro, quando tentava roubar galinhas no Mosteiro de S. Dinis. Como trazia com ele alguns objetos do roubo da Igreja de Odivelas, logo se percebeu que era este o ladrão da Igreja. O roubo foi efectuado por António Ferreira, um pobre diabo que vivia sozinho em estado de miséria. António Ferreira confessou o crime um dia depois da sua prisão. Desde o dia da prisão de António Ferreira até à sua sentença, durante o processo inquisitorial, foi objecto de tortura, mesmo após já haver confessado.

A sentença inquisitorial do réu confesso foi executada no dia 23 de Novembro de 1671, constou em garroteá-lo e depois queimá-lo.

Toda esta história está retratada em 12 painéis de azulejos, em estilo de banda desenhada, no Padrão do Senhor Roubado. Os painéis de azulejos por estarem muito mal tratados, em Novembro de 2018, foram substituídos por réplicas do original.

Hoje, este Padrão é um lugar de culto onde muitos crentes vão ao encontro da fé.

Fonte: Wikipédia

Pedro Santos

José Barroso disse...

Agradeço ao Pedro Santos (que não conheço) a pesquisa da história do Senhor Roubado.
Apenas conheço a rotunda por passar lá (poucas vezes, quando vamos a casa de familiares), visto que a minha residência se distribui por Santarém e Coimbra. Também não conheço a Igreja (se é que ainda existe), nem o Padrão.
Impressionou-me foi a sentença de que foi objeto o ladrão! E, já agora, aproveito para referir que a "Santa" Inquisição, como se diz atualmente da justiça, não tinha "medo dos miseráveis, mas tinha muito medo dos poderosos"! E pergunta-se: mas será que alguma vez foi diferente?
A morte por garrote, forma de execução, penso que, medieval, é, aliás, uma, entre várias, das maiores vergonhas da justiça! Todavia, em 1975 era usada em Espanha, ano em que Franco, pouco antes de morrer, mandou garrotear dois patriotas Bascos, Garmendia e Otaegui. Ainda hoje me toca esse "feito" do pequeno ditador espanhol!
Mais uma vez: "Era assim naquele tempo".
Abraços, hã!
JB