Com esta postagem, concluo a publicação de informação de todos os combatentes da freguesia de São Vicente da Beira que participaram na I Guerra Mundial (1914-18), no cenário europeu ou em África (Angola e Moçambique). A recolha foi realizada pela Maria Libânia Ferreira e publicada no livro Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra, editado em 2018. Fica assim online toda a informação que conseguimos obter sobre cada um deles.
Silvestre Serra
Silvestre Serra nasceu no dia 26 de julho de
1893. Era filho de Luciano Serra e Ana Bárbara, jornaleiros, residentes no
Casal da Serra.
Mobilizado para fazer parte do CEP, embarcou
para França, no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 7.ª Companhia do 2.º
Batalhão do 2.º Regimento de Infantaria 21, com o posto de soldado n.º 639 e
placa de identidade n.º 9544-A.
Sobre o período em que esteve em França, o seu
boletim individual refere apenas o seguinte:
a)
Baixa
ao hospital, em 8 de maio de 1918;
b)
Licença
em 12 de junho de 1918, por um período de 30 dias;
c)
Baixa
à Ambulância n.º 3, em 30 de setembro; alta em 6 de outubro, a fim de ser
repatriado;
d)
Embarcou
para Portugal, a bordo do navio Gil Eanes, no dia 12 de outubro de 1918.
Silvestre Serra vinha muito doente quando
chegou a Portugal. Mesmo assim, dizem que veio sozinho de comboio, de Lisboa à
terra, e teve que fazer o caminho todo a pé, desde Castelo Novo até ao Casal da
Serra. Contam que, quando chegou ao Cavaco, lugar onde a família morava e que
fica ainda mais acima do Casal da Serra, na encosta da Gardunha, vinha quase a
desfalecer. Antes de entrar em casa, ainda foi espreitar o curral do porco e
das vacas, e só depois subiu as escadas do balcão, já muito a custo, e sentou-se
em cima duma arca que havia logo à entrada da sala. A mãe, quando encarou com
ele, mal queria crer que era o seu filho, de tão desfigurado que estava. Mas
assim que caiu em si, deu tantos gritos que toda a vizinhança acorreu, a ver o
que se passava.
Silvestre Serra já pouco saiu de casa. Morreu a 16 de novembro de 1918, um mês após ter regressado a Portugal. Tinha 25 anos de idade. Dizem que a mãe ficou cega de tantas lágrimas chorar.
(Pesquisa feita com a colaboração de vários moradores
do Casal da Serra, que se lembram de ouvir contar…)
Maria Libânia Ferreira
Do livro Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
3 comentários:
Este caso encerra em si toda a tragédia da guerra, em que os mais humildes são os que mais sofrem.
«A mãe ficou cega de tantas lágrimas chorar.» Foi assim que mo contaram, mas pode ser apenas uma metáfora para os horrores daquela guerra (de todas as guerras, que, como dizia o senhor António matias, são a pior coisa que há no mundo), onde tanta gente morreu, tantos traumas deixou para a vida em muitos do que sobreviveram, tanto sofrimento causou a grande parte das família portuguesas.
Um elemento comum às conversas que fui tendo com os familiares dos combatentes na G:G: foi que eles falavam pouco dos tempos que passaram em França: seria reviver
situações muito dolorosas.
Não admira que muitos dos combatentes da Guerra Colonial tenham também dificuldade em falar desses tempos. Talvez por isso não exista ainda muita literatura sobre o assunto.
ML Ferreira
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