terça-feira, 9 de julho de 2024

Casal da Fraga

O Casal da Fraga não é um casal mas três: Casal do Baraçal, Casal da Fraga e Casal dos Ramos. Num passado recente existia ainda o Casal do Monte do Surdo, que agora sobrevive apenas nas cadernetas prediais, estando na linguagem comum incorporado no Casal da Fraga.

Há cerca de 300 anos, haveria apenas uma família de proprietários em cada casal (exceto no do Baraçal, que não surge nas fontes).  Todo o vale onde corre o ribeiro que atravessa a estrada perto do entroncamento para os Pereiros e Partida era propriedade do Conde de São Vicente, sendo a mais rica das que tinha na freguesia. Os rendeiros viviam na casa, agora em ruínas, que existe um pouco abaixo do referido entroncamento. O mais ilustre destes rendeiros foi João Rodrigues Lourenço Caio, natural do Louriçal, que casara com a filha do rendeiro anterior, José Leitão Paradanta. Chegou ao importante cargo local de Capitão de Ordenanças da Vila, no tempo das Invasões Francesas (1807-1812).

No Casal da Fraga, numa casa que existiria na zona da atual residência do Comissário Barroso ou nas proximidades, moraria Duarte da Fraga, cerca de 1700, e outros Fragas ali continuaram a viver, ao longo de todo o século XVIII. Na casa em frente, que foi do sr. Miguel Leitão e hoje é do filho Pe. José Augusto, existem as mais antigas oliveiras de São Vicente. Fraga designa uma rocha ou uma forja de ferreiro. Qual destas terá dado o nome ao casal? Ou nenhuma delas e Fraga vem do apelido familiar desta família que ali viveu, com esse apelido, mais de um século?

Do Casal dos Ramos veio a esposa de Manuel Rodrigues Fraga, chamada Luísa Maria Leitão (nascida cerca de 1750), o que nos permite concluir que ali viveria pelo menos outra família.

Certo é que o casal foi crescendo, beneficiando do estrangulamento urbano provocado na Vila pelas casas senhoriais que detinham a maioria dos terrenos em redor da povoação: Casa Cunha, Visconde de Tinalhas e Casa Conde.

Em 1970, um ano após a passagem do Presidente do Conselho pela Vila, a inaugurar a barragem e os melhoramentos que a acompanharam (eletricidade e redes de água e esgotos), os habitantes do Casal decidiram que já era tempo de acabar com um dos maiores perigos que haviam vivido durante séculos: a travessia da ribeira pelas passadouras. Fizeram um peditório entre si e contruíram um pontão sobre a ribeira, mais tarde alargado pela Junta de Freguesia. Só o projeto custou 100 contos! E quando começaram as multas por lavar roupa na ribeira, as mulheres do Casal foram com as da Vila numa camioneta a Castelo Branco, falar com o Governador Civil e o Presidente da Câmara. Não ganharam lavadouros, como as da Vila, mas não houve mais multas.

Anos depois, com a Vila já eletrificada, tiveram de pagar do seu bolso a rede de postes e fios que finalmente levou a eletricidade a suas casas. Até 1980, dos poderes talvez apenas tenham recebido de graça a fonte que a junta edificara, em 1960, no que ficou a ser chamado o Largo da Fonte. Até o pequeno pontão para o Casal do Baraçal, sobre o ribeiro que desce do Monte do Surdo para a Ribeirinha, foi construído pelo António Pereira.

Atualmente, o Casal da Fraga tem arruamentos pavimentados, redes de água e esgotos, muitas casas novas ou recuperadas, uma fábrica de engarrafamento de água, um restaurante, uma taberna, uma associação que organiza a festa da Santa Bárbara, com sede própria, e ganhou o estatuto de uma povoação autónoma e não apenas um sítio da Vila. Tem pouca população jovem, como todo o interior, mas mantém o espírito bairrista e ativo que sempre o caraterizou.

José Teodoro Prata

2 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Cá para mim, o Casal da Fraga deve mesmo o nome ao suposto primeiro morador (Duarte da Fraga, falecido em 1605). Esta minha convicção vem do facto de o Casal, andes de se chamar Casal da Fraga, se ter chamado Duarte da Fraga. Mas, certezas, deve ser difícil encontrá-las, dada a pouca informação.
Certezas, certezas, só mesmo sobre a raça do povo, que, sem grandes ajudas, conseguiu ir vencendo as dificuldades e mantendo, como diz o José Teodoro, o espírito bairrista e ativo de sempre. Para mim, sobretudo, o espírito solidário que faz com que, quando algum precisa, todos se prontificam a ajudar.

M. L. Ferreira disse...

A data de falecimento de Duarte da Fraga não é 1605, mas 1695. Foi ao lado...