quinta-feira, 28 de abril de 2022

O nosso falar: à lhana

O dia estava ventoso e ameaçava chuva. Saí de casa para o Ribeiro de Dom Bento, mas voltei a entrar, exclamando para a minha mulher:

- Ia à lhana, com este tempo!

Muni-me de guarda-chuva e casaco e voltei a sair, surpreendido pela expressão que me saíra da boca, que já não ouvia há tanto tempo.

Quase jurava não a encontrar no dicionário, mas foi fácil. Lhana significa simples, despretensioso, sincero, amável...

Sair de casa à lhana significará então ir vestido/equipado de forma simples, despretensiosa, sem grandes roupas ou equipamentos (guarda-chuva, boina, chapéu...).

José Teodoro Prata

2 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Será da idade? Também me acontece com frequência virem-me à boca termos que já nem me lembrava que existiam. Há dias andei a cortar uns ramos laterais duma árvore do jardim que estavam a cair sobre uma laranjeira. Quando desci da escada e olhei de longe não gostei do aspeto da árvore e disse só cá para mim: «Não ficou nada bem, com aqueles penoucos lá no meio; também têm que ser cortados.» Ainda estão à espera, porque são muito altos, mas hão de ir qualquer dia.

José Barroso disse...

Existe a palavra "lhana" (feminino de "lhano") que significa, como é dito, "simples", "afável", "singelo"...
Logo, "à lhana", expressão que usamos mais do que a palavra sozinha "lhana", aponta, com efeito, no sentido referido: "à vontade", "sem formalidade"...
Eu, porém, por semelhança fonética uso (ou usava), em certas circunstâncias, no mesmo sentido, a palavra "vergalhana", ou, mais propriamente, a expressão "à vergalhana" que, afinal, não existe com aquele significado.
Uma coisa é certa, o nosso idioma, como se sabe, é muito rico! E Camões não fica, em nada, atrás de Shakespeare, Cervantes, Vítor Hugo ou Goëthe. Embora, já se tenha ouvido dizer a alguns especialistas (em românicas) que as línguas latinas são algo mais ricas que as germânicas, incluindo-se nestas, como antigamente se fazia, o Inglês.
Mas também é sabido que há outras opiniões! À sua maneira, todas são ricas e, se calhar, tudo depende da subjetividade de cada um! Também é certo que, sobretudo, em trabalhos académicos, para se apresentar o sentido exato de um termo, muitas vezes se recorre à sua origem. Quantas vezes se faz isso com palavras em latim! Há, porém, autores alemães (mormente na filosofia) que dizem que as palavras (pelo menos algumas), usadas na sua língua, não podem ser traduzidas. E é um facto que, a esse nível (académico), também se faz com o alemão o que se costuma fazer com o latim.
Já gora gostava de dizer (excluindo aqui a poesia) que, se foi o Eça que fixou o português moderno, já, o maior mestre foi, para mim, está claro, o Aquilino, com o seu rico léxico popular, que mescla, profusamente, com o erudito. Acrescentaria outras coisas, mas fico por aqui.
Abraços, hã!
JB.